Arcade Fire é uma banda relativamente recente para mim. Só há coisa de uns meses é que comecei a ouvir regularmente, apesar de os ter visto no SBSR '11.
Uma das coisas que salta à vista, nos dois discos que eu já ouvi, Neon Bible e Suburbs, é uma pessoalidade bastante profunda. Sente-se que há algo que é muito de quem fez a música. Há vários sentimentos diferentes, porém, todos eles ligados e lógicos dentro do conceito das músicas.
Se em músicas como Ocean Of Noise e My Body Is A Cage é possível ouvir um amor melancólico, em músicas como Intervention ou Month Of May é possível ouvir um grito de revolta bastante forte e profundo.
O que eu gosto em Arcade Fire são as letras. Identifico-me bastante com algumas e penso, muitas vezes, se quem as escreveu estará a pensar o mesmo que eu.
É, nomeadamente no último disco, abordada uma temática muito querida aqui do nosso blogue, que é a letargia de pensamento.
"So young, so young,
so much pain for something so young
I know it's heavy I know it ain't light,
But how you gonna lift it with your arms folding tight?"
Gosto bastante deste verso, pois é precisamente aquilo que eu penso frequentemente das pessoas. Em Portugal, as pessoas queixam-se e esperneiam e no entanto quando chegam a casa limitam-se a ir ao Facebook ou a ligar a tv e tudo passa.
Ocorre-me por exemplo o Acordo Ortográfico, como um caso gritante em que toda a gente parece estar contra, mas bem, maior parte das pessoas parece estar completamente resignada, até fazendo um esforço por o cumprir. Quantos jornais apresentaram colunas de veemente desacordo com esse embuste? E quantos é que não seguem já o dito acordo?
De qualquer das maneiras, voltando aos Arcade Fire que se viram no meio de fogo cruzado contra o Acordo Ortográfico, coitados, eu identifico-me bastante com esta crítica.
Acho paradoxal é que a maior parte da juventude oiça e pense que aquilo é espectacular. Se calhar se eu começasse a insultar as pessoas que por aqui passam a ler, pelo fim do ano, seria o melhor blogue português. Mas bem, parafraseando o John Cleese "The problem with some people is that they are so stupid, that they don't know how stupid they are". É a única explicação plausível que encontro.
Os Arcade Fire não têm pudor em criticar aqueles que são o seu público alvo. Pois o público alvo encaixa-se perfeitamente nesta descrição:
"All the kids have always known,
That the emperor has no clothes,
But they bow down to him anyway,
It's better than being alone"
Pois é, é mais difícil enveredar pelo caminho em que se diz não à mediocridade. Em que se diz não àqueles pequenos vícios que toda a gente comete em busca de um bocado mais de emancipação. Lembro-me bem que da primeira vez que me ofereceram um cigarro e eu recusei, fui gozado até casa por ser um betinho e ter medo. Na verdade e olhando para trás, quem tinha medo eram eles, todos a fumar às escondidas e a "travar" expelindo Ohs e Ahs a cada acrobacia feita como se tivessem a ver um espectáculo de circo. Corajoso fui eu que disse que não, sozinho, a meia dúzia de adolescentes irreflectidos.
É mais fácil fumar umas ganzas não é? Fazer o que toda a gente faz e ser rebelde e fora da lei. É mais fixe e as miúdas ficam mais impressionadas. E toda a gente se junta para ver o cometer de uma ilegalidade, enquanto olham sobre o ombro para certificar que ninguém vê o enrolar da mortalha. Apesar disso, nessa altura ninguém me pressionou. Mas bem, senti-me diferente dos outros e isso nunca se reflectiu positivamente. Pois então eu era o certinho. Nunca me incomodou o rótulo, até porque, na prática, isso é bom. Mas bem, hoje em dia eu sinto-me um espírito livre com o futuro à frente e essas pessoas, maior parte delas, tem filhos (aos 20 e poucos anos diga-se), alguns deles mais do que um filho, casaram, trabalham e vão ao café à noite todos os dias socializar e ouvir as parvoíces que se dizem no café e enfim. Pensam em comprar um carro novo, porque o que têm (ai, ui) já tem dez anos.
