Por muito que eu seja uma pessoa que ignore o mundo exterior (em termos de pessoas, note-se) não posso deixar de, volta e meia, ter curiosidade sobre o que aconteceu com muitas pessoas que conheci, melhor ou pior, e que gostei ou detestei. Deve-se notar, contudo, que, o facto de eu eventualmente usar a minha conta de facebook para procurar pessoas que conheço, não constitui um desejo de reencontrar essas pessoas ou procurá-las de facto. É apenas um gesto de curiosidade, sem sentido que em nada altera o curso da minha vida, porque eu não deixo.
Porém, não posso deixar de reconhecer que me sinto um bocado inquieto sempre que vejo como está a ser a vida de outras pessoas, principalmente, as pessoas minhas contemporâneas. Trata-se de um pequeno confronto entre aquilo que eu sou e consegui face àquilo que os outros são e conseguiram. Neste momento tenho 25 anos. Tenho apenas qualificação profissional equivalente ao 12º ano. Não frequentei a Universidade logo de seguida porque, infelizmente, os meus pais não tinham possibilidade para tal. Tirando o primeiro ano em que estive desempregado após o 12º ano, tenho trabalhado regularmente sendo que, desde 2007, trabalho no mesmo sítio num posto de trabalho seguro e sem perspectiva de perder emprego. Este ano fui colocado na universidade e frequentarei uma licenciatura na área de Línguas durante os próximos três anos.
Socialmente posso dizer que na maior parte do dia, tirando aquilo que falo com a minha família em casa e aquilo que falo com a minha namorada, não falo para ninguém. E não sinto falta disso.
Quando olho para os meus contemporâneos, pessoas que trilharam caminhos paralelos ao meu, verifico que uma minoria tirou curso universitário e uma ainda menor parte ficou em Portugal a trabalhar. Os restantes trabalham em empresas normais ou então fazem coisas aqui e ali, não sendo certo aquilo que fazem em concreto. Obviamente, e infelizmente, há também aqueles que não têm trabalho e há também aqueles, neste caso nem felizmente nem infelizmente, que não têm Facebook.
Depois há aquele ponto em que há sempre muita discussão sobre se é correcto ou não, se é arrogante ou não, se é verdade ou não, etc, etc, que é o ponto da evolução intelectual. E nesse ponto tenho de dizer e afirmar peremptoriamente, que os meus contemporâneos ficaram parados no mundo de fantasia.
Se há coisa errada no Facebook é dar a entender que a vida de toda a gente tem algo de especial. Na verdade 99.9% das pessoas leva uma vida sem nada de relevo, muito menos de relevo suficiente para ser divulgado ao mundo.
Hoje em dia, há várias áreas artísticas, onde toda a gente acha que tem algo a mostrar. Passo a explicar.
1 - Hoje em dia, qualquer pessoa tira centenas de fotografias com altas máquinas e põe-nas em sites onde, subrepticiamente, fica a ideia de que estamos perante alguém que sabe tirar fotografias de forma profissional, nomeadamente se lermos os comentários onde toda a gente se esbardalha em veneração.
2 - Na música onde hoje em dia toda a gente toca um instrumento e tem uma banda. Lançam-se EPs e tudo mais e com jeitinho até aparece o disco na Fnac à venda. E onde se cria cada vez mais o compadrio do eu gosto do que tu fazes e tu gostas do que eu faço e se não gostares do que eu faço eu não gosto do que tu fazes.
3 - Na escrita. Há contemporâneos meus que publicaram livros pagando do seu próprio bolso a impressão de uma tiragem para mostrar o seu livro. E são venerados por isso. Sim, porque ultimamente não têm sido publicadas umas valentes bostas em forma de livro. Isto é, a publicação não significa qualidade ou mérito. Qualquer um pode juntar um conjunto de palavras contando uma estória plausível, contudo isso não significa nem um bom livro nem uma boa estória sequer.
