Este post não se pode dizer que seja bem um review, é mais a experiência de ouvir um disco, neste caso «The Ideal Crash» dos dEUS. É uma espécie de descrição com a minha interpretação das músicas e aquilo que sinto acerca delas. Sendo assim ficamos assim combinados! Cá vai:


Ideal Crash

Silêncio. Faixa um. Um som esquisito aparentemente concebido por uma guitarra e começa. Uma música bem rock, com guitarra constante e com uma letra dupla, significados e frases um pouco dispersas, provavelmente sobre droga provavelmente sobre amor. Mas nada em concreto, mais uma música com um tom esquizofrenico, cortesia dos dEUS. Put the freaks up front, venham eles!

Faixa dois, melodia calma acompanhada de um sussurro até à entrada melodiosa da voz de Tom Barman a contar a história de um homem que matou a sua namorada e passa por três estados de espirito. O primeiro, é o estado de arrependimento "Oh my sweet sister dew what have I done?". O segundo a tentar justificar o acto "Tell me sister, please I didn't have a choice". O último maléfico "Please forgive me if I, I keep on smiling But every sad story has a funny side in", todos estes estados acompanhados pela evolução da música, os sussuros iniciais podem ser interpretados como o grito abafado da namorada ao morrer e que mais tarde voltam à sua cabeça na descrição do momento. A música volta à calma final antes se desvanecer no som de um bar ou restaurante.

Do ruido do restaurante alegando a ligação entre duas histórias que podem ser contadas em qualquer local comum onde nos podemos também cruzar com aqueles que as vivenciaram. Para a história de uma pessoa que viu a sua relação terminada e que espera eternamente "where the nighthawks fly". Espera que a sua amada o vá procurar depois de a ter encontrado e de a ter perdido, mas ela não volta e ele cai e deixa-se cair "Down on the floor, got a closer look to hell, somebody pushed me I jst pretending that I fell" a acabar numa confissão de auto clausura de alguem que vive "Weirding out strangers and laughing at those...Not that we're special it's just that we're Closing in on a place where we might get to be Living real people regularly Send you some stuff and be good like you asked..."

Faixa quatro. Sobre alguem que tem um plano a executar numa hora mágica, que se vai, gasta em algo supostamente mais importante "as cool as a sigh, as murderous as something to say". Uma musica quase em forma de oração, virada para "the God Of Small Things" com uma melodia calma, numa guiatrra limpa um pequeno interludio com violino, com a musica a crescer até se desvanecer ao som de uma guitarra encantadora com os expressivos versos "There is room if you can trust, for anyone like us".

Stay by my side, é assim que começa a colisão perfeita, num carrossel de guitaras distorcidas, pianos e sintetizadores onde não se distingue bem o que é que faz o quê com uma batida no mínimo diferente, e cantada atraves de dois canais, um distorsido e um limpo, numa musica sobre amizade ou sobre amor onde alguem liberta outro sem realmente libertar "Stay by my side it's over ... Stay by my side I want you". Soa a alguem que lamenta por algo que correu mal mas que quer recomeçar apesar da poeira de da dor que sucedeu. Belíssima e comovente musica e na minha opinião uma das melhores interpretações de Tom Barman.

The instant street. Há quem aprecie imenso esta música. Eu sou um deles. Uma melodia inocente e que soa quase a infantil, com uma voz quase colegial a cantar uma letra para muitos sobre droga, mas para mim sobre o fim do "nojo" após a quebra de uma relação. O reconhecimento da sorte em ter tido aquela pessoa ao nosso lado, ainda que a perda nos faça ter reacções desreguladas "when on every single impulse, on every other move I react". A passagem à fase seguinte "This pain in my side, I had enough, this time we go for instant street...". pode ser visto como alusão às drogas no efeito instantaneo "instant stuff" e que acaba, mas para mim é mesmo sobre amor. Dito o poema um dos mais fascinantes solos de sempre, simples, directo e arrebatador. Dois minutos em que camada sobre camada a musica vais crescendo sempre acompanhada pelo violino a subir até tudo se conjugar num ritmo forte, solo simples e um climax espectacular a terminar a musica. Sublime.