É mais fácil agachar do que estar sozinho. É mais fácil dizer que gostamos de Radiohead, quando na verdade temos de ouvir e ouvir e ouvir até a música estar decorada, o que não quer dizer degustada (eu sei que nem todos os fans de Radiohead são assim, mas muitos são). É mais fácil gostar dos Artic Monkeys que são uma valente merda. È mais fácil gostar de tudo o que o Jack White grava sem olhar a mais nada senão o nome. Numa vertente mais pimba é mais fácil gostar do Michel Teló e da Lady Gaga. Sei lá, está mesmo à mão de semear. Ai de nós se vamos ao ginásio e não sabemos aquela versão do Teló em Drum & Bass (gargalhada interior) para fazer o step. Ou aquela música da Lady Gaga para fazer o Spinning à velocidade certa.
Em suma, é por isso que eu gosto dos Arcade Fire, porque eles não têm medo em criticar, até mesmo aqueles que gostam deles. Eu faço o mesmo, mas quando eu faço isso, maior parte das pessoas fica ofendida. Quando são os Arcade Fire é fixe e fecham os olhos ao facto de estarem a levar uma bofetada no orgulho.
Outra crítica feita à juventude é quando dizem:
"They seem wild, but they are so tame,
They're moving towards you with the colors all the same"
É verdade, toda a gente faz e acontece. E depois no momento... Tenho um colega de trabalho que acerca de uma formação gritou aos quatro ventos que não ia. Era como se lhe arrancassem um dente. E não dava satisfações à direcção e que nem à mulher dava satisfações. Quando eu, com muito sacrifício da minha parte, compareci à formação, lá estava esse meu colega, tipo cordeirinho. É fantástico, não é?
De qualquer das maneiras, eu gosto de Arcade Fire, porque sinto sinceridade. Sinto que eles exprimem o que sentem e não têm medo de serem censurados por isso. Acho até que eles preferiam não ter assim tanto sucesso. Mas isso já é uma especulação minha.
"I'm living in an age,
That screams my name at night,
But when I get to the doorway,
There's no one in sight"
É engraçado como são uma banda que, em termos sonoros, teria pouco para me agradar. Mas a verdade é que a conjugação de sentimento, com as letras e a intencionalidade faz deles uma daquelas bandas que me dá arrepios em certas músicas.
Uma das coisas que salta à vista, nos dois discos que eu já ouvi, Neon Bible e Suburbs, é uma pessoalidade bastante profunda. Sente-se que há algo que é muito de quem fez a música. Há vários sentimentos diferentes, porém, todos eles ligados e lógicos dentro do conceito das músicas.
Se em músicas como Ocean Of Noise e My Body Is A Cage é possível ouvir um amor melancólico, em músicas como Intervention ou Month Of May é possível ouvir um grito de revolta bastante forte e profundo.
O que eu gosto em Arcade Fire são as letras. Identifico-me bastante com algumas e penso, muitas vezes, se quem as escreveu estará a pensar o mesmo que eu.
É, nomeadamente no último disco, abordada uma temática muito querida aqui do nosso blogue, que é a letargia de pensamento.
"So young, so young,
so much pain for something so young
I know it's heavy I know it ain't light,
But how you gonna lift it with your arms folding tight?"
Gosto bastante deste verso, pois é precisamente aquilo que eu penso frequentemente das pessoas. Em Portugal, as pessoas queixam-se e esperneiam e no entanto quando chegam a casa limitam-se a ir ao Facebook ou a ligar a tv e tudo passa.
Ocorre-me por exemplo o Acordo Ortográfico, como um caso gritante em que toda a gente parece estar contra, mas bem, maior parte das pessoas parece estar completamente resignada, até fazendo um esforço por o cumprir. Quantos jornais apresentaram colunas de veemente desacordo com esse embuste? E quantos é que não seguem já o dito acordo?
De qualquer das maneiras, voltando aos Arcade Fire que se viram no meio de fogo cruzado contra o Acordo Ortográfico, coitados, eu identifico-me bastante com esta crítica.
Acho paradoxal é que a maior parte da juventude oiça e pense que aquilo é espectacular. Se calhar se eu começasse a insultar as pessoas que por aqui passam a ler, pelo fim do ano, seria o melhor blogue português. Mas bem, parafraseando o John Cleese "The problem with some people is that they are so stupid, that they don't know how stupid they are". É a única explicação plausível que encontro.
