Acabei de ler ontem o livro Roma, Ascensão e Queda de um Império de Simon Baker. O livro foi escrito e acompanhado por uma série na BBC, série essa que eu ainda não vi.
De qualquer das maneiras, ler a história de Roma, tal como a história de qualquer outro lugar, é um exercício fascinante.
Não vou discorrer numa "review" do livro, mas antes em pensamentos que me ocorreram enquanto li o livro.
Uma das primeiras passagens do livro que me marcaram foi a conquista de Cartago. A forma como todo o processo foi conduzido por Roma é algo de revoltante e entristecedor. A guerra, quase que, propositadamente desencadeada através de pequenos conflitos e pequenos motivos para iniciar uma guerra contra Cartago. Após a derrota dos cartaginenses, veio a paz, contudo uma paz podre que acabaria coma exigência de Roma em como Cartago fosse deslocada uns tantos km para o interior o que, na prática, significava a destruição de Cartago. Os romanos acabaram por marchar sobre a cidade destruindo todos os edifícios da cidade e "regando" o chão com sal para que nada ali crescesse. É dito no livro que Cipião "Africano" terá dito ao ver a destruição de Cartago que o entristecia pensar que um dia Roma teria o mesmo fim. Porém, estava errado.
O segundo momento é quando Tibério Graco é assassinado. Graco foi filho de Tibério Graco, um homem que havia conseguido muitos feitos militares notáveis que, neste momento, não interessa discorrer.
Graco caiu em desgraça quando negociou a paz com os povos celtas da Península Ibérica, nomeadamente os Numantinos, após estes terem cercado as forças romanas e estarem prontos para as massacrar. Graco, perante o cenário achou ser melhor negociar uma rendição em vez de caminhar para uma derrota certa que levaria à dizimação de um grande número de militares. Um grande número de romanos. Posto isto, todos tratados tinham de ser ratificados pelo Senado. Pois este tratado nunca viria a ser ratificado pelo Senado que, basicamente, achava desonroso para Roma assinar qualquer tipo de rendição. Achariam certamente mais honroso serem derrotados sem dó nem piedade no campo de batalha. Após isso, a vida pública de Graco caiu praticamente em desgraça acabando por ser tribuno do povo. Nesta posição viria a propor leis que visavam devolver terra aos romanos para que eles pudessem sobreviver, dado que muitos romanos estavam a passar sérias dificuldades pois não tinham terrenos para cultivar. Graco propôs que fossem retiradas terras que haviam sido tomadas ilegalmente para que estes romanos pudessem subsistir. O problema é que estas terras eram de aristocratas, muitos deles, com poder no senado. Graco, aos poucos, apesar de ser moderado, foi empurrado para uma situação de confronto e, um dia, no meio de um rebuliço numa Assembleia Popular, após ter posto a mão sobre a cabeça, foi acusado pelos ultra-conservadores de se querer auto-coroar rei, o que obviamente, não era o caso. Estes ultra-conservadores acabariam a espancar Graco até á morte atirando depois o seu corpo ao Tibre.
O terceiro momento seria a morte de Júlio César, em muito semelhante à morte de Graco, apenas com a diferença que Graco era um mero Tribuno do Povo e César era Imperador. Contudo, guardarei a minha opinião sobre a vida de Júlio César para mais tarde.
O quarto momento é a queda de Jerusalém. A invasão feita pelos romanos à "Cidade Santa". Não tanto que me surpreenda o facto de eles terem tomado Jerusalém, contudo, a natureza da invasão foi muito além daquilo que se esperava de um império evoluído como Roma. O saque brutal da cidade é um momento triste e merecedor de recriminação. Esse saque colocado em justa-posição com as causas da invasão, ou melhor, re-invasão, dado que Jerusalém já pertencia aos romanos, tornam todo o cenário absolutamente exagerado e sem sentido.
O quinto momento, não é um momento em concreto. Mas sim o momento em que nos apercebemos que Roma começara a ser demasiado. Demasiado território para ser governado por um só ideal, por um só povo e por um só imperador. É quando entendemos que chegou a uma altura em que Roma, simplesmente estava a esgotar os seus recursos e a esgotar-se ao mesmo tempo. É quando entendemos que, só por um acaso, é que Roma sobreviveu tanto tempo porque é óbvio que em certas alturas a haver uma ofensiva minimamente intencional, essa ofensiva seria mortal para o Império.
Quando Roma é invadida e a metade ocidental do império colapsa, percebemos que, a Roma, não estava destinada o fim de Cartago. Quando Alarico (Visigodos) invadiu a cidade roubou muita coisa, como os túmulos e os tesouros dos Mausoléus, certamente profanando a memória, mas Roma sobreviveu e ainda hoje é possível ver o Coliseu e caminhar por parte do Fórum romano, onde muitos dos ilustres desta história de Roma também deram os seus passos.
