Uma nota prévia:
Este blog não tem tido a regularidade (que nunca foi muita de resto) que teve em outros tempos.
Reflectindo, essencialmente tenho escrito aqui sobre coisas variadas e essencialmente criticado a hipocrisia e falta de senso comum das pessoas de Portugal.
Contudo, cada vez mais me falta a vontade de me preocupar com isso, porque, na verdade, quem é que quer saber do que eu tenho ou não para dizer? E, por outro lado, sinto cada vez menos necessidade de vir aqui proclamar a minha discordância ou opinião.
De qualquer das formas, isto é apenas uma pequena nota para qualquer leitor deste blog que eventualmente o acompanhe.
Quanto à critica. Há várias criticas que me apetecem fazer. Mas na verdade, como descrito acima, falta-me vontade de falar dessas coisas. Parece-me uma perda de tempo desnecessária.
Posto isto, passo à razão de ser deste post.
Porque gosto de Rurouni Kenshin? Há tantas razões...
Rurouni Kenshin é um animé, relativamente antigo (1996), mais conhecido para estes lados como Samurai X. Foi transmitido na TVI (ou se calhar ainda era a 4 na altura). Na altura da transmissão eu devia ter uns 11 anos, talvez, e lembrava-me vagamente dessa personagem que era um samurai chamado Kenshin e que tinha uma cicatriz em forma de cruz na face. Até há pouco tempo era apenas uma memória vaga, mas que sempre relembrei com algum carinho porque realmente gostava dessa personagem. Contudo, recentemente, a minha querida Efémera, falou-me de um animé sobre um samurai que, pela descrição, me chamava alguma atenção, toda ela confirmada pelo nome. Rurouni Kenshin. Foi assim com alegria que vimos os dois este animé de 95 episódios que passam a voar. E assim também relembrei o porquê do meu carinho pela personagem.
Este animé conta a história de um samurai que viveu durante o Bakumatsu (período correspondente à queda do Shogunato e passagem ao Império Meiji no Séc. XIX). Bakumatsu foi um período de lei marcial em que era cada um por si, basicamente. Kenshin era um hitokiri (traduzido no português como esquartejador, mas na verdade seria mais um assassino profissional) temido pela sua habilidade de espadachim e conhecido como Hitokiri Battousai (Battousai vem de Battoujutsu, que é o ataque ao desembainhar a espada, no qual Kenshin é especialista). O animé passa-se 10 anos depois do Bakumatsu, no período Meiji de paz e Kenshim é um rurouni (wanderer em inglês que nas nossas traduções era vagabundo). É contudo um rurouni que tem um compromisso de não matar, após o período sangrento que havia atravessado, e que se comprometeu a defender as pessoas com que se cruzasse usando a sua espada com gume invertido (sakabato).
É neste contexto que se desenvolve o animé. Kenshin encontra pessoas das quais fica amigo, contudo no seu coração permanecem todos os problemas de ter sido um assassino temido durante o Bakumatsu. Tão característica cicatriz na cara, faz com que o seu passado nunca seja esquecido, aparecendo, sucessivamente, adversários com sede de derrotar o lendário hitokiri. O enredo desenvolve-se de forma bastante interessante, mas não vou descrever aqui porque vocês podem querer ver depois.
Apenas vou dizer que o que me faz gostar bastante deste animé são várias coisas.
A personalidade de Kenshin Himura é algo que me comove profundamente. Aqui está alguém que percorreu um caminho de sangue, que era um espadachim formidável e o mais temido, que deixou um rasto de sangue e que desapareceu após o Bakumatsu. Apesar disso é a personagem mais amável, razoável e compreensiva. Não obstante todos os conflitos entre ser um assassino ou não e todos os problemas e oportunidades que o seu passado lhe apresente, ele mantém-se fiel ao seu voto. Não matar. A generosidade desta personagem é enorme e, quando vejo, só tenho vontade que o deixem em paz e parem de o atormentar com o passado que já é de si um tormento constante.
A camaradagem neste animé é algo que também me satisfaz bastante. A forma como a lealdade é um princípio tão importante e tão indispensável para algumas personagens que se mantêm juntas, aconteça o que acontecer.
De entre as personagens há delas simplesmente apaixonantes, para além do próprio Kenshin.
Kaoru Kamiya, é a principal companheira de Kenshin durante o animé e a sua determinação junto com a sua atitude um tanto ou quanto desajeitada fazem com que esta seja uma personagem bastante magnética e com a qual simpatizo muito.