Os Arcade Fire não têm pudor em criticar aqueles que são o seu público alvo. Pois o público alvo encaixa-se perfeitamente nesta descrição:
"All the kids have always known,
That the emperor has no clothes,
But they bow down to him anyway,
It's better than being alone"
Pois é, é mais difícil enveredar pelo caminho em que se diz não à mediocridade. Em que se diz não àqueles pequenos vícios que toda a gente comete em busca de um bocado mais de emancipação. Lembro-me bem que da primeira vez que me ofereceram um cigarro e eu recusei, fui gozado até casa por ser um betinho e ter medo. Na verdade e olhando para trás, quem tinha medo eram eles, todos a fumar às escondidas e a "travar" expelindo Ohs e Ahs a cada acrobacia feita como se tivessem a ver um espectáculo de circo. Corajoso fui eu que disse que não, sozinho, a meia dúzia de adolescentes irreflectidos.
É mais fácil fumar umas ganzas não é? Fazer o que toda a gente faz e ser rebelde e fora da lei. É mais fixe e as miúdas ficam mais impressionadas. E toda a gente se junta para ver o cometer de uma ilegalidade, enquanto olham sobre o ombro para certificar que ninguém vê o enrolar da mortalha. Apesar disso, nessa altura ninguém me pressionou. Mas bem, senti-me diferente dos outros e isso nunca se reflectiu positivamente. Pois então eu era o certinho. Nunca me incomodou o rótulo, até porque, na prática, isso é bom. Mas bem, hoje em dia eu sinto-me um espírito livre com o futuro à frente e essas pessoas, maior parte delas, tem filhos (aos 20 e poucos anos diga-se), alguns deles mais do que um filho, casaram, trabalham e vão ao café à noite todos os dias socializar e ouvir as parvoíces que se dizem no café e enfim. Pensam em comprar um carro novo, porque o que têm (ai, ui) já tem dez anos.
É mais fácil agachar do que estar sozinho. É mais fácil dizer que gostamos de Radiohead, quando na verdade temos de ouvir e ouvir e ouvir até a música estar decorada, o que não quer dizer degustada (eu sei que nem todos os fans de Radiohead são assim, mas muitos são). É mais fácil gostar dos Artic Monkeys que são uma valente merda. È mais fácil gostar de tudo o que o Jack White grava sem olhar a mais nada senão o nome. Numa vertente mais pimba é mais fácil gostar do Michel Teló e da Lady Gaga. Sei lá, está mesmo à mão de semear. Ai de nós se vamos ao ginásio e não sabemos aquela versão do Teló em Drum & Bass (gargalhada interior) para fazer o step. Ou aquela música da Lady Gaga para fazer o Spinning à velocidade certa.
Em suma, é por isso que eu gosto dos Arcade Fire, porque eles não têm medo em criticar, até mesmo aqueles que gostam deles. Eu faço o mesmo, mas quando eu faço isso, maior parte das pessoas fica ofendida. Quando são os Arcade Fire é fixe e fecham os olhos ao facto de estarem a levar uma bofetada no orgulho.
Outra crítica feita à juventude é quando dizem:
"They seem wild, but they are so tame,
They're moving towards you with the colors all the same"
É verdade, toda a gente faz e acontece. E depois no momento... Tenho um colega de trabalho que acerca de uma formação gritou aos quatro ventos que não ia. Era como se lhe arrancassem um dente. E não dava satisfações à direcção e que nem à mulher dava satisfações. Quando eu, com muito sacrifício da minha parte, compareci à formação, lá estava esse meu colega, tipo cordeirinho. É fantástico, não é?
De qualquer das maneiras, eu gosto de Arcade Fire, porque sinto sinceridade. Sinto que eles exprimem o que sentem e não têm medo de serem censurados por isso. Acho até que eles preferiam não ter assim tanto sucesso. Mas isso já é uma especulação minha.
"I'm living in an age,
That screams my name at night,
But when I get to the doorway,
There's no one in sight"
É engraçado como são uma banda que, em termos sonoros, teria pouco para me agradar. Mas a verdade é que a conjugação de sentimento, com as letras e a intencionalidade faz deles uma daquelas bandas que me dá arrepios em certas músicas.