Ben X

Hoje venho falar de um filme. Não por ser um filme. Não pelo seu valor artístico (que por acaso, na minha opinião, é acima da média) mas sim pelo seu significado. E aconselho bastante a visualização deste filme.


Ben X é um filme acerca de um jovem autista que é vítima de bullying. Não vou entrar muito mais na descrição do filme porque o que eu gostaria mesmo era que vissem o filme (baseado em factos reais).
O meu ponto neste post é manifestar o meu desgosto pela raça humana. Como é que é possível existir tanta crueldade para com alguém apenas porque esse alguém aparenta fragilidade? 

Eu já fui gozado por outras pessoas (não na extensão do Ben X, muito felizmente), principalmente na escola, e na verdade apesar de saber os motivos por detrás disso a verdade é que não sei os verdadeiros motivos. Qual é a crueldade que motiva crianças, jovens e adultos a espezinharem alguém enquanto, muitas vezes, fingem-se amigos “do peito”. 

Não estamos aqui a falar de alguém que fez coisas más a ser punido por isso. Estamos a falar de pessoas, supostamente, normais. Iguais a nós. Só que, muitas vezes, são pessoas que gostam de estar no seu cantinho a pensar nas suas coisas (que era o meu caso, por exemplo) e isso é motivo para bandalhos invadirem o nosso espaço com dissimulações e acções que nos levam à humilhação.
Na minha experiência do assunto, o melhor a fazer é queixar-nos a alguém. Mas a verdade é que muita gente opta por refugiar-se ainda mais. No que quer que seja. E é complicado. Quando uma pessoa é vítima de bullying ouve sempre dois tipos de conselho. Ou ouvem “não leves a sério” ou então “dá-lhes porrada”. Nenhuma das duas está certa, mas nenhuma das duas está errada também. Os sintomas de uma sociedade podre como a de hoje em dia, revelam-se nestes casos pequenos (na escala global). Uma sociedade em que, muitas vezes, pode ver alguém a ser espancado e não faz nada. A base da sociedade podre está na imensa falta de respeito mútuo. Na imensa falta de compreensão das diferenças. “Todos diferentes, mas todos iguais” era o lema no meu tempo, relativamente às várias raças. Mas, no fundo, porque é que achamos que vamos respeitar outras raças quando nem os da nossa própria conseguimos respeitar? 

Se eu fosse enumerar razões pelas quais já vi pessoas a serem gozadas isto daria uma lista muito estúpida. Já vi pessoas serem gozadas pelo seu sotaque, por terem o nariz torto, por serem demasiado altas, por serem gorduchas, por serem caladas (o meu caso), por serem de opinião oposta (o meu caso), por usarem uma certa roupa etc etc. Na prática tudo coisas irrelevantes e estúpidas. Na maior parte delas nem se trata de uma escolha consciente das pessoas. Condições físicas são inevitáveis. E ser-se calado é tão irritante como falar-se muito, no entanto não se vê ninguém a gozar com as pessoas que falam muito. Porque essas pessoas não parecem tão fracas.

E é por isto que eu, apesar de saber as razões de ser gozado, ao mesmo tempo não as sei.
O que eu sei é que na maior parte das vezes as vítimas são os que aparentam ser os mais fracos. Pura e simplesmente. É mais fácil para esses orcs pegarem com os mais fracos. É “sucesso garantido”. Por isso é que, francamente, me enoja esta sociedade. Porque temos professores nas escolas que se estão bem nas tintas para estes problemas (sim eu sei que há deles que se preocupam). Temos funcionárias que dormem em serviço nos corredores. Temos pais que defendem os filhos que na verdade são uns valentes cabrões, mas os pais não querem nem permitem que alguém, sem serem eles, chame a atenção de um filho deles. 

Da mesma maneira que os professores não admitem que um pai lhes diga como fazerem o seu trabalho.

Porque temos uma sociedade que às vítimas dizem para não levarem a peito, e aos perpetradores concedem benevolência no julgamento (é preciso averiguar com atenção blá blá blá).
Se um filho meu fosse vítima de maus tratos psicológicos constantes, não sei quanto tempo ficaria sem entrar em modo psicopata e tenta fazer justiça com as próprias mãos. Mais uma vez, não é certo, mas também não é errado.

Por vezes, através das circunstâncias normais da vida, já é difícil fazer sentido daquilo que é a nossa existência. Nunca considerei suicidar-me mas mentiria se dissesse que nunca pensei no acto e nas suas consequências. Mas nestas situações, é um pouco difícil para mim não compreender a vontade de pôr um fim à vida. 

Para mim próprio é muito difícil compreender esta realidade. Bullying é um estrangeirismo utilizado de forma bastante vaga e gratuita hoje em dia. Acabou por se tornar num substantivo quase abstracto, para dar nome a um fenómeno, que, na verdade, ninguém quer enfrentar seriamente. Ninguém quer acabar com ele. Os pais das crianças que o fazem foram eles próprios, em tempos, bullys. São eles próprios muitas vezes que instalam nos filhos sensações de superioridade que os fazem achar que podem fazer tudo à sua vontade. Como é que se resolve o problema assim? Nem com mortes. Um morto não é mais que uma quantidade. É como dizer 50kg. Ou 30 litros. Um morto é apenas um saco, uma mortalha, um caixão e um buraco no chão, adornado com belas flores e pedras bonitas. É só um número. Que causa choque, mas que é esquecido quase imediatamente pela população em geral.
As coisas só vão mudar, quando a sociedade mudar.
Enquanto ela não muda, e apesar de ser obrigado, eu não quero fazer parte desta sociedade.

Until then, Include me out.

Where have I seen this before?
When will I feel it again?
Somebody opened a door
I'm afraid to walk in
Imagination stands still
I read it in open book
Read it in open book

Oh man, I read it in books of laughter
Oh man, I read it in books of pain

What are you talking to me
Cause I'm not really there
Like a spirit that's free
I'm as light as the air

Oh man, as light as the air and floating
Oh man, as light as the air and floating

Take me on
Where the fire winds blow
Or where a fallen leaf stays
for days
on your shoulder

Cause all I need
Is to find my own
And that summering drone
Illicit and golden

Oh lord where have is seen this before
Oh lord when will I feel it again

Read it in every move
Read it in every game
Read it in what you do
Read it in everything

Oh man, as light as the air and floating
Oh man, as light as the air and floating
Take me on
Where the fire winds blow
Cause when time stands still
I wait until
It's over
And all I need
Is to find my own
And that summering drone
Illicit and golden

Include Me Out, dEUS

Fado não é Portugal

Hoje, ou ontem, fez um ano da elevação do fado a património da humanidade.

Desta forma venho aqui expressar o que eu penso sobre isso.

Antes de mais queria fazer umas anotações prévias.
Primeiro, não gosto especialmente de fado. Não tenho nada contra e, por vezes, é até agradável ouvir as composições de alguns fados (mais concretamente, os instrumentais).
Segundo, também não tenho nada contra a distinção em si.

Posto isto há várias coisas que passam na tv e nos jornais que me desagradam profundamente.

É com alma cheia que os fadistas e guitarristas e especialistas na matéria falam no fado como identidade da nação, contudo, é também com naturalidade que afirmam que passa-se tudo em Lisboa.

São as ruas de Lisboa que são cantadas no fado e o fado é cantado nas ruas de Lisboa. E é verdade, o fado de que toda a gente fala e que toda a gente elogia é o fado de Lisboa. Daí que é extremamente errado afirmar que o fado represente a cultura portuguesa. Afirmações deste género servem apenas para formatar uma opinião acerca de um substantivo que represente a nacionalidade. Fado não representa a nacionalidade.Nem nunca representará. Pode, efectivamente, vir a ser conhecido por ser a música de Portugal, à custa da forte publicidade à volta do mesmo, mas nunca o será verdadeiramente e muito menos representará Portugal.

