Estupidez Mórbida

Eu não queria referir-me muito a este caso porque é um caso mórbido, de contornos macabros e que toda a gente por aí fala.

Refiro-me ao assassinato do cronista Carlos Castro em Nova Iorque. Eu muito sinceramente nunca simpatizei com o Carlos Castro, mas o que aconteceu deixou-me chocado por causa dos contornos da situação.

A gota de água foi uma notícia em que se relata que a família e amigos do (mais que) presumível assassino, vão enviar (ou já enviaram) à Oprah Winfrey, Barack Obama, José Sócrates e Cavaco Silva um pedido de apoio ao coitado que está preso.

Vamos recapitular. Ele confessou que espancou violentamente o cronista, que tentou mutilar-lhe os genitais uma primeira vez e que não conseguiu e que após uma segunda tentativa lá conseguiu. Que lhe atirou com um computador à cabeça e que lhe bateu com um portátil. Após isso foi cortar os pulsos e enfiar-se num hospital, sendo capturado e confessando o crime aos detectives.

A família pode estar muito triste, o que é muito normal e lamento. Mas não venham agora dizer que ele foi atrás de promessas vãs e que não era gay. Nada disso é explicação para o sucedido. Porque seria triste mas seria compreensível se ele estivesse a ser ameaçado ou mesmo agredido e respondesse e eventualmente matasse o tipo, isto é, seria em legítima defesa, mas não é de todo o caso. Foi um espancamento brutal e sem qualquer piedade.

Gostava que a família e amigos desse aspirante a modelo, tivessem um pingo de vergonha e pensassem que sempre que estão a invocar as suas tristezas para o defender estão a insultar a memória do morto e a dor de todos os familiares e amigos que nunca mais poderão estar com uma pessoa de quem gostavam. E gostava que parassem de tentar arranjar justificações para o óbvio. Porque nada justifica o que se passou naquele hotel.

O Escravo Radical

Ora bem, para limpar aqui um bocado o ar vou falar de uma banda que não deve ser muito conhecida por aqui. Radical Slave.

A banda é orquestrada por esse grande músico que nós por aqui apreciamos muito chamado Mauro Pawlowski. Conta com Dirk Swartenbroekx na guitarra e nos efeitos esquisitos e Remo Perroti na bateria.

A música é um pouco aquilo que se classifica como noise rock, mas a banda credita~se de ser uma banda no wave que também acenta bem.

O estilo basicamente passa por uma sobredosagem de som em quase todas as músicas por forma a que elas parecem terrivelmente sinistras por vezes e fantasticamente extasiantes.



Este primeiro vídeo é do primeiro single extraido do album Damascus, editado em 2010. Before we got rich é um vídeo que já apareceu aqui no blog noutro post. Uma música de rock desvairado e que é a música mais facil de ouvir do disco. O vídeo em si, apesar da concepção não ser nada de arrasadoramente bestial, está bastante bem filmado.


Devil in a Box é o segundo single e já vai mais dentro daquilo que é o resto do album, embora sobreviva à base de uma guitarra poderosa durante quase toda a música. O vídeo é estranho, mas de certa forma viciante. Reflectindo, aliás, a atmosfera do disco. Estranho mas viciante.


Finalmente a música que dá nome ao album foi gravada ao vivo e felizmente há um vídeo desse concerto e dessa música. É para mim a melhor música do disco e é ainda melhor saber que foi gravada ao vivo e de improviso, facto que é possível constatar com alguma descoordenação momentânea em certas partes da música.

A atmosfera do disco é um pouco negra e por vezes desesperada, como em Make you like you make me e outras vezes completamente extasiante como em Proto Man.

Tanto quanto sei este disco só se encontra para venda através de download. Para quem gostar deste tipo de noise rock, aconselho. Poderá não ser a obra prima do género mas é bastante bom.

Uma opinião diferente

Há uma coisa que a geração de jovens de hoje em dia não quer ouvir.

A vida é dura. Tem que se trabalhar muito para se chegar a algum lado. São mais as dificuldades que as facilidades. São mais as pessoas contra nós do que as pessoas a nossa favor. São mais as coisas que não gostamos do que as coisas que gostamos. São mais as coisas que nos puxam para trás do que as que nos empurram para a frente.

