Comércio tradicional

O comércio tradicional é algo que nos últimos anos, tem visto a sua morte ser anunciada várias vezes. É porque os hipermercados abrem ao Domingo. É por causa dos centros comerciais. Enfim, é razão de alarme e de programas de incentivo ao comércio tradicional.

Em meu ver isto é tudo um grande disparate. Eu sou da seguinte opinião. A única maneira do comércio tradicional progredir é estar exposto a todas as ameaças. Quando há ameaças, há oportunidades, por isso, exponha-se o comércio tradicional a essas ameaças, para que o mesmo encontre o seu espaço e para que o mesmo ande para a frente.

Obviamente tenho pena de ver lojas a fechar, as verdade seja dita, ao fim de semana, que é quando as pessoas podem ir passear pelas cidades, é quando todo o comércio tradicional está fechado. É como ter um restaurante e fechar ao almoço e jantar.

O que o comércio tradicional tem de fazer, é procurar o cliente. Permitir que o cliente entre na sua loja quando o cliente lá pode entrar. Porque produto não falta ao comércio tradicional. Oferecem, normalmente, coisas melhores do que as grandes superfícies, por isso não têm que temer, têm é que criar condições para que as pessoas os visitem, em vez de fecharem aos Domingos (e por vezes Sábados) "like lazy ass motherfuckers".

E outra coisa. Muitas vezes quando entro em lojinhas, tenho aquele sentimento de que a pessoa que me está a atender acha que eu sou obrigado a ir àquela loja e, então, o atendimento é antipático e impessoal, e depois "ai Jesus que vamos à falência". Estão à espera do quê? Neste tempo em que as pessoas querem-se sentir bem tratadas, não vão longe com esse tipo de atitude.

O problema do comércio tradicional é que uma loja de roupa interior antigamente, era, provavelmente, a única da vila/cidade e, assim sendo, as pessoas eram "obrigadas" a frequentar essa loja. Hoje em dia não é assim, porque há montes de lojas dessas e ainda há grandes cadeias que se publicitam bastante bem. Porque raio hão-de as pessoas continuar a ir a uma loja onde se é atendido com sobranceria?

O facto é que quem está no comércio tradicional, são as "velhas guardas" que estão a ter dificuldade em aceitar a evolução das coisas. Se calhar, em vez de programas para incentivar as pessoas a ir ao comércio tradicional deviam de elaborar programas para incentivar o comércio tradicional a vender, porque da maneira que alguns (sim, porque há muitas pessoas super simpáticas no comércio tradicional) atendem e estando fechados aos fins-de-semana parece que, mais do que falta de vontade de comprar, há falta de vontade de vender.

Anonimato é cobardia?

Desde que surgiu a internet, surgiu a possibilidade de as pessoas revelarem a sua opinião sem propriamente darem a conhecer a sua identidade. Esta possibilidade levanta uma questão acerca da relação entre o anonimato e a cobardia. E é sobre esta questão que vou escrever agora.

A meu ver, há a opinião generalizada de que o anonimato se associa à cobardia.

De facto, a coisa pode assim ser vista. Temos por exemplo o nosso caso. Aparte de quem conhece os nossos gatos, dificilmente seremos identificados, pelo que eu posso ser uma pessoa próxima de vós, ou então até posso estar a viver no local mais remoto do mundo. Apenas necessito de uma conexão de internet para poder exprimir a minha opinião.

Se me perguntarem porque é que escolhi não ter um username com a minha identidade real e porque é que não revelo a minha localização exacta  a minha resposta é a seguinte.
Sem pretensiosismos, a não ser que se seja alguém conhecido, é impossível ter o nosso nome real como username. Há muita gente com o meu primeiro e último nome. E a verdade é que na internet, pelo menos a meu ver, interessa criar uma entidade que se funde com a nossa identidade real. Isto é, o meu username exprime opiniões, que são as mesmas que eu próprio tenho e defendo no dia-a-dia, e exprime-as da mesma forma que eu as exprimo no dia-a-dia. Contudo, há um distanciamento, a meu ver saudável, que interessa manter e isso leva-me à segunda parte da pergunta acerca da localização. A minha localização, desconhecida (aparte do facto de estar em Portugal) é um pormenor que nada interessa para os temas aqui tratados. Por isso, qual seria o objectivo de a revelar? Nenhum. Na realidade, isso seria apenas um motivo para descarrilar eventuais discussões onde, pessoas mais mesquinhas, iriam implicar que, por eu não ser daqui ou dali, não posso falar, ou parvoíces do género.

Por exemplo, já li comentários por aí, acerca de nós, a dizer que nós não percebemos nada de literatura japonesa porque só temos livros do Murakami, referindo-se aos links presentes no topo do blog que reencaminham para imagens dos nossos livros. Ignorando o facto de, obviamente, a página estar incompleta e desactualizada. (agora que penso nisso, é mesmo preciso ser palhaço para dizer que só tem lá Murakami)
Isto para dizer que, muitas vezes, quantos mais pormenores laterais ao que realmente interessa se dá, mais possibilidades há de sermos confrontados com opiniões e argumentos falaciosos baseados em interpretações (muitas vezes dúbias) desses pormenores laterais que não dizem respeito aos assuntos que realmente interessam.