E porquê? Perguntam as pessoas. Porque fora de Lisboa poucos são os lugares em que as pessoas realmente se interessam pelo fado. Basta ir, sei lá, à Serra da Estrela, e perguntarem-se acerca da importância do fado lá. O mesmo no Porto, Braga, Guimarães, Aveiro, Vila Real, Bragança, Viana do Castelo etc etc. Não implica isto que o fado não seja cantado nestas cidades ou que não hajam concertos de fado nestas cidades. Implica é que não tem nada a ver com a raíz cultural de 99% do país.

O fado, diz-me tanto a mim, em termos de matriz cultural, que não sou de Lisboa, como me diz o Jazz. É uma música passa ocasionalmente na rádio e vê-se ocasionalmente em concertos. E cabe na cabeça de alguém dizer que o Jazz é a identidade de Portugal? Ou que o rock é a identidade de Portugal?

As origens do fado são portuguesas e vêm do cancioneiro medieval, segundo uns. As origens do fado vêm de uma musiquinha brasileira, segundo outros. Há muitas teorias acerca da origem,
A verdade é que o fado, como o conhecemos hoje, apenas é popularizado no Séc XIX em Lisboa. Alguém me sabe dizer porque é que não consideram o fado uma música de Lisboa? Uma identidade de Lisboa. Porque é que tem de ser uma coisa para todo o país, quando, claramente, não faz a mais pequena diferença no resto do país?

Apresenta-se no fado a mesma questão que se apresenta com a Lusitânia. O mito de que somos todos lusitanos. Os substantivos abstractos que nos levam a formar uma identidade nacional. Por mim, eles são normais, até certo ponto. Contudo, estes são uma aberração.

Nós não somos todos Lusitanos. Nós não somos todos personagens que aparecem no fado. Ainda para mais quando o fado é considerado algo do litoral e até citadino (por momentos, deixei de ouvir o choro daqueles que supostamente se preocupam com a desertificação do interior).

Há milhares de tradições esquecidas por aí. Muito mais antigas que o fado e muito mais significativas das nossas origens. Daí que me oponha, e sempre me irei opôr, a esta generalização do fado como canção nacional. Não é, nunca foi e nunca será.

A manif

No meio da enchurrada de merda que veio dos dois lados da manifestação encontra-se pouca coisa que valha a pena realçar.

Uns levaram na cara, outros deram na cara. Uns insultaram, outros foram insultados. Uns criticaram a polícia por bater em pais com crianças e outros levaram crianças para esse ambiente completamente saudável que é uma manifestação.

E aqueles que falaram muito durante a manifestação, calaram e consentiram quando meia dúzia de orcs decidiu que era fixe atacar a polícia e depois queixaram-se que a polícia devia ter encetado uma perseguição à "Knight Rider" aos desordeiros.

Assim que a violência começou a escalar, com arremesso de objectos às forças de segurança, a manfestação deixou de estar controlada pela multidão pacífica que tem todo o direito a manifestar-se e a opôr-se ao que quer que lhes apeteça, e passou a ser controlada por grupos tudo menos pacíficos. Talvez anarquistas, talvez nacionalistas. Ambos grupos profundamente desprezíveis (os anarquistas e nacionalistas), mas ninguém arredou pé.

Obviamente, as coisas iam acabar dessa forma, porque esses movimentos que agem pela calada devem ser pontualmente reprimidos de forma autoritária. É claro que 99% dos manifestantes não se associam (espero eu) a essas causas, mas como poderia ser feita uma intervenção autoritária sem que se reprimisse toda a gente? Não se podia.

De qualquer das maneiras, a ignorância e irreflexão das pessoas é algo que também já é de esperar. E já era de esperar que muita gente se viesse queixar quando o seu pequeno mundo foi invadido de cenas de pancadaria. Naturalmente, ninguém gosta de levar porrada, mas qualquer pessoa razoável vê que era o que, inevitavelmente, iria acontecer.

Contudo, a mim o que mais me incomoda é algo que tenho lido por aí pela blogosfera e comentários nos jornais online.

Quando as pessoas se estão a queixar que a intervenção policial foi injusta e vêem a sua opinião contraposta, por vezes, saem-se com este lindo "soundbite".

"Nós estávamos a lutar pelos vossos direitos!"

E a questão é a seguinte. Eu não pedi a ninguém para se ir manifestar, aliás, francamente, aquela greve foi uma grande perda de tempo. E mais, nesse dia estava num estado tão febril e gripal que nem as notícias vi direito, quanto mais preocupar-me com a manifestação.

Mas a ideia é esta. Eu não pedi, nem pedirei, nem irei a qualquer tipo de manifestação como aquela que aconteceu. É uma perda de tempo. E é um exercício de demagogia surreal, digna da maior ficção científica. Toda a gente quer mudança, só não sabe para o quê (a não ser que se seja o Manuel Londreira, claro).
O que as pessoas querem é, basicamente, que se rasgue o memorando de entendimento com o FMI e com a UE e tudo será rosas e seda. Nem vou perder tempo a explicar que sairmos da UE seremos um país de terceiro mundo num piscar de olhos etc. Ou que as nossas poupanças se reduzirão em metade, ou que segundo estudos cada português perderia 11 000€ num ano em que se voltasse ao escudo etc etc etc.
Tudo o que implique um afastamento da UE eu sou contra, e como tal, sou, ou melhor, fui contra a manifestação.

Por isso não me venham dizer que lutaram pelos meus direitos. Não façam das vossas palavras de ordem as palavras de ordem de Portugal inteiro. Lutaram pelos vossos direitos e por aquilo que acham justo, mais nada. Se levaram na tromba foi porque estavam a lutar por vós próprios e não por mim. Basicamente, não se armem em mártires.

Eu participaria numa manifestação e até num movimento cívico/partidário onde se denunciassem as ineficiências do estado, entre as quais muitas coisas que os manifestantes em geral criticam acerca dos políticos que gastam muito dinheiro, eu estou de acordo nessa matéria, mas isso não é suficiente. Estaria de acordo em que se revogassem todos os benefícios que um funcionário público tem que um privado não tem (muitos já não gostam desta conversa não é?). Estaria de acordo em que um funcionário público fosse movido para onde o estado precisasse (obviamente com racionalidade, não se ia mandar ninguém do Algarve para Trás-Os-Montes) sem sequer ter possibilidade de apelar em contrário. E se recusasse essa mudança, ia para a rua que é o que acontece em qualquer empresa normal. Numa manifestação dessas eu até estaria. Limitar todas as reformas a 1300€. Ninguém ganha mais do que isso, o resto fica para aumentar as pessoas que ganham 200€ de reforma. E não haveria subsídios de natal e de férias para quem está reformado, nunca. Mas aí há um problema. Muitos reformados foram para a manifestação porque coitados ganham mais que 1500€ e vão perder parte da reforma. Realmente, pobreza.

Já disse aqui noutro post que o problema do estado é o problema do português e o problema do português é o problema do estado. O português endividou-se para comprar casa (normal), carro (supérfluo), férias (supérfluo) e agora não tem dinheiro. O estado endividou-se para compensar os bancos pelos créditos que não conseguem cobrar. E endividou-se para pagar subsídios às pessoas que ficaram sem emprego porque os seus patrões não souberam gerir os seus negócios. E agora pagamos todos. Tal como na manifestação, pagou o justo pelo pecador.