Isto obviamente tem a ver com a palhaçada que se instala em Portugal por causa da porcaria de uma música que diz e afirma algumas incoerências latentes na geração jovem da actualidade.

A música dos Deolinda, tal como disse aqui ontem, é incongruente com a postura criticada no Movimento Associativo Perpétuo. Se é certo que Movimento Associativo Perpétuo se referia a uma faixa etária mais velha que está actualmente em posse de mais poderes no nosso país, também é verdade que esse tratamento já se alastrou e muito aos jovens que entram agora no mercado de trabalho. Quanto menos se faz, menos se quer fazer.

Era bom que houvessem mais empregos e isso tudo e que os que há não fossem maioritariamente precários. Aliás, era bom que o mundo fosse perfeito. Mas não é. Por isso parem de bater com a cabeça na parede por causa disso. Não adianta. Não quero eu dizer que as pessoas não têm o direito à revolta ou ao sentimento de injustiça. Claro que têm.

Há vários problemas. E passo a citar notícias e a acrescentar os meus comentários.

"O tema novo reflecte as preocupações de uma geração que não tem emprego fixo, vive em casa dos pais e adia ter filhos porque não tem dinheiro."Sou da geração sem remuneração/e não me incomoda esta condição/Que parva que eu sou!/Porque isto está mal e vai continuar/já é uma sorte eu poder estagiar", canta Ana Bacalhau, vocalista do grupo português. E o refrão foi repetido e replicado nas redes sociais:"Que mundo tão parvo/onde para ser escravo é preciso estudar"."

Este excerto faz parte desta notícia. O tema pode reflectir muita coisa mas até os Deolinda cairam na esparrela de escrever isso na letra, inteligentemente omitida por este grande jornalista mas que eu citarei aqui, o verso completo.

Sou da geração ‘casinha dos pais’,

se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar

Pois é, os Deolinda aqui retratam essencialmente duas realidades. A primeira. A casinha dos pais é um sítio de que toda a gente se queixa, mas ninguém quer de lá sair. É muito confortável. A segunda é, metade dos jovens portugueses não precisa do carro para nada. Principalmente aqueles que vivem em grandes centros urbanos. Porto e Lisboa têm uma excelente rede de Metro e as outras cidades não tão grandes têm normalmente uma rede suficiente de transportes públicos. Então para quê ter um carro? É que mesmo que se seja casado, a questão é a mesma. A maior parte das pessoas não precisa de carro para nada. Estas duas realidades conjugam-se num terceiro aspecto. Que é o de queixarmo-nos do mundo para dizer que a culpa não é nossa. E não é por um lado, mas é por outro porque cabe a cada um de nós mudar o rumo da nossa vida. E com essa mudança, mudar, progressivamente, as mentalidades. Se todos pensassem em trabalhar, duro. Se todos aceitassem trabalhar no duro numa fábrica, independentemente do curso de engenharias ou da licenciatura em ensino, se todos trabalhassem e continuassem à procura de algo melhor, conseguiriam algo melhor. É muito fácil olhar para o Belmiro de Azevedo e dizer que ele é que está bem, mas esquecemo-nos, ele para lá chegar, teve que trabalhar muito. Muito mais do que aquilo que possamos imaginar.

Eu por acaso já tive oportunidade de ver de perto pessoas que se esfolam a trabalhar. Sempre a viajar, sempre a atender o telefone, em constante contacto por e-mail, mal comem, quando vão para hotéis passam a noite acordados para fazer trabalho, dormem três ou quatro horas etc etc etc. O máximo que eu já fiz foi trabalhar em dois empregos simultaneamente, começava às 8 da manhã e acabava à meia noite. Todos os dias, não havia um dia de descanso. E foi duro. Agora imaginem o que é fazer isso todos os dias durante anos a fio e têm aí o estilo de vida necessário para chegar a algum lado, a pulso.

"A ironia caustica dos Deolinda não só sublinha, exemplarmente, o tipo de sociedade que estamos a construir - com o seu cortejo de injustiças, de negação do mérito e, até, de sublimação do sonho - como questiona de forma implacável, o fatalismo atávico que nos caracteriza "Sou da geração vou queixar-me para quê / há alguém muito pior que eu na TV". É uma letra simples mas poderosa, que o som, de raíz na música popular portuguesa, contribui para reforçar."