Sempre que vejo os meus contemporâneos a expor os seus feitos nos seus facebookes, blogues e afins numa primeira análise tendo a lamentar-me por, bem, parece que sou o único que não tem nada a mostrar. Perto destas pessoas eu devo ser um ser inerte. Contudo, e como com tudo o resto na vida, para mim nunca me fiquei pelas primeiras análises e, talvez, se encontre aqui a diferença essencial entre mim e os meus contemporâneos.
Ao pensar mais cuidadosamente no assunto chego sempre às seguintes conclusões às quais me referirei por pontos paralelos aos de cima.
1 - Não tenho a melhor das máquinas fotográficas. Mas já tirei fotografias bonitas, as quais, raramente sinto necessidade de mostrar ou raramente sinto que devam ser mostradas. São as minhas fotografias que mostro quando me apetece e a quem me apetece.
2 - Eu já tive uma banda e toco guitarra há 9 anos. E cheguei a dar um concerto, contudo, cheguei à conclusão que faltava-me um "bocadinho assim" para a banda que eu tinha ser uma banda que merecesse qualquer tipo de palco para tocar. Sem desmerecer os membros da banda, mas obviamente aquilo não ia nem merecia ir a lado nenhum.
3 - Eu já empreendi a escrita de um livro uma vez e, francamente, poderia ter continuado, mas não continuei pois não sinto neste momento condições para o continuar a escrever e se continuasse estaria a comprometer na raíz aquilo que poderia ser o livro.
Tudo isto prende-se com analisar realmente o que temos em mão. Uma fotografia é só uma fotografia e se, por um lado, não há problema nenhum em estar a expor as fotos na net, por outro, há problema em dar veneração a essas fotos porque afinal, 90% das fotos que eu vejo podiam ser apenas mais uma foto daquelas que se punham nos álbuns de família de antigamente e, às quais, ninguém ligava nenhuma.
E o mesmo acontece com a música, com a agravante de na música existir um desespero por fama que leva a que toda a gente troque favores uns com os outros. "Vota em mim que eu voto em ti" é o lema presente em concursos cujo resultado depende de votação e não de avaliação objectiva de qualidade. Lembro-me perfeitamente de, aqui há uns anos, ouvir colegas meus a dizer que esperavam daí a um ano estar a viver completamente da música o que era um disparate total.
Da mesma forma que um livro é apenas um conjunto de páginas. Nem sempre carrega consigo qualidade.
Hoje em dia é demasiado fácil publicar algo. E daí nasce a percepção de que este é um bom fotógrafo, este é um bom músico e aquele escreve bem. Quando na verdade fazem o que fazem tão bem como muitos outros plebeus, com a diferença de que publicam as coisas.
Acabei por me desviar um pouco do assunto, mas, no fundo, quando observo os outros à minha volta, se por um lado sinto que devia ter feito mais alguma coisa, por outro sinto que eu também fiz coisas, mas não as publiquei/publicitei. Desta forma, se numa primeira análise a minha vida é irrelevante comparada com a dos outros, na verdade é tão relevante como a dos outros.
Queria acrescentar ainda que sinto que muitas vezes é importante reflectir sobre aquilo que fizemos e, muitas vezes, isso requer ver o que os outros fizeram para obter um ponto de comparação. Porém, muitas vezes o mais importante é saber manter e seguir o nosso caminho com convicção, o que não implica que questionemos o nosso caminho. Na verdade essa é a parte mais importante para mim. É a altura em que desconstruo aquilo que faço e quero fazer e daí questiono tudo para me certificar que é mesmo isto que eu quero fazer e que é mesmo este o caminho que quero seguir.