Mas os justos não têm o direito de fazer da sua causa a causa de toda a gente.

Afinal, liberdade. Não é?

Frases motivacionais

Faz-me confusão como algumas pessoas parecem depender de frases motivacionais. Quando se navega por aí em páginas pessoais, é frequente ver aquelas imagens partilhadas milhares de vezes, com dizeres escritos num português, por vezes, um bocado amacacado.

"Não se arrependa do que não fez"
"Não diga palavras permanentes para pessoas temporárias" (Pessoas temporárias são aquelas que se apagam naquela pasta do windows.Temp.)
"Um amigo de verdade distrai a amiga feia e gorda para que você possa ficar à vontade (com a outra que deve ser magra e com dentes de contraplacado)
"Trair? Não obrigada...Não troco uma vida por um momento. Não troco uma certeza por uma ilusão. Não troco o certo pelo duvidoso. Não troco uma felicidade por uma aventura"

Ou então a "punchline"
"Only God can judge me"

Independentemente de concordar, ou não, com as coisas que estão escritas nestas e noutras frases, tenho que dizer que acho bastante deprimente e problemático as pessoas terem de ler este tipo de frases fáceis e baratas para compreender ou afirmarem o que quer que seja.

Isto é, para mim, um problema muito grave. Parece que as pessoas têm de ter alguém que lhes diga o que é certo e o que é errado. O que devemos acreditar e o que devemos duvidar.

Na minha opinião devíamos antes questionar constantemente aquilo que fazemos. Não é preciso esperar pela frase que está no fakebook de alguém para percebermos o que quer que seja. Não é preciso ouvir aqueles amigos com a mania de psicólogos com frases feitas para percebermos o que quer que seja.
Na verdade as pessoas é que devem pensar e questionar-se sobre o que fizeram, o que fazem e o que farão no futuro.

Contudo, convenço-me que vivemos cada vez mais numa sociedade em que as pessoas esperam que as coisas lhes cheguem. Temos internet, tv, rádio e etc. Podemos ter acesso a todo o mundo sem sairmos da cama, mas a vantagem transforma-se em desvantagem quando apenas deixamos que a informação chegue até nós. Esse é o momento em que corremos o risco de sermos manipulados. Manipulados por notícias facciosas ou enviesadas. Manipulados por frases motivacionais com as quais concordamos, mas acerca das quais nunca sequer pensamos bem. Obviamente ninguém vai descobrir a sua personalidade na internet, mas pode certamente cultivá-la fortemente e, acima de tudo, independentemente.

Não estamos a falar daquela frase que queremos partilhar de uma música ou de um filme ou de um poema/livro. Estamos a falar de coisas ditas por um labrego qualquer que sabe tanto ou menos do que nós. E é nessas pessoas que devemos acreditar? E é nessas frases inócuas que devemos revelar o nosso ser?

Francamente, acho que não. Há uma música dos dEUS que começa por dizer "Want to know about my philosophy? MY Philosophy... You gotta be your own dog. Don't let anybody put a leash on you"

É hipócrita de cima abaixo eu estar a criticar as pessoas que partilham frases à toa e estar agora a fazer uma citação, mas a questão engraçada é que quando a voz diz my philosophy a verdade é que a filosofia dele é cada um ter a sua filosofia. You gotta be your own dog.

Há alguém que queira ser apenas ele próprio?

Americanadas

Os EUA são um exemplo sintomático daquilo que é ter sucesso. Há americanos bem sucedidos em todas as áreas, em todo o mundo. São um país estável e dominador. Etc e tal...

O facto é que ser americano, muitas vezes, acarreta uma vasta estupidez, nada comum de um país super desenvolvido.

Tome-se o exemplo dos tiroteios e massacres constantes que acontecem em solo norte-americano. O comum mortal membro do povo, é a maior vítima destes acontecimentos que derivam de uma política completamente medieval de posse de arma. No entanto são os mesmos que, maior parte das vezes, defendem com unhas e dentes esse direito de possuir uma arma para se defenderem. Ignorando que uma arma que serve para defender também serve para atacar e que é uma questão de tempo até uma arma cair nas mãos erradas de alguém que, supostamente, quer defender-se e acaba, na realidade, a atacar pessoas indiscriminadamente.

Mas para além de argumentarem que a posse de armas é boa para se defenderem ainda defendem um outro argumento que é, na minha opinião, sintomático da "pobreza" norte-americana.

Tenhamos então em atenção o seguinte excerto de uma reportagem acerca da opinião do Brad Pitt acerca de armas.

“America is a country founded on guns. It’s in our DNA. It’s very strange but I feel better having a gun. I really do. I don’t feel safe, I don’t feel the house is completely safe, if I don’t have one hidden somewhere. That’s my thinking, right or wrong.
“I got my first BB (air) gun when I was in nursery school. I got my first shotgun by first grade. I had shot a handgun by third grade and I grew up in a pretty sane environment. I was in the U.K. when the shootings happened and I did hear the discussion about gun control start again, and as far as I know it petered out as it always does.
“It’s just something with us. To turn around and ask us to give up our guns… I don’t know, we’re too afraid that we’re going to give up ours and the bad guys are still going to get theirs. It’s just in our thinking. I’m telling you, we don’t know America without guns.” 

Todo o argumento de Brad Pitt baseia-se na primeira frase. America is a country founded on guns. O grande conhecimento histórico de Brad Pitt assim o apoia.
Quem não se lembra das Guerras Mundiais que se desenvolviam dentro de cozinhas com Aliados a atirarem tachos e panelas contra os alemães?
Quem desconhece a Batalha de Aljubarrota em que para definir o vencedor desenvolveu-se um mortal jogo de sueca na casa da padeira que eventualmente fartou-se do barulho?
Quem desconhece o violento período Edo e da queda do shogunato japonês que se decidiu através de um intenso jogo de mikado?
Júlio César, o maior comandante militar de sempre, que venceu todas as batalhas através dos seus dotes culinários?
Tudo isto obviamente acabou quando os ingleses descobriram a piada mais mortífera do mundo, como muito bem documentado pelos Monty Python.

Brad Pitt argumentou e destrui o seu próprio argumento, facto fantástico (um aparte para dizer que isto acontece cada vez mais). Todos os países do mundo (senão todos, a grande maioria) são baseados em processos bélicos. É daí que vem a sua fundação. Não há nenhuma país, pelo menos países que vêm antes do Séc XX, que tenha sido fundado de bom agrado. O facto de Pitt afirmar tal coisa só revela ignorância e pré-formatação e, o pior, é que isto não acontece só com ele. Acontece com a vasta maioria dos americanos.
Obviamente, ele gaba-se de que quando andava na escola já tinha uma arma. Fixolas, não é?

E é assim a vida nos EUA. Nunca se preocupam com as coisas até que elas acontecem e, depois, quando acontecem "ai meu Deus Jesus Cristo".
O furacão Sandy é o pleno exemplo disso. Não desejo mal aos EUA, bem pelo contrário, mas sempre que há um furacão há desgraça. Casas construídas em madeira a flutuar e simplesmente a desaparecer é assunto comum nestas alturas. É o drama e toda a gente tem de apoiar os EUA que coitados têm poucos recursos.
O problema grave, pior do que todos os furacões do mundo, é que os americanos continuam a construir e a permitir a construção de casas de madeira (apenas a título de exemplo), porque enfim, fica mais barato. Contudo aquando do terramoto de 2011 no Japão, lembro-me de ler que os EUA criticaram a falta de preparação (???) do Japão, apenas por causa de Fukushima. Falam os EUA que têm centrais nucleares (cerca de metade) com mais de 30 anos em actividade e sem qualquer prova que esteja em condições para continuar a trabalhar, contudo as suas licenças de 40 anos estão a ser prolongadas por mais 20. Relembrem-me lá quem é que estava mal preparado... Já o Japão sofreu o quinto mais poderoso terramoto da história, seguido de um Tsunami e os EUA antes de tudo, acham que o Japão estava mal preparado.
Resumindo, daqui a uns tempos vem nova época de furacões e nova época de desastres e casas desaparecidas e mortos por todo o lado. E os americanos vão voltar a queixar-se da sua sorte.