Este artigo poder ler-se na totalidade aqui.

Eu acho que se há alguma coisa que esta palhaçada toda sublinha é a falta de pensamento das pessoas, incluindo cronistas e jornalistas. Aqui em Portugal há muito de quem se queixe e pouco de quem trabalha. E normalmente os que se queixam mais, são aqueles que fazem menos. Eu não grito nem concordo com este burburinho que se criou e no entanto hoje quando cheguei ao trabalho tive de fazer todo o trabalho da pessoa que esteve aqui 8 horas a fazer nada. E não me queixo por uma razão muito simples, este local não merece que me desgaste a remar contra a maré, pois noutras ocasiões já teria vociferado contra a injustiça aqui presente. Eu olho à minha volta e só veja gente parva e ridícula que o maior orgulho que têm é poder mostrar o iPhone. É poder mostrar as fotografias que tiraram com um fotógrafo profissional (e que foram bem pagas) para eventuais trabalhos de moda (que é uma das típicas carreiras que aparentemente são fáceis). As pessoas querem a saída fácil. Ser músicos e dar concertos por aí fora e fazer dinheiro, ou então serem jogadores da bola. É o caminho aparentemente fácil, contudo, ao topo, só chegam aqueles que realmente estão dispostos a deixar tudo pela sua profissão, seja modelo, futebolista ou o que quer que seja. É assim que se ganha na vida. Dando tudo e mais alguma coisa. Não apenas enveredando pelo caminho aparentemente fácil e esperar que a vida nos ajude.
O fatalismos dos portugueses, é limitarem-se a conjurar conluios que outros fizeram contra nós. É dizer "Ah o meu patrão não percebe nada, porque no outro dia disse para eu falar menos e trabalhar mais e eu só estava a explicar não sei o quê" ou "Ah as minhas colegas de trabalho estão todos contra mim e de mim não gostam, não sei porquê, devem ter inveja, e por isso é que vim para a rua".
Se há coisa que eu aprendi desde que comecei a trabalhar é que para quem trabalha bem há sempre lugar. E há muita gente que a início trabalha bem mas depois desliza para uma posição cómoda e confortável da qual não querem sair e depois não gostam quando são chamados, e bem, à atenção.

Ah e música popular portuguesa não. Música popular lisboeta, convém esclarecer

Aqui pode-se ler a seguinte declaração.

"E, de repente, uma geração inteira descobriu o seu hino."

E eu digo. Uma geração inteira o caralho. Porque eu concordo muito com o que se diz na Month of May dos Arcade Fire. How you gonna make things right with your arms folded tight? Traduzindo, como é que se vão mudar as coisas de braços cruzados? Os Deolinda só estão a ajudar as pessoas a cruzar ainda mais os braços e a sacudir a água do capote, ao invés de incentivar a trabalhar mais para consegui mudar as coisas. A levantarem a sua voz contra aquilo que é realmente injusto, que é um bando de tipos que andam na universidade a queixarem-se do preço das propinas, mas que possuem todos um belo pópó. Que queixam-se do preço dos livros e dos materiais mas que arranjam sempre dinheiro para a festarola a meio da semana.

Há por aí um dizer que é "Quem não trabuca, não manduca"

Quem não trabalha não pode aspirar a luxos. Não pode estar sempre a comprar discos, a ir a concertos a festas e etc. Não pode ter um carro e em certos casos não pode ter independência.

Quem trabalha não pode dar tudo como garantido. Não pode gastar como se não houvesse amanhã. Quando se fala da crise penso. Ainda não ouvi ninguém a dizer, vou poupar porque está crise e então vou fazer contenção. Eu vejo antes as pessoas a consumir até não poderem mais e então dizem "Ah está crise, não se pode gastar muito" mas já o gastaram.

