Pessoalmente a minha vontade de ser sociável e conviver com quem quer que seja, para além da minha namorada e da minha família, é cada vez menor.
Sinto-me excluído do rumo que tudo tomou ao longo da minha vida. Auto-excluido talvez.
A verdade é que não me lamento por isso. No fim de todos estes anos acho que fiz muitas coisas que queria fazer e sinto que tenho um rumo com o qual devo perseverar. E se isso não me levar a lado nenhum, bem, foi o meu rumo e não o rumo que outros me impuseram ou sugeriram.
Só há uma coisa que ainda não consegui e gostava de o fazer. Gostava que ninguém soubesse onde eu estou. Gostava de ser uma memória bem esbatida para as pessoas que conviveram comigo. Sinto que o passado, ou melhor, o grupo de pessoas e experiências partilhadas no passado, não são mais do que um fardo que carrego inutilmente e que volta e meia aparece para me assombrar. Aparece no sentido em que me lembro disso esporadicamente.
A verdade é que pouco me importa o que essas pessoas fazem ou dizem. Pouco me importa o que é feito delas e se eu tivesse alguma coisa a dizer a essas pessoas, diria que não me chateassem e que se me vissem na rua, não me interpelassem. Isto é bastante arrogante, eu sei, mas a verdade é que eu não quero saber. Já me bastou a desilusão de os conhecer. Já me basta a mágoa de ter desperdiçado o meu tempo com pessoas de merda.
Lembro-me de andar na catequese. Nessa altura fazia o caminho a pé e são cerca de três ou quatro quilómetros. Pelo caminho de ida e volta era comum eu ser bastante gozado e às vezes até agredido pelos meus supostos amigos. Por isso a minha mãe ia sempre esperar por mim para voltar para casa comigo a pé.
Houve um dia, em que esses parvalhões vieram ter comigo e disseram que não iam gozar comigo e íamos fazer as pazes. Eu na minha burrice disse que sim e quando saí disse à minha mãe que ela podia ir para casa sozinha que eu ia depois com eles. Apenas para dias mais tarde voltar a ser gozado outra vez pelas mesmas pessoas.
Ainda hoje lamento ter dito à minha mãe para ir sozinha. A ela que fazia o sacrifício de ir ter comigo para me proteger. E eu desdenhei disso pela promessa vã de que ia ficar em paz com aqueles burros de merda.
Eu sei que obviamente eu era inocente e sei também que a minha mãe já nem se deve lembrar disso. Mas eu lembro-me e sempre que me lembro sinto-me triste. Certamente houve outras ocasiões em que não estive com a minha mãe para ir fazer outra coisa, mas esta está na minha memória porque eu vi os olhos da minha mãe quando lhe disse que ia depois. Os olhos de quem sabia que eu estava a caminhar para o buraco outra vez.
Por isso essas pessoas que, hoje em dia, não me dizem absolutamente nada, bem podem ir todas para o inferno. Fazem-me um grande favor em não me falarem. Aumentam a minha qualidade de vida em não ligarem nenhum.
Ainda oiço por vezes aquela lenga-lenga de "Ah mas as pessoas merecem outra oportunidade". Só que o problema é que eu já dei segundas oportunidades a muita gente. Porque é que haveria de voltar a dar agora?
Sempre que me imagino (apenas a título hipotético) num desses jantares de reunião vejo-me completamente de parte. Não porque seja melhor que eles. Mas sim porque sinto que não teria nada para dizer para além do trivial. Do género "Fiz isto e isto, estudei aqui e ali, trabalhei ali e acolá e agora estou a trabalhar em além" e pronto, fim de discurso.
Dentro destas pessoas que eu digo que me fazem um favor em não me dizer nada, há pessoas com quem eu gostaria de re-conectar de certa forma. Mas hoje, chego a algumas conclusões que me fazem sentir parvo por chegar a elas apenas agora. Eu, desde que me lembro, tenho o mesmo número de telemóvel. E praticamente toda a gente tem esse número (ou tinha). Pelo contrário eu nunca tive os números de ninguém para além de uma pessoa que era a única com quem me dava consideravelmente bem. E dessa única pessoa foi-me dado um número de alguém próximo a essa pessoa, o que obviamente resultou em Kommunikation Kaputt. Mas essa pessoa ficou com o meu número. E porque é que nunca mais disse nada? Porque é que tenho de ser eu a fazê-lo?
Obviamente fui convidado para um jantar de reunião e não fui. Será que devia ter ido? Para ver uma pessoa só? Uma pessoa que nunca mais me disse nada?
Sim eu sei. Eu se calhar sou tido como arrogante e como tendo a mania. Mas acontece que eu não tenho culpa de saber mais do que os outros e não tenho culpa de gostar de ensinar coisas às pessoas. Não o faço por mal. Se calhar se alguém estiver a falar sobre astronomia sou capaz de referir que a terra está a +/- 150,000,000 de km do sol entre outras coisas que sei. E não o faço por arrogância mas sim porque acho interessante. Mas se calhar dá a aparência de eu ter a mania. A verdade é que não me importa. Se alguém, por causa de coisas como essa, me classifica assim, que seja feliz.
E bem, no meio disto tudo sinto que há uma parede invisível que dificilmente ultrapassarei relativamente a estas e outras pessoas. Sinto que vou ser sempre visto como alguém arrogante.
Hoje em dia, dá a ideia que se não és visto morres. Se não apareces nas saídas regularmente e se não convives regularmente, desapareces. Já ninguém quer saber. Às vezes chegam a dizer que eu é que os estou a desconsiderar porque não apareci. Esquecem-se que uma pessoa trabalha. Que precisa de descansar e esquecem-se que nem toda a gente gosta de fazer as mesmas coisas. Mas enfim, nada disto interessa muito.