Imaginando que eu não sou de Lisboa, se eu um dia expressasse a minha opinião relativamente ao Terreiro do Paço, já sei que mais tarde ou mais cedo alguém iria pensar "Ah, não és de Lisboa, não sabes". Isto para dar um exemplo básico.

Portanto, não vejo necessidade de oferecer todos esses elementos para que a minha opinião seja válida. A minha opinião é válida, porque é fundamentada, não porque vivo aqui ou ali.

Obviamente, o anonimato pode sempre ser usado para dizermos coisas sem sermos responsabilizados. Eu posso agora dizer uma série de disparates e a minha vida "real" não iria mudar nem ser afectada por isso. E é nesta questão que as pessoas encontram a cobardia. Porque as pessoas podem usar esse anonimato para ofender e caluniar.

Sim, é verdade. Eu posso acusar as pessoas de tudo e mais alguma coisa sem que nada me aconteça. E isso é cobarde? É. Mas estas situações apenas existem porque é dada demasiada importância às mesmas. Eu já recebi comentários aqui no blog de anónimos a dizerem que eu era estúpido. Obviamente apaguei o comentário, porque a existência do mesmo, é um incentivo à estupidez. Se aqui alguem, através de um comentário anónimo, me acusasse de uma coisa qualquer sem nexo, a minha resposta seria um lol ou desprezo total.

Porém, apesar desta visão de que o anonimato é sinónimo de cobardia, eu não podia estar mais em desacordo.

O anonimato na internet, pode ter coisas más, mas para alguns (certamente para mim), não quer dizer que eu venho aqui mandar postas para o ar, porque estou anónimo. Eu levo a sério este blog e o que defendo aqui defendo em todo lado. E o facto de a entidade que assina isto ser o João X (o número, não a letra) isso não significa que não me incomoda quando a mesma é posta em causa. Aliás, incomoda-me tanto como o meu nome ser posto em causa, porque, mais uma vez, eu levo isto a sério, no sentido de exprimir a minha opinião e defendê-la coerentemente.

Há autores que assinam obras com pseudónimos. Isso quer dizer cobardia? Eu acho que não. Não consigo visualizar um autor a escrever um livro e a não querer saber do mesmo por estar assinado por um pseudónimo. Na verdade o autor do livro irá importar-se tanto com esse livro como com outros que tenha com a sua verdadeira identidade.

O João X, apesar de não ser a minha verdadeira identidade, é na verdade uma parte de mim. Uma parte de mim, pela qual, eu me importo realmente e com a qual tenho a preocupação de a manter o melhor possível.
O facto de se personificar alguém por detrás da entidade que é o João X apenas visa ter um "alvo" físico contra o qual os leitores poderiam dirigir a sua concordância ou a sua discordância. A sua alegria ou a sua raiva. E isso a meu ver, nem sequer é saudável. É muito melhor ler a opinião que eu escrevo, sem o preconceito criado pela existência de uma pessoa por trás dessa opinião. Assim podemos apenas concentrarmo-nos puramente na nossa opinião.

Em resumo, a verdade é que eu podia ter aqui o meu verdadeiro nome e a minha localização e ser anónimo na mesma. Porque, certamente, há muita gente com o meu nome na zona onde eu vivo. Mas é mais vantajoso a meu ver que não se saiba. Assim a minha opinião é apenas uma opinião. Livre de preconceitos para com o autor ou identidade do mesmo.

Onde estás tu, Arménio?

E digo fantoche para não dizer coisas piores, porque de facto se há personagem que me irrita hoje em dia, é Arménio Carlos, responsável pela, "mui nobre", central sindical CGTP.

É importante a existência de sindicatos na democracia, para que se impeçam domínios "fascistas" de patrões ditadores com mais nada em mente para além do lucro próprio.

Contudo tudo o que vemos Arménio fazer é contestar medidas que, maior parte das vezes, nem sequer têm nada a ver com as condições de trabalho das pessoas, condições essas que deveriam ser a essencial bandeira de luta dos sindicatos, ainda mais em tempos de crise.

E ainda mais em tempos de crise porquê? Porque em tempos de crise e cortes e aumentos de impostos há uma tendência de explorar mais os trabalhadores que têm emprego, pois os patrões de Portugal, na generalidade são uns burros incompetentes e desinstruidos que apenas vêem a exploração dos trabalhadores  como forma de rentabilizar as suas empresas. Incluo neste rol o meu patrão que é um valente nabo.

O que acontece quando as empresas começam a declinar é que, em vez de arranjarem novas formas de rentabilizar as suas empresas, através de novas oportunidades que vão surgindo, limitam-se a baixar a cabeça e olhar para os cadernos de contabilidade para ver se as despesas correntes baixam e, a única maneira de baixar os custos é explorar os trabalhadores.
Não é o meu caso, felizmente, mas eu conheço muita gente que faz horas e não é paga. Muita gente que não teve os seus respectivos aumentos (no tempo em que ainda havia dinheiro). Muita gente que é pressionada para se despedir. Muita gente que trabalha 10, 12, 15 e 18 (DEZOITO) horas seguidas, sem tempo para comer sequer. E a lista vai por aí fora (isto, só no meu local de trabalho).