Faixa 7. Magdalena, uma ex namorada de Tom Barman. Dá a impressão que ele queria se mover para outro sítio, vontade não partilhada pela Magdalena. Ou então que ela o deixou e ele está a descobrir como se virar e seguir o caminho "I wanna move, don't figure out much, into the new, out o the blue, out of the darkness". Uma música que caminha do nada para um fim ruidoso e confuso a terminar numa guitarra bela e harmoniosa a deixar entender que a história não acabou de forma muito alegre.

EVERYBODY'S WEIRD. Todos estamos bem até alguem nos chatear. "You're such a lovely guy, but it doesn't take so much, to get all there is out, all the dirt and all the sludge". Afinal não somos assim tao estranhos, embora aos olhos dos outros possa parecer irrflectido. A música também pode ser encarada como uma critica aos posers "And everybody's weird, and they all think they're God" ou àqueles que se acham no direito de criticar porque não há defeitos a apontar-lhes. Contem também os versos mais estranhos do disco
It's easier to trust
If it comes down to this my friend
I will help you if I must
I will kill you if I can
Experience is cheap
And you know that in the end
I will kill you if I must
I will help you if I can
A parte de "I will help you if I must, I will kill you etc" deve ser creditada a Leonard Cohen. Song For Isaac.A música em si contem uma sample de uma voz feminina a repetir ciclicamente o titulo da musica, musica também que se dá um pouco à electronica e que vê os seus decibeis aumentarem com o tempo. Uma participação bem activa do violino nesta musica.

Let's see who goes down first, letra sobre uma doença mental da qual Barman foi vitima e que o pôs completamente aluado durante uns tempos, acho que é um pouco de revolta contra a doença e a sua luta tal como o titulo indica. O poema em si vai caminhando em direcção à loucura e demencia voltado a si com a frase "Next time it calls me I'll be ready, because I KNOW". A unica musica do disco em que Barman não deu opinião composta por Craig Ward e Klaas Janzoons. A melodia em si um pouco esquisita a inicio e à base de muitas progressões de guitarra diferentes, acompanhados por um sample de percussão. Sobe, sobe, sobe até ao auge no verso "Next time it calls me I'll be ready, Because I KNOW!". Gosto particularmente desta frase, pois é um contra senso sobre a doença "It doesn't lose it just lets you win".

10 e o sonho na última pérola do disco. A música e a melodia transportam quase para a dimensão dos sonhos, algo que não sei explicar, mas que a musica transmite. Mais uma vez parece ser sobre uma relação mal terminada e um pouco à semelhança da terceira faixa do disco One Advice, Space e instant street, parece simbolizar um pouco o fim do "luto" "My little dreamone, you're okay, I'm thinking about you everyday" mais à frente "I'm getting better everyday, I just don't care what they say" Uma musica que sobe também mas não como as outras, esta sobe de intensidade mas sem acrescentar muito ao som. Dream sequence é o nome.

E assim se chegou ao fim da audição do disco mais bem conseguido e regular (não o melhor) dos dEUS, com melodias bem estruturadas e sem grandes devaneios ou loucuras a tomar conta das musicas, um disco com muito génio dos cinco mas principalmente Craig Ward e Tom Barman deixando saudades nos fans uma dupla de composição tão boa e assente. Um disco gravado em Espanha e durante o qual, segundo Craig Ward, os membros da banda não se falavam, contando mesmo o episódio da fractura no pé do baterista que quando voltou viu as musicas completamente alteradas e perguntou "AH isto agora está assim?" ninguem lhe respondeu.Um disco composto numa base acustica e que em várias músicas mostra a habilidade dos dEUS em fazerem músicas que progridem até um ponto alto assim como, magic hour, instant street, magdalena, let's see who goes down first e dream sequence.Espero que deixe aqueles que nunca ouviram o disco com àgua na boca para o conhecer. Vale a pena.