O que, para mim, é chocante, é que os assuntos permanentes na agenda dos EUA nada têm a ver com a sua vida interna. Se lermos jornais americanos os temas sempre presentes são a guerra (fora dos EUA), acontecimentos de política externa e desporto. Quando devia ser ao contrário. Aqui em Portugal as pessoas borrifam-se completamente para o que se passa no estrangeiro, porque o que é mais importante é a nossa vida. Já os americanos estão constantemente à procura de coisas no estrangeiro, as quais possam criticar e falar de si próprios numa doutrina de auto engrandecimento.
Basta ler este artigo em que o autor começa por se sentir incomodado pela data escolhida para o anúncio da descoberta do Bosão de Higgs (sim, porque toda a gente sabe e festeja o dia da independência dos EUA) e acaba a realçar as universidades de onde vêm alguns cientistas que trabalham no acelerador de partículas que está... na Europa.

Enfim, é caso para dizer que americanos vão americanar. É pena porque é de facto um país excepcional e com coisas muito boas, mas que parece estar preso na sua lengalenga, hoje mais ou menos actual, daqui a uns anos, quem sabe, poderá ser completamente datada e inválida.

Comércio tradicional

O comércio tradicional é algo que nos últimos anos, tem visto a sua morte ser anunciada várias vezes. É porque os hipermercados abrem ao Domingo. É por causa dos centros comerciais. Enfim, é razão de alarme e de programas de incentivo ao comércio tradicional.

Em meu ver isto é tudo um grande disparate. Eu sou da seguinte opinião. A única maneira do comércio tradicional progredir é estar exposto a todas as ameaças. Quando há ameaças, há oportunidades, por isso, exponha-se o comércio tradicional a essas ameaças, para que o mesmo encontre o seu espaço e para que o mesmo ande para a frente.

Obviamente tenho pena de ver lojas a fechar, as verdade seja dita, ao fim de semana, que é quando as pessoas podem ir passear pelas cidades, é quando todo o comércio tradicional está fechado. É como ter um restaurante e fechar ao almoço e jantar.

O que o comércio tradicional tem de fazer, é procurar o cliente. Permitir que o cliente entre na sua loja quando o cliente lá pode entrar. Porque produto não falta ao comércio tradicional. Oferecem, normalmente, coisas melhores do que as grandes superfícies, por isso não têm que temer, têm é que criar condições para que as pessoas os visitem, em vez de fecharem aos Domingos (e por vezes Sábados) "like lazy ass motherfuckers".

E outra coisa. Muitas vezes quando entro em lojinhas, tenho aquele sentimento de que a pessoa que me está a atender acha que eu sou obrigado a ir àquela loja e, então, o atendimento é antipático e impessoal, e depois "ai Jesus que vamos à falência". Estão à espera do quê? Neste tempo em que as pessoas querem-se sentir bem tratadas, não vão longe com esse tipo de atitude.

O problema do comércio tradicional é que uma loja de roupa interior antigamente, era, provavelmente, a única da vila/cidade e, assim sendo, as pessoas eram "obrigadas" a frequentar essa loja. Hoje em dia não é assim, porque há montes de lojas dessas e ainda há grandes cadeias que se publicitam bastante bem. Porque raio hão-de as pessoas continuar a ir a uma loja onde se é atendido com sobranceria?

O facto é que quem está no comércio tradicional, são as "velhas guardas" que estão a ter dificuldade em aceitar a evolução das coisas. Se calhar, em vez de programas para incentivar as pessoas a ir ao comércio tradicional deviam de elaborar programas para incentivar o comércio tradicional a vender, porque da maneira que alguns (sim, porque há muitas pessoas super simpáticas no comércio tradicional) atendem e estando fechados aos fins-de-semana parece que, mais do que falta de vontade de comprar, há falta de vontade de vender.

Anonimato é cobardia?

Desde que surgiu a internet, surgiu a possibilidade de as pessoas revelarem a sua opinião sem propriamente darem a conhecer a sua identidade. Esta possibilidade levanta uma questão acerca da relação entre o anonimato e a cobardia. E é sobre esta questão que vou escrever agora.

A meu ver, há a opinião generalizada de que o anonimato se associa à cobardia.

De facto, a coisa pode assim ser vista. Temos por exemplo o nosso caso. Aparte de quem conhece os nossos gatos, dificilmente seremos identificados, pelo que eu posso ser uma pessoa próxima de vós, ou então até posso estar a viver no local mais remoto do mundo. Apenas necessito de uma conexão de internet para poder exprimir a minha opinião.

Se me perguntarem porque é que escolhi não ter um username com a minha identidade real e porque é que não revelo a minha localização exacta  a minha resposta é a seguinte.
Sem pretensiosismos, a não ser que se seja alguém conhecido, é impossível ter o nosso nome real como username. Há muita gente com o meu primeiro e último nome. E a verdade é que na internet, pelo menos a meu ver, interessa criar uma entidade que se funde com a nossa identidade real. Isto é, o meu username exprime opiniões, que são as mesmas que eu próprio tenho e defendo no dia-a-dia, e exprime-as da mesma forma que eu as exprimo no dia-a-dia. Contudo, há um distanciamento, a meu ver saudável, que interessa manter e isso leva-me à segunda parte da pergunta acerca da localização. A minha localização, desconhecida (aparte do facto de estar em Portugal) é um pormenor que nada interessa para os temas aqui tratados. Por isso, qual seria o objectivo de a revelar? Nenhum. Na realidade, isso seria apenas um motivo para descarrilar eventuais discussões onde, pessoas mais mesquinhas, iriam implicar que, por eu não ser daqui ou dali, não posso falar, ou parvoíces do género.

Por exemplo, já li comentários por aí, acerca de nós, a dizer que nós não percebemos nada de literatura japonesa porque só temos livros do Murakami, referindo-se aos links presentes no topo do blog que reencaminham para imagens dos nossos livros. Ignorando o facto de, obviamente, a página estar incompleta e desactualizada. (agora que penso nisso, é mesmo preciso ser palhaço para dizer que só tem lá Murakami)
Isto para dizer que, muitas vezes, quantos mais pormenores laterais ao que realmente interessa se dá, mais possibilidades há de sermos confrontados com opiniões e argumentos falaciosos baseados em interpretações (muitas vezes dúbias) desses pormenores laterais que não dizem respeito aos assuntos que realmente interessam.


Imaginando que eu não sou de Lisboa, se eu um dia expressasse a minha opinião relativamente ao Terreiro do Paço, já sei que mais tarde ou mais cedo alguém iria pensar "Ah, não és de Lisboa, não sabes". Isto para dar um exemplo básico.

Portanto, não vejo necessidade de oferecer todos esses elementos para que a minha opinião seja válida. A minha opinião é válida, porque é fundamentada, não porque vivo aqui ou ali.