Sanosuke Sagara é o lutador que luta por lutar e que é um bocado (bastante) "reckless" mas que no seu âmago valoriza a lealdade pelos seus amigos, pelos seus princípios e pelo seu passado. E nunca desiste, nem rejeita uma boa luta, claro.
Saito Hajime. Um antigo capitão dos Shinsengumi (brigada especial de samurais pro-shogunato). Espadachim fantástico que segue o seu lema à risca. O seu lema é Aku Soku Zan (tradução livre seria "eliminar o mal imediatamente"). No período Meiji passa a ser um polícia especial mas o seu lema é o mesmo. A sua polaridade com Kenshin (eram inimigos durante o Bakumatsu) é bastante interessante de seguir e a luta que existe entre os dois durante o animé é memorável. Eu gosto da convicção desta personagem. A forma como não se desvia dos seus ideais por nada e como compreende que o mundo é diferente, mas os ideais dele são o mais importante. E a voz dele (em japonês) é algo por demais adequado ao personagem. De resto a voz é adequada em todas as outras personagens, mas aqui um pouco mais que no resto.
Hiko Seijuro. O mestre de Kenshin. Uma pessoa simplesmente demasiado espectacular para existir. Um homem extremamente forte e inteligente, mas que prefere estar afastado de tudo a fazer potes de cerâmica e a meditar, em vez de usar as suas capacidades em prol do que quer que seja. A sua leve arrogância e a perfeita consciência das suas super capacidades tornam esta personagem absolutamente irresistível.
Finalmente, e finda a parte das personagens, uma coisa que me agrada muito neste animé é a conexão com a história real do Japão.
O Bakumatsu foi de facto um período verdadeiro. Aconteceu de facto e neste período a luta nas ruas centrava-se entre Shinsengumi (pro-shogunato) VS Clãs pro-imperialistas.
Os Shinsengumi existiram de verdade e o comandante do 3º Esquadrão chamava-se Saito Hajime. Este era de facto um espadachim fora do normal temido entre todos e até mesmo pelos próprios Shinsengumi, pois Saito Hajime matou outros Shinsengumi por estes estarem a fugir aos ideais do grupo, daí provavelmente na versão ficcionada o autor do Manga lhe tenha dado o lema de Aku Soku Zan, porque o verdadeiro Saito Hajime guiava-se por essa directiva. O verdadeiro Saito Hajime também se tornou num agente especial da polícia japonesa, tal como no animé.
Os Clãs Imperialistas lutavam nas ruas e usavam Hitokiris para assassinatos especiais. Um Hitokiri era alguém com capacidades de espadachim fora do comum, capazes de matar os samurais "normais" de forma muito fácil e quase sem esforço. Estes Hitokiri eram então usados para assassinar figuras chave do Shogunato, durante a noite.
Kenshin Himura é baseado num Hitokiri que existiu chamado Gensai Kawakami. Kawakami foi um Hitokiri que se tornou conhecido pela sua estrutura franzina, quase efeminada (tal como Kenshin) e especializou-se no seu Battoujutsu (tal como Kenshin). Criou o seu próprio estilo chamado Shiranui que consistia em prever os movimentos do adversário e usar da rapidez que o seu corpo frazino proporcionava para atacar mais depressa. (Kenshin Himura usa o estilo fictício Hiten Mitsurugi, que podia ser descrito com as mesmas palavras que descrevi o Shiranui).
Esta conexão com a verdadeira história do Japão é fascinante. Muitas das temáticas da história do animé têm a ver com o ajuste que os samurais tiveram de fazer entre o Bakumatsu (período de guerra total) e o período Meiji (período de paz onde era proibido andar com espada). Muitos desses samurais foram presos ou assassinados e os Hitokiri tiveram na sua maior parte o mesmo destino. Em Rurouni Kenshin o problema do samurai inadaptado é constante e esse problema também foi constante durante os primeiros anos da era Meiji real.
Ao rever este animé percebo perfeitamente porque é que enquanto criança gostava tanto de o ver e hoje ainda gosto mais!
P.S. - Se houver alguma incorrecção nos termos japonês, não se preocupem em fazer notar, não escaparei impune de qualquer das maneiras. Há-de haver uma certa pessoa que se encarregará de me dar uma boa palestra acerca de qualquer erro que eu dê :)
Este blog não tem tido a regularidade (que nunca foi muita de resto) que teve em outros tempos.
