Continuando o post de ontem.

A minha reacção quando vejo as notas de tradutora nos livros do Murakami

Harry Potter and The Deathly Hallows - JK Rowling

O livro final da série, que li toda, obviamente, antes de ver os filmes.

Creio que meio mundo avalia Harry Potter pela qualidade dos filmes que é, diga-se, horrível. Contudo, os filmes não são os livros. Ninguém pode dizer que Harry Potter é um clássico da literatura mundial ou que é algo de transcendente. Não é, se pensarmos como adultos, mas para um livro concebido para jovens é um excelente livro. Creio que a tradução em português não faz jus ao original. Do quarto livro para a frente li sempre em inglês e a escrita torna-se bastante mais envolvente.
A capacidade de Rowling em criar enigmas e de tricotar uma história com vários pormenores que se vão cruzando e descruzando de forma natural é de louvar e não admira que ela tenha enveredado por escrever um policial pois esse tipo de escrita é ideal para os policiais.
Quanto à saga, gostei bastante de ler. É algo que se lê bastante bem e é cativante, sem cair na mediocridade de linguagem ou estilística. Este é o pormenor que para mim diferencia este livro de Twilights e Sherrilins e o diabo a sete.


O Estrangeiro - Albert Camus

Gostei bastante deste livro. A edição que eu li tinha um prefácio de Jean Paul Sartre que me preparou bastante bem para a leitura do livro. Não é difícil de ler e não é aborrecido. É, aliás, bastante ilustrativo do absurdo que Camus defende. Gostei do facto da escrita ser muito simples e descrever um personagem que embora não se possa dizer que seja complexo, era uma personagem suis generis.
De resto tenho por hábito volta e meia dizer que estou a entrar em modo Mersault sempre que me deparo com humanos apalermados.

Underground - Haruki Murakami

Um livro documentário acerca dos atentados de Tóquio com gás Sarin.
Um documento interessantíssimo acerca daquilo que acontece quando há atentados, do ponto de vista humano. Para nós que apenas vemos as notícias, são apenas números, mas para os familiares das vítimas são pessoas que deixaram de ser e que deixaram um vazio impossível de preencher. Impressionaram-me particularmente os testemunhos de um homem cuja irmã ficou em estado quase vegetativo (à altura do livro estava a fazer progressos, mas nunca poderia ter uma vida independente) e que necessitava de cuidados permanentes, e o testemunho de uma mulher cujo marido morreu quando ela estava para dar à luz um filho. É por este tipo de realidade que me repugna quando ouço pessoas a dizer que "isto precisava era de um atentado" ou coisas do género, bastante comuns de se ouvirem.
O livro está dividido em duas partes. O testemunho das vítimas e familiares das vítimas e o testemunho de pessoas que integravam a Aum Shinrikyo, seita responsável pelo atentado. A segunda parte é um testemunho incrível daquilo que o fanatismo é capaz.
Creio que alguma ficção de Murakami é altamente influenciada pelos relatos deste atentado. Não vou estar aqui a dissecar isso, porque não quero dar spoilers, mas a verdade é que Murakami ficou profundamente impressionado com estes testemunhos, por isso seria completamente normal que a ficção dele reflectisse um pouco esses acontecimentos.

E bem, acho que estes foram mesmo os livros que li este ano. Assim de repente não me ocorre mais nenhum, embora talvez seja uma falha de memória.