Obviamente, o anonimato pode sempre ser usado para dizermos coisas sem sermos responsabilizados. Eu posso agora dizer uma série de disparates e a minha vida "real" não iria mudar nem ser afectada por isso. E é nesta questão que as pessoas encontram a cobardia. Porque as pessoas podem usar esse anonimato para ofender e caluniar.

Sim, é verdade. Eu posso acusar as pessoas de tudo e mais alguma coisa sem que nada me aconteça. E isso é cobarde? É. Mas estas situações apenas existem porque é dada demasiada importância às mesmas. Eu já recebi comentários aqui no blog de anónimos a dizerem que eu era estúpido. Obviamente apaguei o comentário, porque a existência do mesmo, é um incentivo à estupidez. Se aqui alguem, através de um comentário anónimo, me acusasse de uma coisa qualquer sem nexo, a minha resposta seria um lol ou desprezo total.

Porém, apesar desta visão de que o anonimato é sinónimo de cobardia, eu não podia estar mais em desacordo.

O anonimato na internet, pode ter coisas más, mas para alguns (certamente para mim), não quer dizer que eu venho aqui mandar postas para o ar, porque estou anónimo. Eu levo a sério este blog e o que defendo aqui defendo em todo lado. E o facto de a entidade que assina isto ser o João X (o número, não a letra) isso não significa que não me incomoda quando a mesma é posta em causa. Aliás, incomoda-me tanto como o meu nome ser posto em causa, porque, mais uma vez, eu levo isto a sério, no sentido de exprimir a minha opinião e defendê-la coerentemente.

Há autores que assinam obras com pseudónimos. Isso quer dizer cobardia? Eu acho que não. Não consigo visualizar um autor a escrever um livro e a não querer saber do mesmo por estar assinado por um pseudónimo. Na verdade o autor do livro irá importar-se tanto com esse livro como com outros que tenha com a sua verdadeira identidade.

O João X, apesar de não ser a minha verdadeira identidade, é na verdade uma parte de mim. Uma parte de mim, pela qual, eu me importo realmente e com a qual tenho a preocupação de a manter o melhor possível.
O facto de se personificar alguém por detrás da entidade que é o João X apenas visa ter um "alvo" físico contra o qual os leitores poderiam dirigir a sua concordância ou a sua discordância. A sua alegria ou a sua raiva. E isso a meu ver, nem sequer é saudável. É muito melhor ler a opinião que eu escrevo, sem o preconceito criado pela existência de uma pessoa por trás dessa opinião. Assim podemos apenas concentrarmo-nos puramente na nossa opinião.

Em resumo, a verdade é que eu podia ter aqui o meu verdadeiro nome e a minha localização e ser anónimo na mesma. Porque, certamente, há muita gente com o meu nome na zona onde eu vivo. Mas é mais vantajoso a meu ver que não se saiba. Assim a minha opinião é apenas uma opinião. Livre de preconceitos para com o autor ou identidade do mesmo.

Onde estás tu, Arménio?

E digo fantoche para não dizer coisas piores, porque de facto se há personagem que me irrita hoje em dia, é Arménio Carlos, responsável pela, "mui nobre", central sindical CGTP.

É importante a existência de sindicatos na democracia, para que se impeçam domínios "fascistas" de patrões ditadores com mais nada em mente para além do lucro próprio.

Contudo tudo o que vemos Arménio fazer é contestar medidas que, maior parte das vezes, nem sequer têm nada a ver com as condições de trabalho das pessoas, condições essas que deveriam ser a essencial bandeira de luta dos sindicatos, ainda mais em tempos de crise.

E ainda mais em tempos de crise porquê? Porque em tempos de crise e cortes e aumentos de impostos há uma tendência de explorar mais os trabalhadores que têm emprego, pois os patrões de Portugal, na generalidade são uns burros incompetentes e desinstruidos que apenas vêem a exploração dos trabalhadores  como forma de rentabilizar as suas empresas. Incluo neste rol o meu patrão que é um valente nabo.

O que acontece quando as empresas começam a declinar é que, em vez de arranjarem novas formas de rentabilizar as suas empresas, através de novas oportunidades que vão surgindo, limitam-se a baixar a cabeça e olhar para os cadernos de contabilidade para ver se as despesas correntes baixam e, a única maneira de baixar os custos é explorar os trabalhadores.
Não é o meu caso, felizmente, mas eu conheço muita gente que faz horas e não é paga. Muita gente que não teve os seus respectivos aumentos (no tempo em que ainda havia dinheiro). Muita gente que é pressionada para se despedir. Muita gente que trabalha 10, 12, 15 e 18 (DEZOITO) horas seguidas, sem tempo para comer sequer. E a lista vai por aí fora (isto, só no meu local de trabalho).

E onde está o Arménio? E toda a CGTP, nestes momentos?

A realidade, é que a CGTP é apenas uma associação corporativa com uma agenda a quem nada interessa o que se passa fora da sua corporação e fora da realidade política que envolve o PCP.

A realidade é que a CGTP ninguém nunca a vê a visitar os locais de trabalho, voluntariamente. A CGTP é uma associação que não sai do seu banquinho a não ser que um dos seus associados esteja a clamar por ajuda e, mesmo para esses, são desleixados.

A CGTP devia de, uma vez por outra, porque obviamente nem sequer hão-de ter muitos colaboradores para isso, mas deviam de passar uma vez por outra nos vários lugares onde se trabalha e avaliar as condições de trabalho em questão, porque o sindicato pode.

Mas a CGTP apenas aparece se um dos seus associados (desde que esteja com as quotas em dia, porque solidariedade não faz parte do vocabulário, nem que seja apenas para responder a uma pergunta) gritar ajuda. Só que a CGTP "resolve" o problema mas rapidamente desaparece nas sombras. Ignorando o facto de que, grande parte das pessoas que avança para queixas através do sindicato, rapidamente é vítima de assédio que força, na maior parte, essas pessoas a despedirem-se em vista de não se conseguirem aguentar o constante assédio e pressão da entidade patronal.

E onde está o Arménio? O grande amigo dos trabalhadores que só aparece a fazer discursos nas manifestações e a reforçar as ideias já veiculadas pelo Partido Comunista Português.

Está a dar entrevistas em que fala sobre o Orçamento de Estado, que pode bem ser causa de ainda mais exploração dos trabalhadores. Mas a verdade é que a exploração nem sequer é prevenida (nem sequer existe a tentativa) pela sindical que é liderada pelo Arménio.

O que mais me choca é que este ser o senhor que proclama ser o baluarte da defesa dos trabalhadores, quando na verdade, metade dos discursos que o oiço fazer é acerca de economia e não de condições de trabalho. E o maior esforço que o vejo fazer é em relação a política e não em relação ao que se passa nos locais de trabalho. E por isso, quando vejo as pessoas a definharem nos seus trabalhos porque os patrões são umas bestas esclavagistas, pergunto para mim próprio.

Onde estás tu, Arménio?

Quem dá e volta a tirar, ao Inferno vai parar

"Quem dá e volta a tirar, ao Inferno vai parar", vão dizer muitos quando lerem isto.

Há pouco mais de um ano, postei aqui um post (é verdade, podia ter sido outra coisa qualquer mais foi um post) a sugerir a visita do Tumblr d'A Livreira Anarquista.

E continuo a sugerir, mas, pelo amor da sinceridade, tenho de emitir o seguinte comentário negativo à Livreira Anarquista.

Isto porque, foi editado um livro pela própria com as passagens do seu Tumblr. E eu, francamente desapontado por esta opção, tenho de confessar o meu desgosto relativamente a isso, da mesma forma que expressei alegria aquando da sugestão que aqui fiz no post acima referido.

