E depois de ter falado sobre o EP desta banda belga falo agora do primeiro disco de longa duração dos Evil Superstars. Contextualizando. O EP foi lançado em 1994. Na onda do sucesso que haviam sido os dEUS, que tinham sido assinados pela Island Records, também os Evil Superstars foram assinados pela Island para o lançamento do primeiro album completo. A formação continuava a ser mesma apenas com a adição de um novo guitarrista descoberto por Mauro Pawlowski. Tim Vanhamel, um jovem de 16 anos por muitos considerado nos dias de hoje como o mais prodigioso guitarrista belga.
Assim sendo a banda grava um disco, novamente totalmente composto por Pawlowski. Se eu tivesse de descrever numa palavra o disco diria “desconcertante”.
O disco começa com No More Bad People. Punk rock hardcore logo a abrir a música antes de se transformar numa ladainha de fanfarra passando por fases de rock normal e terminando numa apoteose de descoordenação e desvario. É estranho mas estas músicas exercem um certo fascínio porque tal como eu já disse sobre o Hairfacts, também neste disco continua a revelar-se a capacidade de criar ambientes com a música e criar sensações.
The Power Of Haha é uma música mais sincronizada, mais 'normal' digamos. Transporta-nos para uma nostalgia um pouco tristonha entre os Haha's alegres e a letra estranha acompanhada de uma sonoridade que nos embala em pensamentos sobre coisas passadas.
Go Home For Lunch, é uma bela música. Nesta música é possível ver algo que Mauro Pawlowski faz com mestria. Há duas linhas de guitarra completamente diferentes, mas que juntas funcionam na perfeição e é bastante interessante porque há momentos na música em que uma das linhas fica sozinha e parece que aquilo não está bem ali, mas logo que tudo recomeça dá para ver que está bem, aliás, muito bem.
A seguir vem Parasol que é uma música curta que nos transporta para algures no fundo do mar, pelo menos a mim, e que vai-se transformando em bom hard rock.
É aqui que aparece para mim a música mais desconcertante do disco. Eu poderia comparar esta música a grandes canções de grandes senhores da música, como Leonard Cohen ou John Lennon. A música em si é apenas em piano e bateria. Grande grande composição. Apenas uma coisa estranha. A letra. Parece que foi escrito por alguém extremamente afectado.
“Tons of marshmallows I sell
Still there's one that I can't tell
When you smile at me oh well
It started to snow in hell,
Three hundred miles and now
I daydream about this pirate wedding bell
I farted as hard as I can
And you smiled at me again
Your lybrary of kicks
Your indoor fireworks
Your collection of ancient wine
Tell me what's it going to be on your dumb or mine...”
Bem, eu só escrevi esta parte mais extensa da letra porque demosntra bem o tipo de letra que faz a música. A acrescentar a tudo isto a interpretação de Mauro que faz dele, para mim, um dos melhores intérpetres da música europeia. Já agora, o nome da música é Your Dumb Or Mine. Tudo isto junto torna a música muito desconcertante.
Rocking All Over sucede-se numa música com uso exaustivo de harmónicos. Bem conseguida. Seguida por Pantomiming With Your Parents que dança entre aquele pop 80's feito de uh uh's, uma secção mais calma e um momento de hard rock, também bastante bem conseguida. Depois desta música começa a parte declinante do disco. Músicas como We Need Your Head e Miss Your Disease estão alguns furos abaixo do resto do disco. Pelo meio ainda 1,000,000 Demons Can't Be Wrong (analogia a um best of the Elvis Presley chamado 50,000,000 Elvis Fans Can't Be Wrong) uma boa música com uma aura negra à sua volta.
A penúltima música do disco viria a tornar-se uma música de assinatura dos Evil Superstars. Chama-se, nada mais nada menos que, Satan Is In My Ass. Uma música que vem do inferno para dizer que afinal o demo fica chateado porque a gente não sabe que ele veste um vestido de bailarina e usa um Fez na cabeça. E ficamos também a saber nesta música que, passando a citar “Somewhere in a fortress / He hide's his mistress / I'm talking about a plankton eating robotcow in a cardboard chest”. A música é desconcertante do sinistro ao gozão. Do jazzy ao hard rock a razar o heavy metal. É o espelho do disco.
A última música é uma música em que eu imagino um tipo, vamos imaginar neste caso um estudante, que no fim do verão, no fim de todas as borgas esta sozinho numa praia, com a barba por fazer, com a camisa suja e o cabelo despenteado, apercebendo-se que o verão chegou ao fim e está sozinho sem nada de importante no fim do verão tão agitado. A música chama-se Death By Summer e não tem letra. Apenas piano e bateria.
Resumindo. Love Is Okay é um misto de sensações. Em Hairfacts os Evil Superstars resumiram em quatro músicas todo o espírito da banda. Em Love Is Okay penso que encontraram algumas dificuldades em preencher o disco todo sem enveredar por caminhos não tão bem sucedidos. Mas no geral é um bom disco que contem algumas músicas excelentes, dentro do género absurd-rock, fundado e adoptado pela banda.
Etiquetas: evil superstars, love is okay, mauro pawlowski, músicas
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