A música dos Deolinda é o espelho perfeito, não das dificuldades, mas da geração da lamentação. A tal geração precoce que eu falei num post em Setembro de 2010. Uma geração que se resigna a músicas de intervenção de merda e a fazer uns posts no facebook e nos blogues a concordar com a onda. E são todos muito revolucionários, mas o pensamento esse, é o mais comodista possível. Provavelmente estas pessoas vão todas comprar o single o que dá que pensar. Quem ainda não pagou o carro e tem trabalho precário, como vai conseguir o dinheiro? É só uma pergunta.

Podem dizer que sou do contra, mas é assim, esta é a minha opinião, diga-se o que se disser. Da maneira que eu vejo as coisas é tudo uma grande palermice. Apenas mais um tema para os coitadinhos dos jovens dissecarem nas suas tertúlias de fim de semana, que fazem, apesar do carro estar por pagar etc etc.

Se eu tivesse que dar uma mensagem seria.

Estudem bem, aproveitem para se formar, não só nas aulas, mas nos imensos recursos que as universidades dão. Comecem a pensar num plano. Quando sairem dos estudos procurem emprego que vos dê algum dinheiro e tentem pôr o vosso plano em prática, procurando o emprego que querem ou então reunindo o material que necessitam para a vossa própria empresa. E é esperar pelo momento certo para mudar e trabalhar quando a oportunidade certa aparecer. Agarrá-la com unhas e dentes e dar tudo por tudo. E acima de tudo, pensem pela vossa cabeça. Coisa que acontece muito pouco hoje em dia.

Vou colar aqui a mesma letra que colei da outra vez que escrevi sobre a geração precoce:

Air of a temptress
Buxom and bright
We're not missing anything
At least not tonight
Chimera of charm
Innocent of hardship
Luxurious qualm
In a self-darkened daytrip
And then I'll take you home
Where we live and where we roam
Is a robot zone
We don't really care
If the world is a mess
We are programmed to the grid
Of pleasure and bliss

But arrows or drifters
We all just pretend
That we will not succumb
To the ultimate trend
And then I'll take you home
Where we live and where we roam
Is a robot zone

We like the attention
But we hate to be judged
As we proudly parade
Where we see others trudge

We are slaves to addictions
That have no effect
And with loving precision
Isn't it love we dissect
And then I'll take you home
Where we live and where we roam
On the bed and on the phone
Don't stop, cause every place you've known
Is a robot zone

A propósito dos últimos acontecimentos...

   Como sei que o meu querido colega de blog vai escrever um post sobre o assunto, eu não vou repetir, até porque sou da mesma opinião (obviamente se fosse de opinião contrária não seria repetição), mas voltando ao ponto, a propósito das maravilhosas músicas de "intervenção" cof cof..., do momento, e da quantidade de cutxi-cutxi da geração que não têm nem trabalho, nem casa, curiosamente têm uma prestação de carro mas adiante, e a propósito também da maioria das atitudes que posso observar no meu dia-a-dia principalmente pela universidade, aqui fica uma música e, quem sabe, uma sugestão. Para quem? Bem, no fundo não é para ninguém em particular pois a maioria das pessoas que têm certas atitudes nunca iriam parar para pensar, muito menos por uma canção, por um blog, porque no fundo elas é que têm razão e eu não. Mas o blog é meu e eu escrevo o que me apetece, ahah ousadia!
Poderia pôr tantas músicas para isto. Mas a coisa é, eles vêm cá, e passados quatro anos, eu vou matar saudades, e vou cantar a plenos pulmões e emocionar-me e vibrar com cada segundinho da música mais que maravilhosa, mais que preenchedora, que estes senhores fazem, e com a qual tanto me identifico já desde há muito tempo atrás. E agora com umas músicas novas para entoar, para dar início a uma nova fase, para cantar ainda mais! E como eu vou estar lá, ao vivo e a cores para cantar com eles, para me divertir com eles, para aquela noite me encher a alma para uma data de tempo mais uma vez, aqui fica o vídeo, antes que eu me torne muito lamechas.


(Uma actuação particularmente energética e mega espectacular)




Now the kids are all standing with their arms folded tight
The kids are all standing with their arms folded tight
Now, some things are pure and some things are right
But the kids are still standing with their arms folded tight
I said some things are pure and some things are right
But the kids are still with their arms folded tight

So young, so young
So much pain for someone so young, well
I know it's heavy, I know it ain't light
But how you gonna lift it with your arms folded tight?