Editar um livro que consiste em algo que já existe num formato grátis é uma de duas coisas.

Coisa nº 1

Parvoíce - O acto de publicar um livro que já existe num formato grátis é um puro e simples acto de desperdício de recursos para nada. É como ter um telemóvel para mandar mensagens e outro para ligar a dizer exactamente a mesma coisa. É inútil e sem objectivo claro. Não há nada de artístico. Não há nada de informativo nem nada de entretenimento. E digo isto d'A Livreira Anarquista, como digo da Pipoca Mais Doce e do diabo a sete.

Coisa nº 2

Dinheiro - Publicar um livro destes obviamente irá dar algum dinheiro. As pessoas que já leram eventualmente irão querer ter o livro por uma questão de culto. Outras já conhecem mas quererão ter o livro para ver se há algo "extra". Novas publicações, ilustrações, pormenores sobre a livreira etc. E outros ainda irão descobrir A Livreira Anarquista pela primeira vez.

Concluindo, é natural que A Livreira Anarquista queira aproveitar a oportunidade de fazer uns trocos, o que é sempre bom. Mas convém dizer que A Livreira Anarquista é a livreira que "destrói"os livros incipientes que pelas suas mãos passam. Que faz questão em sublinhar a inutilidade e falta de objectivo de alguns livros. E agora publica um livro, também ele incipiente e desprovido de sentido existencial.

Note-se, que obviamente continuo a louvar A Livreira Anarquista pela qualidade do seu blog. Continuo a seguir e continuo a achar muito interessante e divertido. Aliás, continuo a recomendar a visita. Mas da mesma maneira que senti necessidade de elogiar e recomendar sinto necessidade agora de criticar e expressar a minha tristeza com o facto.

Obviamente não vou para ao Inferno porque nada tirei, apenas fiz um reparo. Até porque eu sou muito bom rapaz.


Dá-me vontade de rir

Dá-me vontade de rir ver as pessoas do meu país.

Dá-me vontade de rir ver reformados que ganham mais de 1500€ a queixarem-se que lhes vão tirar os subsídios de férias

Dá-me vontade de rir ver os jovens que andam na universidade a pastar, a queixarem-se que agora não têm emprego.

Dá-me vontade de rir que alguém se imole pelo fogo, sem razão aparente.

Dá-me vontade de rir que todos aqueles que se abstiveram de manifestar a sua opinião nas eleições (onde a sua opinião vale alguma coisa) manifestem agora a sua opinião a tão plenos pulmões.

Dá-me vontade de rir ouvir falar aqueles que diziam que pior que Sócrates não havia.

Dá-me vontade de rir ver um povo manifestar-se contra o representante que elegeu há pouco mais de um ano.

Dá-me vontade de rir ouvir falar contra a Troika quando antes diziam que a Troika é que ia pôr isto tudo direito.

Dá-me vontade de rir ver manifestantes a queixarem-se de terem pouco dinheiro, mas que têm iPads na mão e iPhones no bolso.

Dá-me vontade de rir ver professores a manifestarem-se porque não houve emprego para eles, porque eles são diferentes e não podem ficar desempregados, pois isso é coisa de plebeus.

Dá-me vontade de rir ouvir falar aqueles que falam em revolução, como se soubessem o que iam fazer a seguir, como se houvesse um caminho muito mais vantajoso.

Dá-me vontade de rir aqueles que estão agora na merda porque pediram empréstimos para férias e carros. Admiram-se que não têm dinheiro agora?

Dá-me vontade de rir ver pessoas que mudam de carro todos os anos a queixarem-se da austeridade.

Vê povo português, como és ignorante e inculto. Como não vês o teu futuro. Como te deixas ficar apenas pelas queixas de que a culpa é do governo. Vê como não agarras o teu futuro com as tuas próprias mãos. Vejam jovens, como quando andais na universidade perdeis o vosso tempo em praxes estúpidas e festas inconsequentes, e depois dais engenheiros (ou outra coisa qualquer) de trazer por casa.
Vejam trabalhadores como gastastes o vosso dinheiro em férias que não tinhas condições para ter. Vejam como as vossas indulgências do passado levaram à desgraça do vosso futuro.

As culpas estão agora nos governos que governaram o país da mesma forma que os portugueses governam as suas casas. A gastar mais dinheiro que o que têm.

Portugueses, não sabíeis vós que as coisas iam ficar assim? Se não o sabeis é porque não quereis.

Atirem petardos e queimem-se. Não se preocupem em orientar a vossa vida mas sim em culpar tudo o resto pelas vossas falhas.

Se houvesse uma revolução em Portugal pelos motivos presentes, eu deixaria de ser português no momento. Recuso-me a fazer parte de um povo que acha que as coisas se resolvem com a generalidade de fazer uma revolução.

As coisas resolvem-se se todos mudarmos de mentalidade. Se todos percebermos que, mesmo com crise, ainda há formas de viver e andar para a frente. Sem esquecer obviamente os desempregados que nada têm para se sustentar, a não ser os outros que trabalham (e que deviam trabalhar mais) para ajudar esses que pouco têm.

Portugueses. Abram os olhos.

Introspecção

Por muito que eu seja uma pessoa que ignore o mundo exterior (em termos de pessoas, note-se) não posso deixar de, volta e meia, ter curiosidade sobre o que aconteceu com muitas pessoas que conheci, melhor ou pior, e que gostei ou detestei. Deve-se notar, contudo, que, o facto de eu eventualmente usar a minha conta de facebook para procurar pessoas que conheço, não constitui um desejo de reencontrar essas pessoas ou procurá-las de facto. É apenas um gesto de curiosidade, sem sentido que em nada altera o curso da minha vida, porque eu não deixo.

Porém, não posso deixar de reconhecer que me sinto um bocado inquieto sempre que vejo como está a ser a vida de outras pessoas, principalmente, as pessoas minhas contemporâneas. Trata-se de um pequeno confronto entre aquilo que eu sou e consegui face àquilo que os outros são e conseguiram. Neste momento tenho 25 anos. Tenho apenas qualificação profissional equivalente ao 12º ano. Não frequentei a Universidade logo de seguida porque, infelizmente, os meus pais não tinham possibilidade para tal. Tirando o primeiro ano em que estive desempregado após o 12º ano, tenho trabalhado regularmente sendo que, desde 2007, trabalho no mesmo sítio num posto de trabalho seguro e sem perspectiva de perder emprego. Este ano fui colocado na universidade e frequentarei uma licenciatura na área de Línguas durante os próximos três anos.
Socialmente posso dizer que na maior parte do dia, tirando aquilo que falo com a minha família em casa e aquilo que falo com a minha namorada, não falo para ninguém. E não sinto falta disso.

Quando olho para os meus contemporâneos, pessoas que trilharam caminhos paralelos ao meu, verifico que uma minoria tirou curso universitário e uma ainda menor parte ficou em Portugal a trabalhar. Os restantes trabalham em empresas normais ou então fazem coisas aqui e ali, não sendo certo aquilo que fazem em concreto. Obviamente, e infelizmente, há também aqueles que não têm trabalho e há também aqueles, neste caso nem felizmente nem infelizmente, que não têm Facebook.

Depois há aquele ponto em que há sempre muita discussão sobre se é correcto ou não, se é arrogante ou não, se é verdade ou não, etc, etc, que é o ponto da evolução intelectual. E nesse ponto tenho de dizer e afirmar peremptoriamente, que os meus contemporâneos ficaram parados no mundo de fantasia.

