Após a hemorragia eleitoral, apresenta-se agora o AfterParty das eleições.

Não foi discutida uma única proposta durante esta campanha eleitoral.

O que é natural. Porque nos próximos anos não há lugares a pontos de vista. Há lugar a comer e calar, porque estamos dependentes do cumprimentos de objectivos impostos pela Troika e nenhum partido responsável que viesse a governar se atreveria a sair dos carris impostos.

Atrevo-me mesmo a dizer que quem, no dia em que se pediu ajuda externa, não sabia em quem votar e que quem até à última esteve indeciso, é porque estava muito distraído da realidade. A realidade é que dos três partidos passíveis de governar, PS, PSD ou PP, nenhum deles teria a loucura de renegar o acordo com o FMI, BCE e União Europeia. Portanto, desde aí esta campanha prendeu-se em detalhes irrelevantes e em ataques e defesas aborrecidas e sem qualquer interesse. Todos atacaram o PS, o partido que está no governo é sempre o mais vulnerável aos ataques, fundados ou infundados. Entre o PSD e o PP foi curioso assistir ao joguinho de ora chega p'ra lá ora chega p'ra aqui, ou por outras palavras, nós vamos governar juntos mas não somos um só partido, apesar de termos a mesma visão das coisas.

Portanto José Sócrates sai de cena. Faz bem em demitir-se. Foi o primeiro ministro mais desgastado que Portugal já teve. O sensacionalismo de casos como a UNI como o Freeport etc etc acumularam-se e, naturalmente, fez-se sentir.

Contudo, penso que daqui a uns anos a governação de José Sócrates vai ser mais bem reconhecida. Foi com ele que Portugal saiu da crise de 2004 após o desastre governativo da governação PSD-PP liderada por Durão Barroso e posteriormente por Santana Lopes. Recorde-se que nessa altura o défice era de 6.8%. Agora é de 9.3%. com os tais novos métodos de cálculo impostos pelo Eurostat. Pelo que matematicamente o défice aumentou apenas 2.5% sendo que os 6.8 de 2004 não foram contabilizados da mesma forma que o de 2010.
Contudo o défice em 2008 antes da crise era 2.3%, portanto constata-se que é um disparate dizer que este governo é o único culpado pela situação financeira actual do país. Seria preciso um governo suicida para passar de 2.3 para 9.3 em dois anos. Mas bem, isso agora não interessa nada e também não interessou até hoje a ninguém especialmente à comunicação social.

Para além da gestão financeira, que na minha opinião foi boa dentro dos possíveis, há também um impulso tecnológico com a implementação dos programas Magalhães e E-Escola, neste segundo onde por 150€ qualquer aluno até ao sétimo ano pode adquirir um portátil para andar no facebook e a fazer estupidez.
O ensino de inglês no primeiro ciclo e a modernização de equipamentos escolares. A educação é um bom ponto a apostar pois quanto maior for o nível educativo mais especializados serão os serviços que o país poderá dar e José Sócrates apostou e bem nisso. Outra aposta bastante bem conseguida foi a aposta na requalificação energética com a  contrução de muitos parques eólicos.

Obviamente que Sócrates também errou. Algumas vezes de forma mais grave do que outras. Mas nas linhas de orientação essenciais para a continuação da construção do país penso que esteve sempre bem. Por vezes gosto de imaginar como seria sem o colapso financeiro mundial de 2008. Neste momento Portugal seria um país em superavit e em rota de crescimento com uma população mais qualificada e melhor preparada para os desafios do futuro. Provavelmente impostos como o Iva estariam já mais baixos. Mas bem, a realidade infelizmente é diferente e nem toda a culpa reside em Portugal.

Foi um período difícil de governação para Sócrates e por isso gostaria de aqui deixar o meu agradecimento pelo trabalho que fez ao serviço de Portugal.

P.S - Para aqueles que pedem o julgamento de José Sócrates pela má governação (parte com a qual não concordo) gostaria de saber o seguinte:

-Se trabalhassem nas obras e deixassem cair um saco de cimento e e ele se desfizesse todo, gostavam que o vosso chefe vos obrigasse a pagar o saco?
-Se trabalhassem num restaurante e partissem meia dúzia de pratos gostavam que o chefe vos obrigasse a pagar os pratos?

Entre muitos outros exemplos que poderia dar a verdade é que os erros só acontecem a quem faz alguma coisa. E num país de inertes como Portugal é triste ver tantas pessoas com a lata e a estupidez de ainda pedirem o absurdo julgamento de alguém que trabalhou e pouco mais fez do que tomar decisões que só a ele cabiam.