Todos os anos pelo 25 de Abril a história repete-se. Cravos, liberdade, os heróis etc. etc.
Uma história que se repete e que não devia de se repetir é a proeminência que os Capitães de Abril assumem nesta altura.
Antes de começarem a perder massa encefálica à toa, quero dizer que, obviamente, estou grato à liberdade proporcionada pelos Capitães de Abril através das suas nobres e heróicas acções no dia 25 de Abril de 1974, mas também em todos os dias anteriores em que delinearam secretamente toda a estratégia, de forma clandestina e também aí arriscando a sua pele.
Mas, este é o único louvor que se deve atribuir aos Capitães de Abril. Um louvor digno das maiores apreciações, principalmente por esta altura, digno de monumentos, nomes de ruas e mais alguns louvores públicos.
Contudo as acções heróicas são invalidadas, tanto pelos Capitães, como pelos cidadãos, sempre que por esta altura a opinião dos Capitães torna-se demasiado relevante e demasiado reivindicativa.
Nestes dias fala-se dos Capitães que só estariam presentes se pudessem discursar no parlamento.
Eu concordo plenamente com o impedimento do discurso. Parece-me óbvio, aliás, independentemente do discurso que quisessem fazer, fosse ele a favor do governo, contra o governo, a favor da troika, contra a troika, a favor da inspecção automóvel, contra a inspecção automóvel, a favor dos arruamentos do São João, contra a cor das placas de sinalização rodoviária, parece-me óbvio que os Capitães de Abril não têm lugar a discursar no parlamento.
Até porque, não era a Revolução de Abril uma iniciativa para dar o poder ao povo? Eu não votei nos Capitães de Abril, nem lhes reconheço qualquer direito a expressarem-se no local onde os interesses do povo devem ser defendidos.
"Mas," ouço vozes clamorosas a dizer "eles defendem os interesses do povo".
Pode até ser, mas eu não poderei discursar no parlamento sob qualquer tipo de circunstância. Os militares que lutaram no ultramar também não podem. E os interesses do povo são algo de relativo.
Por esse argumento qualquer um poderia lá ir com o pretexto de defender os interesses do povo.
Depois também há aquele argumento de que os Capitães deveriam discursar porque foram eles que criaram as condições para que existisse democracia. Há aqui algumas coisas a apontar. É que, por exemplo os Capitães de Abril proporcionaram uma democracia na qual erradicou-se o poder de pessoas que estavam no poder por defeito. Os lugares como o parlamento são para ser ocupadas por representantes legítimos, através de eleições, pelo povo. Não para ser ocupados por este ou por aquele que apenas porque teve uma acção louvável já tem direito a falar.
Vejamos por exemplo o caso de Otelo Saraiva de Carvalho que teve um papel mais que duvidoso nos eventos do 25 de Novembro de 1975, deve ele ter assim tanto direito a uma intervenção no coração da democracia?
E mesmo que fosse o mais virtuoso, não há absolutamente nenhum voto do povo para lhe dar esse direito.
Eu sei que dirão que os que estão lá no parlamento também são duvidosos, mas, apesar de eu concordar em parte com isso, foram eleitos para lá estar. Eleitos pelo povo e não por uma circunstância.
A questão dos Capitães de Abril serem heróis é meramente circunstancial. A Revolução poderia nunca se ter consumado e daí a dez anos existirem outros revolucionários. Por muito valor que as acções dos Capitães de Abril tenham, elas são frutos da circunstância e da mesma maneira que foram a elas a desencadear a Revolução, poderiam ter sido outros.
Finalmente, fico boquiaberto quando vejo pessoas que dizem/escrevem que a Presidente da Assembleia da República desrespeitou os Capitães e que se esquece que se exerce o cargo que exerce é porque alguém o proporcionou. Fantástico de ouvir numa país em que metade da população votante abstém-se, e orgulha-se disso, esquecendo que houveram esses mesmos Capitães a arriscar a vida deles para nos proporcionar esse direito.
Coerência não é, definitivamente, o forte dos portugueses.
Resumindo, os Capitães de Abril devem ser homenageados e devemos sempre lembrar que a nossa democracia poderia ser dez ou vinte anos mais nova do que é ou poderia até nem ser. Contudo, é mais que altura dos Capitães entregarem os frutos da Revolução à mercê do tempo e dos acontecimentos. Fizeram a Revolução mas a Revolução é de todos e como tal devemos todos respeitar da mesma maneira os princípios da mesma. Se não discursam no parlamento, discursam noutro sítio qualquer, com o direito que lhes assiste e toda a gente verá e toda a gente entenderá a mensagem.