Reflectindo, essencialmente tenho escrito aqui sobre coisas variadas e essencialmente criticado a hipocrisia e falta de senso comum das pessoas de Portugal.
Contudo, cada vez mais me falta a vontade de me preocupar com isso, porque, na verdade, quem é que quer saber do que eu tenho ou não para dizer? E, por outro lado, sinto cada vez menos necessidade de vir aqui proclamar a minha discordância ou opinião.
De qualquer das formas, isto é apenas uma pequena nota para qualquer leitor deste blog que eventualmente o acompanhe.
Quanto à critica. Há várias criticas que me apetecem fazer. Mas na verdade, como descrito acima, falta-me vontade de falar dessas coisas. Parece-me uma perda de tempo desnecessária.
Posto isto, passo à razão de ser deste post.
Porque gosto de Rurouni Kenshin? Há tantas razões...
Rurouni Kenshin é um animé, relativamente antigo (1996), mais conhecido para estes lados como Samurai X. Foi transmitido na TVI (ou se calhar ainda era a 4 na altura). Na altura da transmissão eu devia ter uns 11 anos, talvez, e lembrava-me vagamente dessa personagem que era um samurai chamado Kenshin e que tinha uma cicatriz em forma de cruz na face. Até há pouco tempo era apenas uma memória vaga, mas que sempre relembrei com algum carinho porque realmente gostava dessa personagem. Contudo, recentemente, a minha querida Efémera, falou-me de um animé sobre um samurai que, pela descrição, me chamava alguma atenção, toda ela confirmada pelo nome. Rurouni Kenshin. Foi assim com alegria que vimos os dois este animé de 95 episódios que passam a voar. E assim também relembrei o porquê do meu carinho pela personagem.
Este animé conta a história de um samurai que viveu durante o Bakumatsu (período correspondente à queda do Shogunato e passagem ao Império Meiji no Séc. XIX). Bakumatsu foi um período de lei marcial em que era cada um por si, basicamente. Kenshin era um hitokiri (traduzido no português como esquartejador, mas na verdade seria mais um assassino profissional) temido pela sua habilidade de espadachim e conhecido como Hitokiri Battousai (Battousai vem de Battoujutsu, que é o ataque ao desembainhar a espada, no qual Kenshin é especialista). O animé passa-se 10 anos depois do Bakumatsu, no período Meiji de paz e Kenshim é um rurouni (wanderer em inglês que nas nossas traduções era vagabundo). É contudo um rurouni que tem um compromisso de não matar, após o período sangrento que havia atravessado, e que se comprometeu a defender as pessoas com que se cruzasse usando a sua espada com gume invertido (sakabato).
É neste contexto que se desenvolve o animé. Kenshin encontra pessoas das quais fica amigo, contudo no seu coração permanecem todos os problemas de ter sido um assassino temido durante o Bakumatsu. Tão característica cicatriz na cara, faz com que o seu passado nunca seja esquecido, aparecendo, sucessivamente, adversários com sede de derrotar o lendário hitokiri. O enredo desenvolve-se de forma bastante interessante, mas não vou descrever aqui porque vocês podem querer ver depois.
Apenas vou dizer que o que me faz gostar bastante deste animé são várias coisas.
A personalidade de Kenshin Himura é algo que me comove profundamente. Aqui está alguém que percorreu um caminho de sangue, que era um espadachim formidável e o mais temido, que deixou um rasto de sangue e que desapareceu após o Bakumatsu. Apesar disso é a personagem mais amável, razoável e compreensiva. Não obstante todos os conflitos entre ser um assassino ou não e todos os problemas e oportunidades que o seu passado lhe apresente, ele mantém-se fiel ao seu voto. Não matar. A generosidade desta personagem é enorme e, quando vejo, só tenho vontade que o deixem em paz e parem de o atormentar com o passado que já é de si um tormento constante.
A camaradagem neste animé é algo que também me satisfaz bastante. A forma como a lealdade é um princípio tão importante e tão indispensável para algumas personagens que se mantêm juntas, aconteça o que acontecer.
De entre as personagens há delas simplesmente apaixonantes, para além do próprio Kenshin.
Kaoru Kamiya, é a principal companheira de Kenshin durante o animé e a sua determinação junto com a sua atitude um tanto ou quanto desajeitada fazem com que esta seja uma personagem bastante magnética e com a qual simpatizo muito.
