É recente a notícia de que a Castello Lopes vai fechar 40 e não sei quantas salas de cinema.

Para mim, não me faz grande diferença, francamente, vou ao cinema de meio em meio ano e não me importa de andar mais um bocado, principalmente porque, normalmente vou ver filmes que quase garantidamente vão ser bons.

Contudo é sempre hilariante observar a quantidade de diarreia que flui da boca de certos parvalhões. Aliás, reescreverei esta frase da mesma forma que a diria na realidade.

Contudo é sempre hilariante constatar a quantidade de merda que certas cabeças de unto sem coluna vertebral dizem.

A ACAPOR, essa associação subterrânea, que até ao fecho de uns sites famosos na internet, nunca ninguém tinha ouvido falar, veio já dizer merda acerca daquilo que parece saber muito, mas que na verdade, não parece saber nada.

Citando o Correio da Manha (pun intended)

Para a Associação do Comércio Audiovisual de Obras Culturais (ACAPOR), a causa para estes fechos é a partilha ilegal de conteúdos na internet e endereçou às exibidoras – menos a Zon – o convite para avançarem com uma queixa contra o Estado. Em causa, está a “gritante inércia no combate à pirataria na internet” e a ausência de respostas legais.
Sobre o tema, fonte a Zon diz que a pirataria “tem-se agravado” e está a atingir “volumes que colocam em risco a própria sobrevivência do negócio de distribuição de conteúdos”.

A minha reacção em imagens.

Eu posso ser um simples bastardo inculto por não ir ao cinema. Mas bem, vamos virar um bocado os papéis e eu vou imaginar que sou director da ZON, ou da Castello Lopes, ou macaco (huehue) treinado da ACAPOR.

Ora então, se eu estivesse no lugar dessas pessoas pensava o seguinte. Qual é o atractivo de ir ao cinema? É ver um filme. Obviamente, mas hoje em dia, isso é o suficiente para sair de casa? Quando sabemos que pelo preço de dois bilhetes podemos comprar na internet os filmes um pouco mais tarde?

Eu penso que não. O valor de um bilhete normal é 6 a 7€. Por dois bilhetes, 12 a 14, compram-se DVDs na Amazon. DVDs esses que poderemos ver e rever e voltar a ver quantas vezes quisermos.

Portanto, daqui se deduz que a motivação de ir ao cinema não é ver o filme apenas. Afinal qual é a motivação de ir ao cinema, então?

Eu quando vou ver um filme, normalmente janto fora, faço um "programa" diferente. Não há nenhum cinema onde eu tenha ido que tivesse um agradável restaurante incorporado. Se eu tivesse uma cadeia de cinemas, trataria de efectuar contratos de exploração de espaços para restaurantes abertos ao público mas com predominância e favorecimento daqueles que vão ver filmes. E podem dizer que normalmente os cinemas estão em centros comerciais. o que é verdade, mas poucos centros comerciais têm um restaurante digno desse nome. Daqueles fechados onde nós entramos e sentamos tranquilamente sem a agitação das praças de alimentação. Tenho a certeza que se houvesse um restaurante em que o preço médio para duas pessoas ficasse por 25-30€ (sem bebidas e já com o bilhete incluído) haveria muita gente a ir. Era preciso era ser um bom restaurante no sentido tradicional da palavra. Obviamente não poderia ser um McDonalds.

Outro ponto em que os cinemas portugueses dormem forte e feio. Não nenhum tipo de cartão de cliente realmente válido para aqueles que gostam muito de cinema. E isto é daquelas coisas que até os detentores de ginásio se aperceberam, ganha-se mais dinheiro ao vender um cartão de visitas mensal do que a vender uma visita de cada vez. Fideliza-se mais e cria-se um hábito no espectador de cinema. Cria-se um hábito em ver o filme quando sai que, devo dizer, para quem gosta deve ser bastante agradável. Se uma pessoa for duas vezes por semana ao cinema a 6€ cada bilhete, gasta 48€. É dinheiro que muita gente não pode gastar. Agora, se houvesse um cartão em que por 30€ fosse possível ver dois filmes por semana, aí tínhamos logo mais cinéfilos interessados em ir ao cinema regularmente.

O ponto anterior leva a outro ponto importante que é o facto de os cartazes dos cinemas mais populares (ZON Lusomundo e Castello Lopes) serem a monotonia geral. São os mesmos filmes em todas as salas ainda que haja mais do que um complexo de cinemas em certas cidades, porém, dão todos a mesma coisa. 
Se os cinemas querem atrair clientes fiéis têm que entender que as comédias românticas não vão chamar esses fiéis admiradores de cinema. Obviamente o efeito imediato desses filmes mais popularuchos é maior, mas a longo prazo não é. São apenas uma faísca que leva muita gente sem gosto algum pelo bom cinema a ir gastar o seu dinheirinho, porque muitas vezes não têm mais que fazer. Não vou estar aqui a fazer a apologia deste ou daquele filme porque nem sequer sou muito entendido, apenas falo do que vejo.

Resumindo o que é que os cinemas em Portugal têm para oferecer? Nada, para além de uma sala com boa projecção e com grande qualidade de som. De resto, nada. N-A-D-A. 

Os cinemas deveriam ser muito mais dinamizados. Pelo contrário quem promove os cinemas parece tratar aquilo como aquele mal necessário. Não há uma experiência associada à ida ao cinema. 

Por exemplo, fui ver o Hobbit. Jantei fora. Se o cinema tivesse um restaurante em condições, mais ou menos sossegado, eu iria lá jantar e depois sairia directamente para sala de cinema, onde de preferência iniciariam o filme a horas. Eu gostei bastante do filme e sou daquele tipo de pessoas que, à saída se visse no cinema uma pequena loja de merchandise com t-shirs, action figures, bobbleheads, pins etc, era bem capaz de comprar alguma coisa, contudo, essas lojas não existem em parte alguma. E depois do cinema, é possível ficar um pouco numa sala comum a tomar uma bebida e a conversar, quem sabe, com outras pessoas que tenham visto o filme e partilhar a opinião? Não, normalmente as saídas dos cinemas são aquele momento de caos em que as pessoas vão para a saída aos empurrões porque, para além de pipocas e pepsi, não há nada para fazer.

Posto isto, só um burro pode vir com a desculpa da pirataria como razão para os cinemas estarem vazios, porque os cinemas oferecem algo exclusivo, que é um filme novo com uma qualidade de exibição fora do normal. Contudo, está mais que visto que isso não basta. Está para se ver se algum dia os gestores dos cinemas vão entender isso.