O Império Romano, para mim, acaba no momento em que Roma cai. Pese embora o facto de o Império Oriental ter subsistido por mais mil anos, mais ou menos. Esse tornou-se o Império Bizantino, sobre o qual não sei muito, aliás, não sei quase nada.
Roma guarda muitas lições para nós contemporâneos do mundo digital e alta velocidade. Nunca poderemos deixar de associar a morte de Júlio César com a morte de políticos influentes do século passado. Por exemplo não haverá uma relação causa efeito semelhante entre a morte de César e a morte de John Kennedy? Obviamente estamos a entrar no campo das especulações mas Kennedy cedeu algumas coisas à Rússia (da mesma forma que a Rússia cedeu também, diga-se), não terá isso provocado descontentamento de uma certa ala? Não terá isso levado à sua morte? Nunca se saberá, mas é certamente plausível.
Não estaremos a assistir a um Império disfarçado com os EUA a controlarem economicamente cada vez mais países e extraindo deles mais recursos? Não sabemos, mas é certamente possível tentar estabelecer o paralelo e é saudável fazer o exercício. É saudável ver como é que os Romanos tentaram resolver os problemas.
É importante reconhecer Estilicão por ter descoberto o momento em que era tempo de acolher os bárbaros no seio dos romanos quando Roma escasseava cada vez mais na sua força militar. É importante perceber que virá um dia um "Estilicão" que reconhecerá algo que a maior parte de nós ainda não sabe. É importante que o próximo Estilicão não tenha o mesmo fim do primeiro e que não seja morto, por ver algo de diferente.
Roma viria a cair porque não soube lidar com os bárbaros. Vidigodos, Ostrogodos, Suevos, Alanos etc. Apesar de terem derrubado Roma é sabido que parte deles apenas queria ter uma vida melhor dentro do Império ao invés de estar do lado de fora a passar mal.
Concluindo, os romanos são um povo sem dúvida fascinante. É incrível como foram astutos e como alguns dos romanos foram notáveis. Será que alguma vez vai haver um novo "Júlio César"? Um homem que congregue a opinião dos romanos fortes e fracos? Será que Roma não é uma liçao sobre a importância do crescimento sustentado, ou falta dele?
É importante olhar para a história, não só dos romanos, mas toda a história. Obviamente ninguém vai saber todos os recantos da história, mas pelo menos aquela que sabemos, é importante compreendê-la.
Nós somos, ainda, romanos tal como somos tudo o que esteve cá antes e depois dos romanos. Se conseguíssemos definir quem são os nossos antepassados de há 30 gerações atrás, talvez descobríssemos os nossos antepassados no tempo dos romanos.
De qualquer das maneiras, ler a história de Roma, tal como a história de qualquer outro lugar, é um exercício fascinante.
Não vou discorrer numa "review" do livro, mas antes em pensamentos que me ocorreram enquanto li o livro.
Uma das primeiras passagens do livro que me marcaram foi a conquista de Cartago. A forma como todo o processo foi conduzido por Roma é algo de revoltante e entristecedor. A guerra, quase que, propositadamente desencadeada através de pequenos conflitos e pequenos motivos para iniciar uma guerra contra Cartago. Após a derrota dos cartaginenses, veio a paz, contudo uma paz podre que acabaria coma exigência de Roma em como Cartago fosse deslocada uns tantos km para o interior o que, na prática, significava a destruição de Cartago. Os romanos acabaram por marchar sobre a cidade destruindo todos os edifícios da cidade e "regando" o chão com sal para que nada ali crescesse. É dito no livro que Cipião "Africano" terá dito ao ver a destruição de Cartago que o entristecia pensar que um dia Roma teria o mesmo fim. Porém, estava errado.
O segundo momento é quando Tibério Graco é assassinado. Graco foi filho de Tibério Graco, um homem que havia conseguido muitos feitos militares notáveis que, neste momento, não interessa discorrer.
Graco caiu em desgraça quando negociou a paz com os povos celtas da Península Ibérica, nomeadamente os Numantinos, após estes terem cercado as forças romanas e estarem prontos para as massacrar. Graco, perante o cenário achou ser melhor negociar uma rendição em vez de caminhar para uma derrota certa que levaria à dizimação de um grande número de militares. Um grande número de romanos. Posto isto, todos tratados tinham de ser ratificados pelo Senado. Pois este tratado nunca viria a ser ratificado pelo Senado que, basicamente, achava desonroso para Roma assinar qualquer tipo de rendição. Achariam certamente mais honroso serem derrotados sem dó nem piedade no campo de batalha. Após isso, a vida pública de Graco caiu praticamente em desgraça acabando por ser tribuno do povo. Nesta posição viria a propor leis que visavam devolver terra aos romanos para que eles pudessem sobreviver, dado que muitos romanos estavam a passar sérias dificuldades pois não tinham terrenos para cultivar. Graco propôs que fossem retiradas terras que haviam sido tomadas ilegalmente para que estes romanos pudessem subsistir. O problema é que estas terras eram de aristocratas, muitos deles, com poder no senado. Graco, aos poucos, apesar de ser moderado, foi empurrado para uma situação de confronto e, um dia, no meio de um rebuliço numa Assembleia Popular, após ter posto a mão sobre a cabeça, foi acusado pelos ultra-conservadores de se querer auto-coroar rei, o que obviamente, não era o caso. Estes ultra-conservadores acabariam a espancar Graco até á morte atirando depois o seu corpo ao Tibre.
