Há uma coisa que a geração de jovens de hoje em dia não quer ouvir.

A vida é dura. Tem que se trabalhar muito para se chegar a algum lado. São mais as dificuldades que as facilidades. São mais as pessoas contra nós do que as pessoas a nossa favor. São mais as coisas que não gostamos do que as coisas que gostamos. São mais as coisas que nos puxam para trás do que as que nos empurram para a frente.

Isto obviamente tem a ver com a palhaçada que se instala em Portugal por causa da porcaria de uma música que diz e afirma algumas incoerências latentes na geração jovem da actualidade.

A música dos Deolinda, tal como disse aqui ontem, é incongruente com a postura criticada no Movimento Associativo Perpétuo. Se é certo que Movimento Associativo Perpétuo se referia a uma faixa etária mais velha que está actualmente em posse de mais poderes no nosso país, também é verdade que esse tratamento já se alastrou e muito aos jovens que entram agora no mercado de trabalho. Quanto menos se faz, menos se quer fazer.

Era bom que houvessem mais empregos e isso tudo e que os que há não fossem maioritariamente precários. Aliás, era bom que o mundo fosse perfeito. Mas não é. Por isso parem de bater com a cabeça na parede por causa disso. Não adianta. Não quero eu dizer que as pessoas não têm o direito à revolta ou ao sentimento de injustiça. Claro que têm.

Há vários problemas. E passo a citar notícias e a acrescentar os meus comentários.

"O tema novo reflecte as preocupações de uma geração que não tem emprego fixo, vive em casa dos pais e adia ter filhos porque não tem dinheiro."Sou da geração sem remuneração/e não me incomoda esta condição/Que parva que eu sou!/Porque isto está mal e vai continuar/já é uma sorte eu poder estagiar", canta Ana Bacalhau, vocalista do grupo português. E o refrão foi repetido e replicado nas redes sociais:"Que mundo tão parvo/onde para ser escravo é preciso estudar"."

Este excerto faz parte desta notícia. O tema pode reflectir muita coisa mas até os Deolinda cairam na esparrela de escrever isso na letra, inteligentemente omitida por este grande jornalista mas que eu citarei aqui, o verso completo.

Sou da geração ‘casinha dos pais’,

se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar

Pois é, os Deolinda aqui retratam essencialmente duas realidades. A primeira. A casinha dos pais é um sítio de que toda a gente se queixa, mas ninguém quer de lá sair. É muito confortável. A segunda é, metade dos jovens portugueses não precisa do carro para nada. Principalmente aqueles que vivem em grandes centros urbanos. Porto e Lisboa têm uma excelente rede de Metro e as outras cidades não tão grandes têm normalmente uma rede suficiente de transportes públicos. Então para quê ter um carro? É que mesmo que se seja casado, a questão é a mesma. A maior parte das pessoas não precisa de carro para nada. Estas duas realidades conjugam-se num terceiro aspecto. Que é o de queixarmo-nos do mundo para dizer que a culpa não é nossa. E não é por um lado, mas é por outro porque cabe a cada um de nós mudar o rumo da nossa vida. E com essa mudança, mudar, progressivamente, as mentalidades. Se todos pensassem em trabalhar, duro. Se todos aceitassem trabalhar no duro numa fábrica, independentemente do curso de engenharias ou da licenciatura em ensino, se todos trabalhassem e continuassem à procura de algo melhor, conseguiriam algo melhor. É muito fácil olhar para o Belmiro de Azevedo e dizer que ele é que está bem, mas esquecemo-nos, ele para lá chegar, teve que trabalhar muito. Muito mais do que aquilo que possamos imaginar.

Eu por acaso já tive oportunidade de ver de perto pessoas que se esfolam a trabalhar. Sempre a viajar, sempre a atender o telefone, em constante contacto por e-mail, mal comem, quando vão para hotéis passam a noite acordados para fazer trabalho, dormem três ou quatro horas etc etc etc. O máximo que eu já fiz foi trabalhar em dois empregos simultaneamente, começava às 8 da manhã e acabava à meia noite. Todos os dias, não havia um dia de descanso. E foi duro. Agora imaginem o que é fazer isso todos os dias durante anos a fio e têm aí o estilo de vida necessário para chegar a algum lado, a pulso.

"A ironia caustica dos Deolinda não só sublinha, exemplarmente, o tipo de sociedade que estamos a construir - com o seu cortejo de injustiças, de negação do mérito e, até, de sublimação do sonho - como questiona de forma implacável, o fatalismo atávico que nos caracteriza "Sou da geração vou queixar-me para quê / há alguém muito pior que eu na TV". É uma letra simples mas poderosa, que o som, de raíz na música popular portuguesa, contribui para reforçar."

Este artigo poder ler-se na totalidade aqui.

