Hoje em dia, a Internet é uma ferramenta, por assim dizer, que fervilha de informação. Estão coisas a acontecer em todo mundo e os updates, de diferentes tamanhos e importâncias, são algo constante. Nem podemos imaginar quanto.

Contudo, há um lado que, na minha opinião, é bastante obscuro acerca da Internet. Esse lado é aquele em que há um desaparecimento que nós nunca poderemos explicar.

Mais concretamente, blogues, páginas de Facebook, Hi5, MySpace etc etc. Todo o tipo de sites onde há uma pessoalidade associada. Onde é um indivíduo que actualiza a página, com mais ou menos frequência, com coisas de maior ou menor interesse.

Vemos por exemplo o Facebook que as pessoas actualizam obsessivamente a toda a hora e a todos os minutos. Onde coisas tão importantes como o seu casamento e coisas tão irrelevantes como uma ida ao ginásio, são dignas de relato. Devo dizer, que esta necessidade é a meus olhos absurda. Estarmos constantemente a afirmar ao mundo que fizemos isto ou aquilo, que fomos jantar com não sei quem, que somos amigo de não sei quantos, que frequentamos taberna X e gostamos de sitio Y. Toda esta informação é, a meu ver, exagerada e desnecessária. Até porque, hoje em dia, provoca-me cada vez mais confusão quando as pessoas se referem a outras como bisbilhoteiras e coscuvilheiras, porque afinal se disponibilizam tanta informação assim, de que é que estavam à espera? Isso já nem é bisbilhotice, mas sim conhecimento ocasional, porque se eu vejo algo é natural que depois me lembre disso.

Mas bem, de volta à vaca fria.

Sinto-me sempre bastante estranho quando vejo esse tipo de sites pessoais sem qualquer actualização há uma montanha de tempo. Há paginas sem actualizações há um, dois, três, sete, oito anos... É muito sinistro, porque quando eu visito uma dessas páginas estou, inconscientemente, a criar um laço com a pessoa que a actualiza/actualizava, para bem ou para o mal. O facto de uma página não ser actualizada há muito tempo leva a uma pergunta, que se calhar pouca gente faz, mas que eu faço.

O que é que aconteceu a esta pessoa?

Há páginas que apesar de não serem mais actualizadas, têm um último post a dizer que não vão escrever mais, ou que vão passar a escrever noutro sítio, e nessas não há esse sentimento. Mas há sites que tinham actualizações diárias que não são actualizados há anos o que leva a uma sensação estranha de desaparecimento. Pode ter acontecido imensas coisas a essas pessoas. Certamente algumas morreram, outras simplesmente deixaram de ter tempo para isso, outras abriram os olhos a uma nova realidade etc etc. As razões são inúmeras, mas o facto é que é estranho.

Não posso deixar de recordar quando há uns anos um utilizador de um fórum que eu frequentava morreu num acidente de automóvel. Eu falei ocasionalmente com esse utilizador e até simpatizava com ele, apesar de para mim, aquilo não ser nada mais do que uma relação de circunstância. Quando ele morreu lembro-me bem de ter ficado bastante assombrado pela notícia, apesar de nunca o ter visto. Isto já foi há uns anos e a página de perfil dele continua disponível nesse fórum, apesar de já terem passado alguns anos. E isso é muito estranho. Pois nessa página aparece qual foram os últimos comentários, feitos dias antes de falecer. Isso é extremamente estranho

Porém, dirão, com razão, que nem toda a gente que deixou de actualizar as suas páginas morreu.

É verdade e isso talvez tirasse algo ao sentido do meu post.

Mas também é verdade que se eu deixasse de actualizar este blogue, para além das entrevistas, este blogue iria ficar com o cemitério do meu "eu" de hoje em dia e dos últimos quatro anos. Da mesma maneira que algumas páginas de Hi5 são o cemitério de muitas pessoas, que hoje em dia, apesar de serem os mesmos corpos, não são as mesmas pessoas. Mudaram, para melhor ou pior, mas mudaram e esses Hi5 e Myspace não são nada mais do que uma campa daquela pessoa. Fica ali sepultada a nossa identidade de tempos idos. Porque escreveram lá as suas alegrias e tristezas. Conheceram boas e más pessoas. Reagiram às músicas que ouviram, aos livros que leram e aos filmes que viram. Disseram parvoíces e escreveram piadas etc. Eu quando vejo comentários meus em fóruns de há cinco e seis anos, até reviro os olhos. Aquele João não é este João. Se eu pudesse apagava esses comentários, porque hoje em dia em nada reflecte o que eu sinto ou penso. Reflecte o que o João da altura pensava e esse João já não existe. Existe outro, da mesma forma que o João que começou este blogue em 2008 já não é o mesmo que vos escreve em 2012 e não será o mesmo em 2014. Deve-se notar que havendo continuidade do blogue, é possível verificar uma evolução, uma mudança da pessoa, e daí não é estranho porque, obviamente, isto, levado à letra, quer dizer que desde que eu escrevi letra nesta mesma frase eu já não sou a mesma pessoa.

Havendo uma quebra torna-se estranho. Ainda hoje passei por um blogue de um aspirante a músico que em 2010 postara umas coisas que tinha feito e o último post era a dizer que iria escrever num outro blogue, blogue esse que já nem existe, e ali está uma página em que ele tem as séries que estava a ver, os discos que estava a ouvir, os livros que estava a ler etc. Obviamente hoje, dois anos volvidos, esse aspirante a músico deve estar vivo, algures sem qualquer preocupação com o blogue e se calhar até é mesmo músico ou então tem um bom ou mau trabalho. Mas a sensação com que se fica é a mesma quando deixamos de ver alguém que costumávamos ver e quando nos apercebemos passaram-se anos sobre isso. .

A Internet é um cemitério pois é a campa de muitas pessoas que já não existem mais. Não só fisicamente mas também em termos de personalidade. E se imaginarmos a quantidade de pessoas que deixou páginas para trás com informações... Devem ser milhões de páginas. De crianças que já são adolescentes, de adolescentes que são adultos, de filhos que já são pais etc.

É um cemitério de uma época da vida das pessoas. De um tempo em que pensaram e fizeram certas coisas que já nem se lembram, mas que estão por aí espalhadas.

Não há nada de mal, mas, para mim, é certamente muito estranho.