O terceiro momento seria a morte de Júlio César, em muito semelhante à morte de Graco, apenas com a diferença que Graco era um mero Tribuno do Povo e César era Imperador. Contudo, guardarei a minha opinião sobre a vida de Júlio César para mais tarde.
O quarto momento é a queda de Jerusalém. A invasão feita pelos romanos à "Cidade Santa". Não tanto que me surpreenda o facto de eles terem tomado Jerusalém, contudo, a natureza da invasão foi muito além daquilo que se esperava de um império evoluído como Roma. O saque brutal da cidade é um momento triste e merecedor de recriminação. Esse saque colocado em justa-posição com as causas da invasão, ou melhor, re-invasão, dado que Jerusalém já pertencia aos romanos, tornam todo o cenário absolutamente exagerado e sem sentido.
O quinto momento, não é um momento em concreto. Mas sim o momento em que nos apercebemos que Roma começara a ser demasiado. Demasiado território para ser governado por um só ideal, por um só povo e por um só imperador. É quando entendemos que chegou a uma altura em que Roma, simplesmente estava a esgotar os seus recursos e a esgotar-se ao mesmo tempo. É quando entendemos que, só por um acaso, é que Roma sobreviveu tanto tempo porque é óbvio que em certas alturas a haver uma ofensiva minimamente intencional, essa ofensiva seria mortal para o Império.
Quando Roma é invadida e a metade ocidental do império colapsa, percebemos que, a Roma, não estava destinada o fim de Cartago. Quando Alarico (Visigodos) invadiu a cidade roubou muita coisa, como os túmulos e os tesouros dos Mausoléus, certamente profanando a memória, mas Roma sobreviveu e ainda hoje é possível ver o Coliseu e caminhar por parte do Fórum romano, onde muitos dos ilustres desta história de Roma também deram os seus passos.
O Império Romano, para mim, acaba no momento em que Roma cai. Pese embora o facto de o Império Oriental ter subsistido por mais mil anos, mais ou menos. Esse tornou-se o Império Bizantino, sobre o qual não sei muito, aliás, não sei quase nada.
Roma guarda muitas lições para nós contemporâneos do mundo digital e alta velocidade. Nunca poderemos deixar de associar a morte de Júlio César com a morte de políticos influentes do século passado. Por exemplo não haverá uma relação causa efeito semelhante entre a morte de César e a morte de John Kennedy? Obviamente estamos a entrar no campo das especulações mas Kennedy cedeu algumas coisas à Rússia (da mesma forma que a Rússia cedeu também, diga-se), não terá isso provocado descontentamento de uma certa ala? Não terá isso levado à sua morte? Nunca se saberá, mas é certamente plausível.
Não estaremos a assistir a um Império disfarçado com os EUA a controlarem economicamente cada vez mais países e extraindo deles mais recursos? Não sabemos, mas é certamente possível tentar estabelecer o paralelo e é saudável fazer o exercício. É saudável ver como é que os Romanos tentaram resolver os problemas.
É importante reconhecer Estilicão por ter descoberto o momento em que era tempo de acolher os bárbaros no seio dos romanos quando Roma escasseava cada vez mais na sua força militar. É importante perceber que virá um dia um "Estilicão" que reconhecerá algo que a maior parte de nós ainda não sabe. É importante que o próximo Estilicão não tenha o mesmo fim do primeiro e que não seja morto, por ver algo de diferente.
Roma viria a cair porque não soube lidar com os bárbaros. Vidigodos, Ostrogodos, Suevos, Alanos etc. Apesar de terem derrubado Roma é sabido que parte deles apenas queria ter uma vida melhor dentro do Império ao invés de estar do lado de fora a passar mal.
Concluindo, os romanos são um povo sem dúvida fascinante. É incrível como foram astutos e como alguns dos romanos foram notáveis. Será que alguma vez vai haver um novo "Júlio César"? Um homem que congregue a opinião dos romanos fortes e fracos? Será que Roma não é uma liçao sobre a importância do crescimento sustentado, ou falta dele?
É importante olhar para a história, não só dos romanos, mas toda a história. Obviamente ninguém vai saber todos os recantos da história, mas pelo menos aquela que sabemos, é importante compreendê-la.
Nós somos, ainda, romanos tal como somos tudo o que esteve cá antes e depois dos romanos. Se conseguíssemos definir quem são os nossos antepassados de há 30 gerações atrás, talvez descobríssemos os nossos antepassados no tempo dos romanos.