Este post acaba por não ser nada de concreto, mas bem, talvez a falta maior que eu detecto nas pessoas é, precisamente, a falta de introspecção relativa às nossas escolhas. E isto, pode não levar a minha vida a lado nenhum em especial, mas levará certamente a um local que eu escolhi e do qual eu estou ciente. Se eu não o fizesse, provavelmente estava neste momento a publicar uma foto ou a mostrar a nova música que compus hoje, assim estou apenas a ver fotos e a questionar se a música que fiz é assim tão boa como isso.
Porém, não posso deixar de reconhecer que me sinto um bocado inquieto sempre que vejo como está a ser a vida de outras pessoas, principalmente, as pessoas minhas contemporâneas. Trata-se de um pequeno confronto entre aquilo que eu sou e consegui face àquilo que os outros são e conseguiram. Neste momento tenho 25 anos. Tenho apenas qualificação profissional equivalente ao 12º ano. Não frequentei a Universidade logo de seguida porque, infelizmente, os meus pais não tinham possibilidade para tal. Tirando o primeiro ano em que estive desempregado após o 12º ano, tenho trabalhado regularmente sendo que, desde 2007, trabalho no mesmo sítio num posto de trabalho seguro e sem perspectiva de perder emprego. Este ano fui colocado na universidade e frequentarei uma licenciatura na área de Línguas durante os próximos três anos.
Socialmente posso dizer que na maior parte do dia, tirando aquilo que falo com a minha família em casa e aquilo que falo com a minha namorada, não falo para ninguém. E não sinto falta disso.
Quando olho para os meus contemporâneos, pessoas que trilharam caminhos paralelos ao meu, verifico que uma minoria tirou curso universitário e uma ainda menor parte ficou em Portugal a trabalhar. Os restantes trabalham em empresas normais ou então fazem coisas aqui e ali, não sendo certo aquilo que fazem em concreto. Obviamente, e infelizmente, há também aqueles que não têm trabalho e há também aqueles, neste caso nem felizmente nem infelizmente, que não têm Facebook.
Depois há aquele ponto em que há sempre muita discussão sobre se é correcto ou não, se é arrogante ou não, se é verdade ou não, etc, etc, que é o ponto da evolução intelectual. E nesse ponto tenho de dizer e afirmar peremptoriamente, que os meus contemporâneos ficaram parados no mundo de fantasia.
Se há coisa errada no Facebook é dar a entender que a vida de toda a gente tem algo de especial. Na verdade 99.9% das pessoas leva uma vida sem nada de relevo, muito menos de relevo suficiente para ser divulgado ao mundo.
Hoje em dia, há várias áreas artísticas, onde toda a gente acha que tem algo a mostrar. Passo a explicar.
1 - Hoje em dia, qualquer pessoa tira centenas de fotografias com altas máquinas e põe-nas em sites onde, subrepticiamente, fica a ideia de que estamos perante alguém que sabe tirar fotografias de forma profissional, nomeadamente se lermos os comentários onde toda a gente se esbardalha em veneração.
2 - Na música onde hoje em dia toda a gente toca um instrumento e tem uma banda. Lançam-se EPs e tudo mais e com jeitinho até aparece o disco na Fnac à venda. E onde se cria cada vez mais o compadrio do eu gosto do que tu fazes e tu gostas do que eu faço e se não gostares do que eu faço eu não gosto do que tu fazes.
3 - Na escrita. Há contemporâneos meus que publicaram livros pagando do seu próprio bolso a impressão de uma tiragem para mostrar o seu livro. E são venerados por isso. Sim, porque ultimamente não têm sido publicadas umas valentes bostas em forma de livro. Isto é, a publicação não significa qualidade ou mérito. Qualquer um pode juntar um conjunto de palavras contando uma estória plausível, contudo isso não significa nem um bom livro nem uma boa estória sequer.
Sempre que vejo os meus contemporâneos a expor os seus feitos nos seus facebookes, blogues e afins numa primeira análise tendo a lamentar-me por, bem, parece que sou o único que não tem nada a mostrar. Perto destas pessoas eu devo ser um ser inerte. Contudo, e como com tudo o resto na vida, para mim nunca me fiquei pelas primeiras análises e, talvez, se encontre aqui a diferença essencial entre mim e os meus contemporâneos.