Sanosuke Sagara é o lutador que luta por lutar e que é um bocado (bastante) "reckless" mas que no seu âmago valoriza a lealdade pelos seus amigos, pelos seus princípios e pelo seu passado. E nunca desiste, nem rejeita uma boa luta, claro.
Saito Hajime. Um antigo capitão dos Shinsengumi (brigada especial de samurais pro-shogunato). Espadachim fantástico que segue o seu lema à risca. O seu lema é Aku Soku Zan (tradução livre seria "eliminar o mal imediatamente"). No período Meiji passa a ser um polícia especial mas o seu lema é o mesmo. A sua polaridade com Kenshin (eram inimigos durante o Bakumatsu) é bastante interessante de seguir e a luta que existe entre os dois durante o animé é memorável. Eu gosto da convicção desta personagem. A forma como não se desvia dos seus ideais por nada e como compreende que o mundo é diferente, mas os ideais dele são o mais importante. E a voz dele (em japonês) é algo por demais adequado ao personagem. De resto a voz é adequada em todas as outras personagens, mas aqui um pouco mais que no resto.
Hiko Seijuro. O mestre de Kenshin. Uma pessoa simplesmente demasiado espectacular para existir. Um homem extremamente forte e inteligente, mas que prefere estar afastado de tudo a fazer potes de cerâmica e a meditar, em vez de usar as suas capacidades em prol do que quer que seja. A sua leve arrogância e a perfeita consciência das suas super capacidades tornam esta personagem absolutamente irresistível.
Finalmente, e finda a parte das personagens, uma coisa que me agrada muito neste animé é a conexão com a história real do Japão.
O Bakumatsu foi de facto um período verdadeiro. Aconteceu de facto e neste período a luta nas ruas centrava-se entre Shinsengumi (pro-shogunato) VS Clãs pro-imperialistas.
Os Shinsengumi existiram de verdade e o comandante do 3º Esquadrão chamava-se Saito Hajime. Este era de facto um espadachim fora do normal temido entre todos e até mesmo pelos próprios Shinsengumi, pois Saito Hajime matou outros Shinsengumi por estes estarem a fugir aos ideais do grupo, daí provavelmente na versão ficcionada o autor do Manga lhe tenha dado o lema de Aku Soku Zan, porque o verdadeiro Saito Hajime guiava-se por essa directiva. O verdadeiro Saito Hajime também se tornou num agente especial da polícia japonesa, tal como no animé.
Os Clãs Imperialistas lutavam nas ruas e usavam Hitokiris para assassinatos especiais. Um Hitokiri era alguém com capacidades de espadachim fora do comum, capazes de matar os samurais "normais" de forma muito fácil e quase sem esforço. Estes Hitokiri eram então usados para assassinar figuras chave do Shogunato, durante a noite.
Kenshin Himura é baseado num Hitokiri que existiu chamado Gensai Kawakami. Kawakami foi um Hitokiri que se tornou conhecido pela sua estrutura franzina, quase efeminada (tal como Kenshin) e especializou-se no seu Battoujutsu (tal como Kenshin). Criou o seu próprio estilo chamado Shiranui que consistia em prever os movimentos do adversário e usar da rapidez que o seu corpo frazino proporcionava para atacar mais depressa. (Kenshin Himura usa o estilo fictício Hiten Mitsurugi, que podia ser descrito com as mesmas palavras que descrevi o Shiranui).
Esta conexão com a verdadeira história do Japão é fascinante. Muitas das temáticas da história do animé têm a ver com o ajuste que os samurais tiveram de fazer entre o Bakumatsu (período de guerra total) e o período Meiji (período de paz onde era proibido andar com espada). Muitos desses samurais foram presos ou assassinados e os Hitokiri tiveram na sua maior parte o mesmo destino. Em Rurouni Kenshin o problema do samurai inadaptado é constante e esse problema também foi constante durante os primeiros anos da era Meiji real.
Ao rever este animé percebo perfeitamente porque é que enquanto criança gostava tanto de o ver e hoje ainda gosto mais!
P.S. - Se houver alguma incorrecção nos termos japonês, não se preocupem em fazer notar, não escaparei impune de qualquer das maneiras. Há-de haver uma certa pessoa que se encarregará de me dar uma boa palestra acerca de qualquer erro que eu dê :)