The End

Bem, acabaram-se os White Stripes. Não foi um choque. Primeiro porque para uma banda que editava discos quase todos os anos estar 3 anos sem fazer nada é obviamente mau sinal.

E depois porque o Jack White basicamente está a continuar a música que fazia nos White Stripes, nos Dead Weather, só que a tinta está a acabar. E Jack White parece estar parado no tempo, porque os Dead Weather são um remake fraquinho dos White Stripes e a perder gás.

Houve tempos em que eu achava que o Jack White era um génio da música. Vi os White Stripes ao vivo em 2007 na única visita que eles fizeram a Portugal e foi um grande concerto. Sem dúvida que ele é um grande guitarrista e tem todos os dotes necessários para fazer música de qualidade, como já fez, nos White Stripes e Raconteurs. Mas desde o Elephant que as músicas que ele faz soam a deja vu de algo que ele próprio já fez. As músicas são giras mas já não tem aquela espectacularidade que a simplicidade lhes dava. Nos Raconteurs Jack White realmente floresce. Não canta sempre e tem uma banda a apoiar os seus devaneios. Gostava de ouvir um novo disco deles. Acho que o Jack White combina muito bem com o Brendan Benson a compor.

Hoje em dia, acho o Jack White uma figura desgastada. Sempre a bater na mesma tecla do rock seventies e sem realmente fazer algo de novo. Sem surpreender.

É pena que os White Stripes tenha acabado porque sempre pensei que pelo menos iam dar os concertos que cancelaram em 2008, que era o mínimo, para todas aquelas pessoas que os queriam ver na altura  não puderam por causa da doença da Meg. Mas bem, também tinha esperança que voltassem diferentes e com coisas novas. Mas pronto, acabou.

Quanto ao comunicado acho piada dizerem que "não foi por divergências artísticas" como se alguém acreditasse que a Meg tinha alguma opinião no meio daquilo tudo. Ahah.
Porque era giro vê-la a tocar bateria, mas a verdade é que aquilo não era o dom dela.

Bem...

Farewell White Stripes

Uma Deo aos Odelinda

É verdade, hoje vou fazer uma ode sarcástica aos Deolinda.

E porquê? Porque me apetece.

Recentemente os Deolinda apareceram etiquetados como uma banda fora do normal e com alguns contornos de "música de intervenção". Principalmente por causa desta canção que o Nuno Markl publicitou na rádio na sequência de uma petição criada na internet para que esta música se tornasse hino nacional

Passo a citar a letra

"Agora sim, damos a volta a isto!

Agora sim, há pernas para andar!
Agora sim, eu sinto o optimismo!
Vamos em frente, ninguém nos vai parar!

-Agora não, que é hora do almoço...
-Agora não, que é hora do jantar...
-Agora não, que eu acho que não posso...
-Amanhã vou trabalhar...


Agora sim, temos a força toda!
Agora sim, há fé neste querer!
Agora sim, só vejo gente boa!
Vamos em frente e havemos de vencer!


-Agora não, que me dói a barriga...
-Agora não, dizem que vai chover...
-Agora não, que joga o Benfica...
e eu tenho mais que fazer...
Agora sim, cantamos com vontade!
Agora sim, eu sinto a união!
Agora sim, já ouço a liberdade!
Vamos em frente, e é esta a direcção!
-Agora não, que falta um impresso...
-Agora não, que o meu pai não quer...
-Agora não, que há engarrafamentos...
-Vão sem mim, que eu vou lá ter..."

Pois então, agora a mais recente intervenção dos Deolinda consta da seguinte letra.

"Sou da geração sem remuneração

E não me incomoda esta condição
Que parva que eu sou
Porque isto está mal e vai continuar
Já é uma sorte eu poder estagiar
Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração "casinha dos pais"
Se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
E ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar
Sou da geração "vou queixar-me pra quê?"
Há alguém bem pior do que eu na TV
Que parva que eu sou
Sou da geração "eu já não posso mais!"
Que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou
E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar"

Pois bem, eu sei que a maior parte das pessoas acha que os Deolinda são o futuro da música portuguesa porque juntam fado com (super) pop e com (fairy) mais não sei o quê. Tanto quanto em dá a entender, para o bem e para o mal, não passa de um estilo de música bastante derivado do fado, com pouquíssimos toques de outro estilo qualquer. Isto quanto às músicas que já ouvi, que são as que passam na rádio, dado que eu, sem pôr em causa a qualidade ou falta dela, não gosto da música deles. E normalmente não faria um post apenas para dizer que não gosto.