Uma história que se repete e que não devia de se repetir é a proeminência que os Capitães de Abril assumem nesta altura.
Antes de começarem a perder massa encefálica à toa, quero dizer que, obviamente, estou grato à liberdade proporcionada pelos Capitães de Abril através das suas nobres e heróicas acções no dia 25 de Abril de 1974, mas também em todos os dias anteriores em que delinearam secretamente toda a estratégia, de forma clandestina e também aí arriscando a sua pele.
Mas, este é o único louvor que se deve atribuir aos Capitães de Abril. Um louvor digno das maiores apreciações, principalmente por esta altura, digno de monumentos, nomes de ruas e mais alguns louvores públicos.
Contudo as acções heróicas são invalidadas, tanto pelos Capitães, como pelos cidadãos, sempre que por esta altura a opinião dos Capitães torna-se demasiado relevante e demasiado reivindicativa.
Nestes dias fala-se dos Capitães que só estariam presentes se pudessem discursar no parlamento.
Eu concordo plenamente com o impedimento do discurso. Parece-me óbvio, aliás, independentemente do discurso que quisessem fazer, fosse ele a favor do governo, contra o governo, a favor da troika, contra a troika, a favor da inspecção automóvel, contra a inspecção automóvel, a favor dos arruamentos do São João, contra a cor das placas de sinalização rodoviária, parece-me óbvio que os Capitães de Abril não têm lugar a discursar no parlamento.
Até porque, não era a Revolução de Abril uma iniciativa para dar o poder ao povo? Eu não votei nos Capitães de Abril, nem lhes reconheço qualquer direito a expressarem-se no local onde os interesses do povo devem ser defendidos.
"Mas," ouço vozes clamorosas a dizer "eles defendem os interesses do povo".
Pode até ser, mas eu não poderei discursar no parlamento sob qualquer tipo de circunstância. Os militares que lutaram no ultramar também não podem. E os interesses do povo são algo de relativo.
Por esse argumento qualquer um poderia lá ir com o pretexto de defender os interesses do povo.
Depois também há aquele argumento de que os Capitães deveriam discursar porque foram eles que criaram as condições para que existisse democracia. Há aqui algumas coisas a apontar. É que, por exemplo os Capitães de Abril proporcionaram uma democracia na qual erradicou-se o poder de pessoas que estavam no poder por defeito. Os lugares como o parlamento são para ser ocupadas por representantes legítimos, através de eleições, pelo povo. Não para ser ocupados por este ou por aquele que apenas porque teve uma acção louvável já tem direito a falar.
Vejamos por exemplo o caso de Otelo Saraiva de Carvalho que teve um papel mais que duvidoso nos eventos do 25 de Novembro de 1975, deve ele ter assim tanto direito a uma intervenção no coração da democracia?
E mesmo que fosse o mais virtuoso, não há absolutamente nenhum voto do povo para lhe dar esse direito.
Eu sei que dirão que os que estão lá no parlamento também são duvidosos, mas, apesar de eu concordar em parte com isso, foram eleitos para lá estar. Eleitos pelo povo e não por uma circunstância.
A questão dos Capitães de Abril serem heróis é meramente circunstancial. A Revolução poderia nunca se ter consumado e daí a dez anos existirem outros revolucionários. Por muito valor que as acções dos Capitães de Abril tenham, elas são frutos da circunstância e da mesma maneira que foram a elas a desencadear a Revolução, poderiam ter sido outros.
Finalmente, fico boquiaberto quando vejo pessoas que dizem/escrevem que a Presidente da Assembleia da República desrespeitou os Capitães e que se esquece que se exerce o cargo que exerce é porque alguém o proporcionou. Fantástico de ouvir numa país em que metade da população votante abstém-se, e orgulha-se disso, esquecendo que houveram esses mesmos Capitães a arriscar a vida deles para nos proporcionar esse direito.
Coerência não é, definitivamente, o forte dos portugueses.
Resumindo, os Capitães de Abril devem ser homenageados e devemos sempre lembrar que a nossa democracia poderia ser dez ou vinte anos mais nova do que é ou poderia até nem ser. Contudo, é mais que altura dos Capitães entregarem os frutos da Revolução à mercê do tempo e dos acontecimentos. Fizeram a Revolução mas a Revolução é de todos e como tal devemos todos respeitar da mesma maneira os princípios da mesma. Se não discursam no parlamento, discursam noutro sítio qualquer, com o direito que lhes assiste e toda a gente verá e toda a gente entenderá a mensagem.