Se há coisa errada no Facebook é dar a entender que a vida de toda a gente tem algo de especial. Na verdade 99.9% das pessoas leva uma vida sem nada de relevo, muito menos de relevo suficiente para ser divulgado ao mundo.

Hoje em dia, há várias áreas artísticas, onde toda a gente acha que tem algo a mostrar. Passo a explicar.

1 - Hoje em dia, qualquer pessoa tira centenas de fotografias com altas máquinas e põe-nas em sites onde, subrepticiamente,  fica a ideia de que estamos perante alguém que sabe tirar fotografias de forma profissional, nomeadamente se lermos os comentários onde toda a gente se esbardalha em veneração.

2 - Na música onde hoje em dia toda a gente toca um instrumento e tem uma banda. Lançam-se EPs e tudo mais e com jeitinho até aparece o disco na Fnac à venda. E onde se cria cada vez mais o compadrio do eu gosto do que tu fazes e tu gostas do que eu faço e se não gostares do que eu faço eu não gosto do que tu fazes.

3 - Na escrita. Há contemporâneos meus que publicaram livros pagando do seu próprio bolso a impressão de uma tiragem para mostrar o seu livro. E são venerados por isso. Sim, porque ultimamente não têm sido publicadas umas valentes bostas em forma de livro. Isto é, a publicação não significa qualidade ou mérito. Qualquer um pode juntar um conjunto de palavras contando uma estória plausível, contudo isso não significa nem um bom livro nem uma boa estória sequer.

Sempre que vejo os meus contemporâneos a expor os seus feitos nos seus facebookes, blogues e afins numa primeira análise tendo a lamentar-me por, bem, parece que sou o único que não tem nada a mostrar. Perto destas pessoas eu devo ser um ser inerte. Contudo, e como com tudo o resto na vida, para mim nunca me fiquei pelas primeiras análises e, talvez, se encontre aqui a diferença essencial entre mim e os meus contemporâneos.

Ao pensar mais cuidadosamente no assunto chego sempre às seguintes conclusões às quais me referirei por pontos paralelos aos de cima.

1 - Não tenho a melhor das máquinas fotográficas. Mas já tirei fotografias bonitas, as quais, raramente sinto necessidade de mostrar ou raramente sinto que devam ser mostradas. São as minhas fotografias que mostro quando me apetece e a quem me apetece.

2 - Eu já tive uma banda e toco guitarra há 9 anos. E cheguei a dar um concerto, contudo, cheguei à conclusão que faltava-me um "bocadinho assim" para a banda que eu tinha ser uma banda que merecesse qualquer tipo de palco para tocar. Sem desmerecer os membros da banda, mas obviamente aquilo não ia nem merecia ir a lado nenhum.

3 - Eu já empreendi a escrita de um livro uma vez e, francamente, poderia ter continuado, mas não continuei pois não sinto neste momento condições para o continuar a escrever e se continuasse estaria a comprometer na raíz aquilo que poderia ser o livro.

Tudo isto prende-se com analisar realmente o que temos em mão. Uma fotografia é só uma fotografia e se, por um lado, não há problema nenhum em estar a expor as fotos na net, por outro, há problema em dar veneração a essas fotos porque afinal, 90% das fotos que eu vejo podiam ser apenas mais uma foto daquelas que se punham nos álbuns de família de antigamente e, às quais, ninguém ligava nenhuma.
E o mesmo acontece com a música, com a agravante de na música existir um desespero por fama que leva a que toda a gente troque favores uns com os outros. "Vota em mim que eu voto em ti" é o lema presente em concursos cujo resultado depende de votação e não de avaliação objectiva de qualidade. Lembro-me perfeitamente de, aqui há uns anos, ouvir colegas meus a dizer que esperavam daí a um ano estar a viver completamente da música o que era um disparate total.
Da mesma forma que um livro é apenas um conjunto de páginas. Nem sempre carrega consigo qualidade.

Hoje em dia é demasiado fácil publicar algo. E daí nasce a percepção de que este é um bom fotógrafo, este é um bom músico e aquele escreve bem. Quando na verdade fazem o que fazem tão bem como muitos outros plebeus, com a diferença de que publicam as coisas.

Acabei por me desviar um pouco do assunto, mas, no fundo, quando observo os outros à minha volta, se por um lado sinto que devia ter feito mais alguma coisa, por outro sinto que eu também fiz coisas, mas não as publiquei/publicitei. Desta forma, se numa primeira análise a minha vida é irrelevante comparada com a dos outros, na verdade é tão relevante como a dos outros.

Queria acrescentar ainda que sinto que muitas vezes é importante reflectir sobre aquilo que fizemos e, muitas vezes, isso requer ver o que os outros fizeram para obter um ponto de comparação. Porém, muitas vezes o mais importante é saber manter e seguir o nosso caminho com convicção, o que não implica que questionemos o nosso caminho. Na verdade essa é a parte mais importante para mim. É a altura em que desconstruo aquilo que faço e quero fazer e daí questiono tudo para me certificar que é mesmo isto que eu quero fazer e que é mesmo este o caminho que quero seguir.

Este post acaba por não ser nada de concreto, mas bem, talvez a falta maior que eu detecto nas pessoas é, precisamente, a falta de introspecção relativa às nossas escolhas. E isto, pode não levar a minha vida a lado nenhum em especial, mas levará certamente a um local que eu escolhi e do qual eu estou ciente. Se eu não o fizesse, provavelmente estava neste momento a publicar uma foto ou a mostrar a nova música que compus hoje, assim estou apenas a ver fotos e a questionar se a música que fiz é assim tão boa como isso.

Roma

Acabei de ler ontem o livro Roma, Ascensão e Queda de um Império de Simon Baker. O livro foi escrito e acompanhado por uma série na BBC, série essa que eu ainda não vi.

De qualquer das maneiras, ler a história de Roma, tal como a história de qualquer outro lugar, é um exercício fascinante.

Não vou discorrer numa "review" do livro, mas antes em pensamentos que me ocorreram enquanto li o livro.

Uma das primeiras passagens do livro que me marcaram foi a conquista de Cartago. A forma como todo o processo foi conduzido por Roma é algo de revoltante e entristecedor. A guerra, quase que, propositadamente desencadeada através de pequenos conflitos e pequenos motivos para iniciar uma guerra contra Cartago. Após a derrota dos cartaginenses, veio a paz, contudo uma paz podre que acabaria coma exigência de Roma em como Cartago fosse deslocada uns tantos km para o interior o que, na prática, significava a destruição de Cartago. Os romanos acabaram por marchar sobre a cidade destruindo todos os edifícios da cidade e "regando" o chão com sal para que nada ali crescesse. É dito no livro que Cipião "Africano" terá dito ao ver a destruição de Cartago que o entristecia pensar que um dia Roma teria o mesmo fim. Porém, estava errado.