O que eu não gosto menos é que se diga que o Movimento Perpétuo Associativo (MPA) seja uma música de intervenção que retrata o português e que depois o Que Parva Que Eu Sou (QPQES) seja também uma música de intervenção que choca de frente com o MPA.

Pois bem, que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar. O problema, é que a maior parte das pessoas vai para universidade fazer festa e por consequência tira uma licenciatura. É comum ver pessoas que queriam ir para coisas relacionadas com medicina, do género fisioterapia ou enfermagem, acabarem a estudar em cursos de línguas, porque bem, chegam aos 18 anos e não sabem bem o que querem e então é o que tem a média mais baixa. E por aí adiante. Podia entrar numa epopeia de disparates que a maior parte dos estudantes universitários faz.

Seguindo a minha linha de pensamento. Estas pessoas que andaram na universidade levianamente, mais tarde vão arranjar um emprego, ou pelo menos vão procurar. E alguns, vão arranjar um emprego num snack bar, ou num restaurante, ou a repôr as estantes de um hipermercado ou a vender de porta em porta, até que a oportunidade certa apareça para mudarem.

Outros, ficam por casa dos pais, à espera de que o emprego ideal lhes caia do céu. Não querem nada, a não ser aquilo para que foram formados. De preferência esperam que outros encontrem o emprego e avisem. É como se tivessem olheiros. Deve ser muito giro.

Por fim, há aqueles que têm sorte e lá arranjam um bom emprego, através de uma oportunidade realmente boa, ou então de uma cunha qualquer.

Obviamente de cada um dos três casos que enunciei poderão vir a sair grandes trabalhadores. Aplicados e interessados no seu trabalho. Mas a verdade é que praticamente todas as pessoas que eu conheço e que trabalham têm a filosofia de que quanto menos, melhor. São os do MPA que saíram do QPQES porque estão sempre a queixar-se que ganham pouco, mas também nunca fazem nada para melhorar.

Nunca se viu ninguém chegar a lado nenhum sem muito trabalho. Seja licenciado ou alguém com a 4ª classe. A verdade é que a licenciatura não nos garante nada. Pessoas com grandes médias são grandes fracassos a trabalhar e grandes trabalhadores foram estudantes que tiveram dificuldades na escola. Quando se chega ao mercado de trabalho, o trabalho é que prova a qualidade e, infelizmente, por enquanto nós portugueses somos maioritariamente o MPA e a QPQES juntos. O que é uma grande incongruência.

Aqui é que me irrita a intervenção dos Deolinda, porque como é possível ser sarcástico com a atitude no MPA e depois defender os coitadinhos que estudaram e agora têm de trabalhar na QPQES? É o que mais me irrita nas pessoas que nasceram nas décadas de 70 e 80. É que eu vejo a maior parte (e chamo a atenção que obviamente não são TODOS, mas sim uma franja que é maior do que aquilo que devia) e coitadinhos, estudaram tanto na Licenciatura de Turismo e agora sentem-se ultrajados por serem Agentes de Viagens, porque o curso deles é para administrativo, não para fazer o trabalho sujo de ir levar cartas aos correios ou de tratar de assuntos no banco. São o MPA que apesar de terem uma atitude reprovável são defendidos na QPQES.

Basicamente é que as pessoas que supostamente se encaixam no perfil de coitadinhos da QPQES apresentam as suas queixas e justificações para serem o Movimento Perpétuo Associativo.

E agora toda a gente vê e diz "Sim Senhor, que verdades bem ditas" ou "É difícil executar qualquer projecto de vida porque é tudo muito caro", apesar de na QPQES a personagem ter um carro a pagar, que maior parte dos portugueses não precisa.

Daí que se isto é intervenção, é uma intervenção forçada e que choca com outra intervenção. O que não faz sentido.