Sinto-me excluído do rumo que tudo tomou ao longo da minha vida. Auto-excluido talvez.
A verdade é que não me lamento por isso. No fim de todos estes anos acho que fiz muitas coisas que queria fazer e sinto que tenho um rumo com o qual devo perseverar. E se isso não me levar a lado nenhum, bem, foi o meu rumo e não o rumo que outros me impuseram ou sugeriram.
Só há uma coisa que ainda não consegui e gostava de o fazer. Gostava que ninguém soubesse onde eu estou. Gostava de ser uma memória bem esbatida para as pessoas que conviveram comigo. Sinto que o passado, ou melhor, o grupo de pessoas e experiências partilhadas no passado, não são mais do que um fardo que carrego inutilmente e que volta e meia aparece para me assombrar. Aparece no sentido em que me lembro disso esporadicamente.
A verdade é que pouco me importa o que essas pessoas fazem ou dizem. Pouco me importa o que é feito delas e se eu tivesse alguma coisa a dizer a essas pessoas, diria que não me chateassem e que se me vissem na rua, não me interpelassem. Isto é bastante arrogante, eu sei, mas a verdade é que eu não quero saber. Já me bastou a desilusão de os conhecer. Já me basta a mágoa de ter desperdiçado o meu tempo com pessoas de merda.
Lembro-me de andar na catequese. Nessa altura fazia o caminho a pé e são cerca de três ou quatro quilómetros. Pelo caminho de ida e volta era comum eu ser bastante gozado e às vezes até agredido pelos meus supostos amigos. Por isso a minha mãe ia sempre esperar por mim para voltar para casa comigo a pé.
Houve um dia, em que esses parvalhões vieram ter comigo e disseram que não iam gozar comigo e íamos fazer as pazes. Eu na minha burrice disse que sim e quando saí disse à minha mãe que ela podia ir para casa sozinha que eu ia depois com eles. Apenas para dias mais tarde voltar a ser gozado outra vez pelas mesmas pessoas.
Ainda hoje lamento ter dito à minha mãe para ir sozinha. A ela que fazia o sacrifício de ir ter comigo para me proteger. E eu desdenhei disso pela promessa vã de que ia ficar em paz com aqueles burros de merda.
Eu sei que obviamente eu era inocente e sei também que a minha mãe já nem se deve lembrar disso. Mas eu lembro-me e sempre que me lembro sinto-me triste. Certamente houve outras ocasiões em que não estive com a minha mãe para ir fazer outra coisa, mas esta está na minha memória porque eu vi os olhos da minha mãe quando lhe disse que ia depois. Os olhos de quem sabia que eu estava a caminhar para o buraco outra vez.
Por isso essas pessoas que, hoje em dia, não me dizem absolutamente nada, bem podem ir todas para o inferno. Fazem-me um grande favor em não me falarem. Aumentam a minha qualidade de vida em não ligarem nenhum.
Ainda oiço por vezes aquela lenga-lenga de "Ah mas as pessoas merecem outra oportunidade". Só que o problema é que eu já dei segundas oportunidades a muita gente. Porque é que haveria de voltar a dar agora?
Sempre que me imagino (apenas a título hipotético) num desses jantares de reunião vejo-me completamente de parte. Não porque seja melhor que eles. Mas sim porque sinto que não teria nada para dizer para além do trivial. Do género "Fiz isto e isto, estudei aqui e ali, trabalhei ali e acolá e agora estou a trabalhar em além" e pronto, fim de discurso.
Dentro destas pessoas que eu digo que me fazem um favor em não me dizer nada, há pessoas com quem eu gostaria de re-conectar de certa forma. Mas hoje, chego a algumas conclusões que me fazem sentir parvo por chegar a elas apenas agora. Eu, desde que me lembro, tenho o mesmo número de telemóvel. E praticamente toda a gente tem esse número (ou tinha). Pelo contrário eu nunca tive os números de ninguém para além de uma pessoa que era a única com quem me dava consideravelmente bem. E dessa única pessoa foi-me dado um número de alguém próximo a essa pessoa, o que obviamente resultou em Kommunikation Kaputt. Mas essa pessoa ficou com o meu número. E porque é que nunca mais disse nada? Porque é que tenho de ser eu a fazê-lo?
Obviamente fui convidado para um jantar de reunião e não fui. Será que devia ter ido? Para ver uma pessoa só? Uma pessoa que nunca mais me disse nada?
Sim eu sei. Eu se calhar sou tido como arrogante e como tendo a mania. Mas acontece que eu não tenho culpa de saber mais do que os outros e não tenho culpa de gostar de ensinar coisas às pessoas. Não o faço por mal. Se calhar se alguém estiver a falar sobre astronomia sou capaz de referir que a terra está a +/- 150,000,000 de km do sol entre outras coisas que sei. E não o faço por arrogância mas sim porque acho interessante. Mas se calhar dá a aparência de eu ter a mania. A verdade é que não me importa. Se alguém, por causa de coisas como essa, me classifica assim, que seja feliz.
E bem, no meio disto tudo sinto que há uma parede invisível que dificilmente ultrapassarei relativamente a estas e outras pessoas. Sinto que vou ser sempre visto como alguém arrogante.
Hoje em dia, dá a ideia que se não és visto morres. Se não apareces nas saídas regularmente e se não convives regularmente, desapareces. Já ninguém quer saber. Às vezes chegam a dizer que eu é que os estou a desconsiderar porque não apareci. Esquecem-se que uma pessoa trabalha. Que precisa de descansar e esquecem-se que nem toda a gente gosta de fazer as mesmas coisas. Mas enfim, nada disto interessa muito.