Ao pensar mais cuidadosamente no assunto chego sempre às seguintes conclusões às quais me referirei por pontos paralelos aos de cima.
1 - Não tenho a melhor das máquinas fotográficas. Mas já tirei fotografias bonitas, as quais, raramente sinto necessidade de mostrar ou raramente sinto que devam ser mostradas. São as minhas fotografias que mostro quando me apetece e a quem me apetece.
2 - Eu já tive uma banda e toco guitarra há 9 anos. E cheguei a dar um concerto, contudo, cheguei à conclusão que faltava-me um "bocadinho assim" para a banda que eu tinha ser uma banda que merecesse qualquer tipo de palco para tocar. Sem desmerecer os membros da banda, mas obviamente aquilo não ia nem merecia ir a lado nenhum.
3 - Eu já empreendi a escrita de um livro uma vez e, francamente, poderia ter continuado, mas não continuei pois não sinto neste momento condições para o continuar a escrever e se continuasse estaria a comprometer na raíz aquilo que poderia ser o livro.
Tudo isto prende-se com analisar realmente o que temos em mão. Uma fotografia é só uma fotografia e se, por um lado, não há problema nenhum em estar a expor as fotos na net, por outro, há problema em dar veneração a essas fotos porque afinal, 90% das fotos que eu vejo podiam ser apenas mais uma foto daquelas que se punham nos álbuns de família de antigamente e, às quais, ninguém ligava nenhuma.
E o mesmo acontece com a música, com a agravante de na música existir um desespero por fama que leva a que toda a gente troque favores uns com os outros. "Vota em mim que eu voto em ti" é o lema presente em concursos cujo resultado depende de votação e não de avaliação objectiva de qualidade. Lembro-me perfeitamente de, aqui há uns anos, ouvir colegas meus a dizer que esperavam daí a um ano estar a viver completamente da música o que era um disparate total.
Da mesma forma que um livro é apenas um conjunto de páginas. Nem sempre carrega consigo qualidade.
Hoje em dia é demasiado fácil publicar algo. E daí nasce a percepção de que este é um bom fotógrafo, este é um bom músico e aquele escreve bem. Quando na verdade fazem o que fazem tão bem como muitos outros plebeus, com a diferença de que publicam as coisas.
Acabei por me desviar um pouco do assunto, mas, no fundo, quando observo os outros à minha volta, se por um lado sinto que devia ter feito mais alguma coisa, por outro sinto que eu também fiz coisas, mas não as publiquei/publicitei. Desta forma, se numa primeira análise a minha vida é irrelevante comparada com a dos outros, na verdade é tão relevante como a dos outros.
Queria acrescentar ainda que sinto que muitas vezes é importante reflectir sobre aquilo que fizemos e, muitas vezes, isso requer ver o que os outros fizeram para obter um ponto de comparação. Porém, muitas vezes o mais importante é saber manter e seguir o nosso caminho com convicção, o que não implica que questionemos o nosso caminho. Na verdade essa é a parte mais importante para mim. É a altura em que desconstruo aquilo que faço e quero fazer e daí questiono tudo para me certificar que é mesmo isto que eu quero fazer e que é mesmo este o caminho que quero seguir.
Este post acaba por não ser nada de concreto, mas bem, talvez a falta maior que eu detecto nas pessoas é, precisamente, a falta de introspecção relativa às nossas escolhas. E isto, pode não levar a minha vida a lado nenhum em especial, mas levará certamente a um local que eu escolhi e do qual eu estou ciente. Se eu não o fizesse, provavelmente estava neste momento a publicar uma foto ou a mostrar a nova música que compus hoje, assim estou apenas a ver fotos e a questionar se a música que fiz é assim tão boa como isso.