Eu acho que se há alguma coisa que esta palhaçada toda sublinha é a falta de pensamento das pessoas, incluindo cronistas e jornalistas. Aqui em Portugal há muito de quem se queixe e pouco de quem trabalha. E normalmente os que se queixam mais, são aqueles que fazem menos. Eu não grito nem concordo com este burburinho que se criou e no entanto hoje quando cheguei ao trabalho tive de fazer todo o trabalho da pessoa que esteve aqui 8 horas a fazer nada. E não me queixo por uma razão muito simples, este local não merece que me desgaste a remar contra a maré, pois noutras ocasiões já teria vociferado contra a injustiça aqui presente. Eu olho à minha volta e só veja gente parva e ridícula que o maior orgulho que têm é poder mostrar o iPhone. É poder mostrar as fotografias que tiraram com um fotógrafo profissional (e que foram bem pagas) para eventuais trabalhos de moda (que é uma das típicas carreiras que aparentemente são fáceis). As pessoas querem a saída fácil. Ser músicos e dar concertos por aí fora e fazer dinheiro, ou então serem jogadores da bola. É o caminho aparentemente fácil, contudo, ao topo, só chegam aqueles que realmente estão dispostos a deixar tudo pela sua profissão, seja modelo, futebolista ou o que quer que seja. É assim que se ganha na vida. Dando tudo e mais alguma coisa. Não apenas enveredando pelo caminho aparentemente fácil e esperar que a vida nos ajude.
O fatalismos dos portugueses, é limitarem-se a conjurar conluios que outros fizeram contra nós. É dizer "Ah o meu patrão não percebe nada, porque no outro dia disse para eu falar menos e trabalhar mais e eu só estava a explicar não sei o quê" ou "Ah as minhas colegas de trabalho estão todos contra mim e de mim não gostam, não sei porquê, devem ter inveja, e por isso é que vim para a rua".
Se há coisa que eu aprendi desde que comecei a trabalhar é que para quem trabalha bem há sempre lugar. E há muita gente que a início trabalha bem mas depois desliza para uma posição cómoda e confortável da qual não querem sair e depois não gostam quando são chamados, e bem, à atenção.

Ah e música popular portuguesa não. Música popular lisboeta, convém esclarecer

Aqui pode-se ler a seguinte declaração.

"E, de repente, uma geração inteira descobriu o seu hino."

E eu digo. Uma geração inteira o caralho. Porque eu concordo muito com o que se diz na Month of May dos Arcade Fire. How you gonna make things right with your arms folded tight? Traduzindo, como é que se vão mudar as coisas de braços cruzados? Os Deolinda só estão a ajudar as pessoas a cruzar ainda mais os braços e a sacudir a água do capote, ao invés de incentivar a trabalhar mais para consegui mudar as coisas. A levantarem a sua voz contra aquilo que é realmente injusto, que é um bando de tipos que andam na universidade a queixarem-se do preço das propinas, mas que possuem todos um belo pópó. Que queixam-se do preço dos livros e dos materiais mas que arranjam sempre dinheiro para a festarola a meio da semana.

Há por aí um dizer que é "Quem não trabuca, não manduca"

Quem não trabalha não pode aspirar a luxos. Não pode estar sempre a comprar discos, a ir a concertos a festas e etc. Não pode ter um carro e em certos casos não pode ter independência.

Quem trabalha não pode dar tudo como garantido. Não pode gastar como se não houvesse amanhã. Quando se fala da crise penso. Ainda não ouvi ninguém a dizer, vou poupar porque está crise e então vou fazer contenção. Eu vejo antes as pessoas a consumir até não poderem mais e então dizem "Ah está crise, não se pode gastar muito" mas já o gastaram.

A música dos Deolinda é o espelho perfeito, não das dificuldades, mas da geração da lamentação. A tal geração precoce que eu falei num post em Setembro de 2010. Uma geração que se resigna a músicas de intervenção de merda e a fazer uns posts no facebook e nos blogues a concordar com a onda. E são todos muito revolucionários, mas o pensamento esse, é o mais comodista possível. Provavelmente estas pessoas vão todas comprar o single o que dá que pensar. Quem ainda não pagou o carro e tem trabalho precário, como vai conseguir o dinheiro? É só uma pergunta.

Podem dizer que sou do contra, mas é assim, esta é a minha opinião, diga-se o que se disser. Da maneira que eu vejo as coisas é tudo uma grande palermice. Apenas mais um tema para os coitadinhos dos jovens dissecarem nas suas tertúlias de fim de semana, que fazem, apesar do carro estar por pagar etc etc.

Se eu tivesse que dar uma mensagem seria.

Estudem bem, aproveitem para se formar, não só nas aulas, mas nos imensos recursos que as universidades dão. Comecem a pensar num plano. Quando sairem dos estudos procurem emprego que vos dê algum dinheiro e tentem pôr o vosso plano em prática, procurando o emprego que querem ou então reunindo o material que necessitam para a vossa própria empresa. E é esperar pelo momento certo para mudar e trabalhar quando a oportunidade certa aparecer. Agarrá-la com unhas e dentes e dar tudo por tudo. E acima de tudo, pensem pela vossa cabeça. Coisa que acontece muito pouco hoje em dia.

Vou colar aqui a mesma letra que colei da outra vez que escrevi sobre a geração precoce:

Air of a temptress
Buxom and bright
We're not missing anything
At least not tonight
Chimera of charm
Innocent of hardship
Luxurious qualm
In a self-darkened daytrip
And then I'll take you home
Where we live and where we roam
Is a robot zone
We don't really care
If the world is a mess
We are programmed to the grid
Of pleasure and bliss

But arrows or drifters
We all just pretend
That we will not succumb
To the ultimate trend
And then I'll take you home
Where we live and where we roam
Is a robot zone

We like the attention
But we hate to be judged
As we proudly parade
Where we see others trudge

We are slaves to addictions
That have no effect
And with loving precision
Isn't it love we dissect
And then I'll take you home
Where we live and where we roam
On the bed and on the phone
Don't stop, cause every place you've known
Is a robot zone