E onde está o Arménio? E toda a CGTP, nestes momentos?

A realidade, é que a CGTP é apenas uma associação corporativa com uma agenda a quem nada interessa o que se passa fora da sua corporação e fora da realidade política que envolve o PCP.

A realidade é que a CGTP ninguém nunca a vê a visitar os locais de trabalho, voluntariamente. A CGTP é uma associação que não sai do seu banquinho a não ser que um dos seus associados esteja a clamar por ajuda e, mesmo para esses, são desleixados.

A CGTP devia de, uma vez por outra, porque obviamente nem sequer hão-de ter muitos colaboradores para isso, mas deviam de passar uma vez por outra nos vários lugares onde se trabalha e avaliar as condições de trabalho em questão, porque o sindicato pode.

Mas a CGTP apenas aparece se um dos seus associados (desde que esteja com as quotas em dia, porque solidariedade não faz parte do vocabulário, nem que seja apenas para responder a uma pergunta) gritar ajuda. Só que a CGTP "resolve" o problema mas rapidamente desaparece nas sombras. Ignorando o facto de que, grande parte das pessoas que avança para queixas através do sindicato, rapidamente é vítima de assédio que força, na maior parte, essas pessoas a despedirem-se em vista de não se conseguirem aguentar o constante assédio e pressão da entidade patronal.

E onde está o Arménio? O grande amigo dos trabalhadores que só aparece a fazer discursos nas manifestações e a reforçar as ideias já veiculadas pelo Partido Comunista Português.

Está a dar entrevistas em que fala sobre o Orçamento de Estado, que pode bem ser causa de ainda mais exploração dos trabalhadores. Mas a verdade é que a exploração nem sequer é prevenida (nem sequer existe a tentativa) pela sindical que é liderada pelo Arménio.

O que mais me choca é que este ser o senhor que proclama ser o baluarte da defesa dos trabalhadores, quando na verdade, metade dos discursos que o oiço fazer é acerca de economia e não de condições de trabalho. E o maior esforço que o vejo fazer é em relação a política e não em relação ao que se passa nos locais de trabalho. E por isso, quando vejo as pessoas a definharem nos seus trabalhos porque os patrões são umas bestas esclavagistas, pergunto para mim próprio.

Onde estás tu, Arménio?

Quem dá e volta a tirar, ao Inferno vai parar

"Quem dá e volta a tirar, ao Inferno vai parar", vão dizer muitos quando lerem isto.

Há pouco mais de um ano, postei aqui um post (é verdade, podia ter sido outra coisa qualquer mais foi um post) a sugerir a visita do Tumblr d'A Livreira Anarquista.

E continuo a sugerir, mas, pelo amor da sinceridade, tenho de emitir o seguinte comentário negativo à Livreira Anarquista.

Isto porque, foi editado um livro pela própria com as passagens do seu Tumblr. E eu, francamente desapontado por esta opção, tenho de confessar o meu desgosto relativamente a isso, da mesma forma que expressei alegria aquando da sugestão que aqui fiz no post acima referido.

Editar um livro que consiste em algo que já existe num formato grátis é uma de duas coisas.

Coisa nº 1

Parvoíce - O acto de publicar um livro que já existe num formato grátis é um puro e simples acto de desperdício de recursos para nada. É como ter um telemóvel para mandar mensagens e outro para ligar a dizer exactamente a mesma coisa. É inútil e sem objectivo claro. Não há nada de artístico. Não há nada de informativo nem nada de entretenimento. E digo isto d'A Livreira Anarquista, como digo da Pipoca Mais Doce e do diabo a sete.

Coisa nº 2

Dinheiro - Publicar um livro destes obviamente irá dar algum dinheiro. As pessoas que já leram eventualmente irão querer ter o livro por uma questão de culto. Outras já conhecem mas quererão ter o livro para ver se há algo "extra". Novas publicações, ilustrações, pormenores sobre a livreira etc. E outros ainda irão descobrir A Livreira Anarquista pela primeira vez.

Concluindo, é natural que A Livreira Anarquista queira aproveitar a oportunidade de fazer uns trocos, o que é sempre bom. Mas convém dizer que A Livreira Anarquista é a livreira que "destrói"os livros incipientes que pelas suas mãos passam. Que faz questão em sublinhar a inutilidade e falta de objectivo de alguns livros. E agora publica um livro, também ele incipiente e desprovido de sentido existencial.

Note-se, que obviamente continuo a louvar A Livreira Anarquista pela qualidade do seu blog. Continuo a seguir e continuo a achar muito interessante e divertido. Aliás, continuo a recomendar a visita. Mas da mesma maneira que senti necessidade de elogiar e recomendar sinto necessidade agora de criticar e expressar a minha tristeza com o facto.

Obviamente não vou para ao Inferno porque nada tirei, apenas fiz um reparo. Até porque eu sou muito bom rapaz.