O Presidente Marcelo

Quando Marcelo Rebelo de Sousa se candidatou à presidência, eu fui dos que fiz campanha contra. Na verdade porque Marcelo defendeu coisas que deixou cair após ser presidente.

Quando MRS se candidatou dizia que estava tudo bem na Europa e que lutar por uma mudança seria ficar como a Grécia e, esse argumento foi o que mais me irritou, em par com um certo sentimento, que continuo a ter, que ele esteve a planear a presidência há muito tempo.

Após a eleição, MRS é diferente. De imediato reconheceu que a UE tem problemas que devem ser resolvidos e tornou-se um presidente próximo das lutas do povo, sem virar a cara e sem sacudir responsabilidades.

Defendeu também um cenário de estabilidade institucional, para desalento do PSD e PP, que estavam à espera de ter um aliado incondicional na busca de dinamitar a "geringonça". Isto, porém, é confundido com apoio, e devemos recordar que MRS é um social democrata e vai ser sempre, com alguma naturalidade, por isso, aguardemos os próximos episódios.

Acima de tudo o maior mérito de MRS é mostrar que é possível ser um presidente com intervenção, mas sem criar instabilidade institucional. O que, a meu ver, era óbvio, mas espero que assim se quebre o tabu de que os presidentes devem estar em silêncio e serem apenas uma figura de estado sem qualquer relevância. O papel do presidente é importante e deve ser vincado a cada intervenção e o presidente deve ter, não uma opinião, mas uma agenda para cada um dos assuntos importantes e deve agir de acordo, e é isso que MRS, tem feito.

Até ver, bem. Espero que continue assim.

Democratização da opinião positiva

Ultimamente tenho tido dificuldades em escrever posts aqui, porque tenho dificuldades em começar os posts.

Assim sendo vou directo ao assunto e vai da forma que calhar.

Já estou farto do ambiente" artsie fartsie" que se vive em Portugal e, julgo, que em grande parte da Europa. Somos todos artistas e somos todos flocos de neve especiais, porque pegamos numa guitarra e decidimos tocar e ter uma banda. Esperamos, automaticamente ter reconhecimento e zero críticas negativas. Temos de receber apoio incondicional e apelar ao respeito pelas diferenças.

Se bem que, o problema maior vem em consequência.

Este tipo de atitude, em que estamos constantemente a insistir no respeito pela diferença centra-se, muitas vezes, no facto de ao não sermos especiais querermos ter respeito na mesma.


Isto é, editamos algo, uma música, por exemplo, e, porque o fizemos e gostamos do que fizemos, toda a gente tem de gostar e ninguém pode dizer o contrário. Porque se disser, é um hater.
Mas se dissermos bem, está tudo ok. O mundo continua a girar, ainda que eu nem sequer tenha ouvido realmente a música, interessa é que a opinião seja positiva.

O problema aqui é a democratização da opinião positiva. Se adorares cegamente está tudo bem, mas se criticares com propósito és um hater, porque supostamente estás a ingerir-te na susceptibilidade artística do indivíduo que criou a música. E isso não é permitido. É não gostar por não gostar. E uma posição deste género rapidamente tornará a pessoa num rejeitado da sociedade sem espaço em qualquer fórum ou colectividade.

Este ambiente pós-modernista já está a ficar com barba e a cheirar mal. Um ambiente em que a única coisa que se pode defender com convicção é o respeito pela diferença. Só que se perde o respeito ao direito de lutar contra algo com veemência, porque isso não respeita a diferença.

Se alguém estiver a dizer algo com que eu não concorde eu não posso exaltar-me na defesa do meu ponto. tenho de ser democrático e dar tempo de antena ao ponto oposto. E depois esperar pela minha vez para falar. Não se pode ser apaixonado. Não se pode ser fervoroso sobre nada. Não, isso é demasiado agressivo e não devemos ser tão intensos. Porque no fundo, o que se defende hoje em dia é um ambiente sem verdades objectivas. Porque tudo é subjectivo e então eu não posso chegar e dizer que algo está errado. Não, tenho antes de dizer que respeito esse algo, mas que discordo educadamente. E isto é uma verdadeira palhaçada. Foi por acaso assim que se fez o 25 de Abril? (ou qualquer outra revolução ou mudança para o efeito, o que não quer dizer que eu ache que seja necessário, neste momento, uma grande revolução).

E assim vivemos, neste clima de paz podre em que ressentimentos surgem e crescem enquanto nós acreditamos que está tudo bem, porque ninguém nos contraria e ninguém nos esfrega a verdade na cara, porque, afinal, não há uma verdade. Há muitas verdades diferentes.

Esta questão da verdade objectiva ou subjectiva é muito importante. Porque é impossível unir quem quer que seja em prol de uma causa, se afinal todas as causas são subjectivas. Isso quer dizer que se eu quiser lutar contra o capitalismo, tenho de o fazer por minha conta e risco, porque para outras pessoas, subjectivamente, poderá estar tudo bem, apesar de incontáveis análises e algum bom senso dizerem o contrário.

Depois chegamos a este ponto em que o associativismo é apenas um passatempo. Organizamos concertos, e umas noites de piadolas e está tudo bem. De vez em quando podemos ouvir uns artistas a falar, sobre sabe-se lá o quê, e vamos para casa artisticamente enriquecidos, supostamente.

O associativismo deixou de servir um propósito maior. Um propósito em que se melhorava a vida das pessoas. Agora é uma cagança para meia dúzia de palhaços se poderem gabar de organizarem algo. E uma plataforma para uma clique reservada poder dizer que faz parte de algo, que no fundo, não é nada, porque nada traz à realidade das pessoas. Apenas as ideias do costume, respeitar as diferenças e ir votar se quisermos mudança, e irmos beber uns copos à sexta e sábado à noite enquanto o nosso braço dá uma volta ao mundo para dar uma palmadinha nas nossas próprias costas.

Este tipo de mentalidade só está a entorpecer a população e as suas mentes. Estamos cada vez  mais alienados a esta falsa ideia de liberdade e felicidade enquanto tudo à nossa volta está a mudar a uma velocidade incrível. E, no entanto, continuamos a preferir passar tempo a massajar os nossos próprios egos, fingindo que está tudo bem e não há nada a mudar.

Este é talvez um dos maiores perigos da sociedade actual e há que fazer algo para o contrariar!