O segundo momento é quando Tibério Graco é assassinado. Graco foi filho de Tibério Graco, um homem que havia conseguido muitos feitos militares notáveis que, neste momento, não interessa discorrer.
Graco caiu em desgraça quando negociou a paz com os povos celtas da Península Ibérica, nomeadamente os Numantinos, após estes terem cercado as forças romanas e estarem prontos para as massacrar. Graco, perante o cenário achou ser melhor negociar uma rendição em vez de caminhar para uma derrota certa que levaria à dizimação de um grande número de militares. Um grande número de romanos. Posto isto, todos tratados tinham de ser ratificados pelo Senado. Pois este tratado nunca viria a ser ratificado pelo Senado que, basicamente, achava desonroso para Roma assinar qualquer tipo de rendição. Achariam certamente mais honroso serem derrotados sem dó nem piedade no campo de batalha. Após isso, a vida pública de Graco caiu praticamente em desgraça acabando por ser tribuno do povo. Nesta posição viria a propor leis que visavam devolver terra aos romanos para que eles pudessem sobreviver, dado que muitos romanos estavam a passar sérias dificuldades pois não tinham terrenos para cultivar. Graco propôs que fossem retiradas terras que haviam sido tomadas ilegalmente para que estes romanos pudessem subsistir. O problema é que estas terras eram de aristocratas, muitos deles, com poder no senado. Graco, aos poucos, apesar de ser moderado, foi empurrado para uma situação de confronto e, um dia, no meio de um rebuliço numa Assembleia Popular, após ter posto a mão sobre a cabeça, foi acusado pelos ultra-conservadores de se querer auto-coroar rei, o que obviamente, não era o caso. Estes ultra-conservadores acabariam a espancar Graco até á morte atirando depois o seu corpo ao Tibre.

O terceiro momento seria a morte de Júlio César, em muito semelhante à morte de Graco, apenas com a diferença que Graco era um mero Tribuno do Povo e César era Imperador. Contudo, guardarei a minha opinião sobre a vida de Júlio César para mais tarde.

O quarto momento é a queda de Jerusalém. A invasão feita pelos romanos à "Cidade Santa". Não tanto que me surpreenda o facto de eles terem tomado Jerusalém, contudo, a natureza da invasão foi muito além daquilo que se esperava de um império evoluído como Roma. O saque brutal da cidade é um momento triste e merecedor de recriminação. Esse saque colocado em justa-posição com as causas da invasão, ou melhor, re-invasão, dado que Jerusalém já pertencia aos romanos, tornam todo o cenário absolutamente exagerado e sem sentido.

O quinto momento, não é um momento em concreto. Mas sim o momento em que nos apercebemos que Roma começara a ser demasiado. Demasiado território para ser governado por um só ideal, por um só povo e por um só imperador. É quando entendemos que chegou a uma altura em que Roma, simplesmente estava a esgotar os seus recursos e a esgotar-se ao mesmo tempo. É quando entendemos que, só por um acaso, é que Roma sobreviveu tanto tempo porque é óbvio que em certas alturas a haver uma ofensiva minimamente intencional, essa ofensiva seria mortal para o Império.

Quando Roma é invadida e a metade ocidental do império colapsa, percebemos que, a Roma, não estava destinada o fim de Cartago. Quando Alarico (Visigodos) invadiu a cidade roubou muita coisa, como os túmulos e os tesouros dos Mausoléus, certamente profanando a memória, mas Roma sobreviveu e ainda hoje é possível ver o Coliseu e caminhar por parte do Fórum romano, onde muitos dos ilustres desta história de Roma também deram os seus passos.

O Império Romano, para mim, acaba no momento em que Roma cai. Pese embora o facto de o Império Oriental ter subsistido por mais mil anos, mais ou menos. Esse tornou-se o Império Bizantino, sobre o qual não sei muito, aliás, não sei quase nada.

Roma guarda muitas lições para nós contemporâneos do mundo digital e alta velocidade. Nunca poderemos deixar de associar a morte de Júlio César com a morte de políticos influentes do século passado. Por exemplo não haverá uma relação causa efeito semelhante entre a morte de César e a morte de John Kennedy? Obviamente estamos a entrar no campo das especulações mas Kennedy cedeu algumas coisas à Rússia (da mesma forma que a Rússia cedeu também, diga-se), não terá isso provocado descontentamento de uma certa ala? Não terá isso levado à sua morte? Nunca se saberá, mas é certamente plausível.
Não estaremos a assistir a um Império disfarçado com os EUA a controlarem economicamente cada vez mais países e extraindo deles mais recursos? Não sabemos, mas é certamente possível tentar estabelecer o paralelo e é saudável fazer o exercício. É saudável ver como é que os Romanos tentaram resolver os problemas.
É importante reconhecer Estilicão por ter descoberto o momento em que era tempo de acolher os bárbaros no seio dos romanos quando Roma escasseava cada vez mais na sua força militar. É importante perceber que virá um dia um "Estilicão" que reconhecerá algo que a maior parte de nós ainda não sabe. É importante que o próximo Estilicão não tenha o mesmo fim do primeiro e que não seja morto, por ver algo de diferente.
Roma viria a cair porque não soube lidar com os bárbaros. Vidigodos, Ostrogodos, Suevos, Alanos etc. Apesar de terem derrubado Roma é sabido que parte deles apenas queria ter uma vida melhor dentro do Império ao invés de estar do lado de fora a passar mal.

Concluindo, os romanos são um povo sem dúvida fascinante. É incrível como foram astutos e como alguns dos romanos foram notáveis. Será que alguma vez vai haver um novo "Júlio César"? Um homem que congregue a opinião dos romanos fortes e fracos? Será que Roma não é uma liçao sobre a importância do crescimento sustentado, ou falta dele?
É importante olhar para a história, não só dos romanos, mas toda a história. Obviamente ninguém vai saber todos os recantos da história, mas pelo menos aquela que sabemos, é importante compreendê-la.
Nós somos, ainda, romanos tal como somos tudo o que esteve cá antes e depois dos romanos. Se conseguíssemos definir quem são os nossos antepassados de há 30 gerações atrás, talvez descobríssemos os nossos antepassados no tempo dos romanos. 

RTP e hipocrisia

Olá caros leitores, já há muito que não vos escrevia. Mas bem, cá estamos.

Nos últimos dias, várias notícias têm surgido acerca do futuro da RTP.

Fala-se de que será concessionada, de que encerrarão a RTP 2 etc etc. Vejam as notícias.

Para mim, neste momento, colocam-se duas questões hipócritas essenciais. Uma velha e outra nova.

A velha hipocrisia.
A RTP é a televisão do estado. É a televisão que serve o propósito do chamado serviço público. Tal como a BBC o faz em Inglaterra, por exemplo.
Um dos problemas com sucessivos governos, principalmente desde a aparição dos canais independentes, é a tentativa, ou falta dela, de definir o que é o serviço público. Afinal qual é o espectro do serviço público de televisão? Acho que nem o primeiro ministro saberia dar uma resposta a isto com claridade, e este é um problema essencial para resolver o"problema" da RTP. Contudo, isso nunca foi definido. Será que serviço público é passar documentários e instruir? Divulgar o país através de talk-shows e programas de viagens? Garantir o acesso da população à informação? Garantir entretenimento? Será que é procurar as maiores audiências possíveis? Será que é preservar a memória?
Ninguém sabe e a expressão "serviço público", no caso da RTP, não é mais que um chavão incipiente e sem expressividade.
Aqui está o grande problema que mina tudo o resto que se possa tentar fazer na RTP. Se não sabemos o que deve a RTP fazer como é que é possível exigir que tal seja feito? Entregando às direcções a decisão sobre o que constitui serviço publico e o que não constitui? Não é a opção certa, por razões lógicas de coerência.
O serviço público que a RTP presta, ou prestaria, devia estar definido na sua essência desde a sua fundação e ajustado à realidade dos tempos de forma progressiva. Obviamente hoje em dia não é preciso que a RTP produza novelas, dada a produção prolífica de novelas portuguesas e brasileiras que existe. Da mesma forma que se calhar era necessário que o serviço público garantisse um acesso melhor às modalidades desportivas que, hoje em dia, são monopolizadas por canais por cabo, muitas vezes codificados e de preços mais altos.

Nunca seria concebível o que aconteceu, por exemplo, com o programa 5 pra meia noite. Começou na 2 de forma interessante e foi ganhando audiências, acabando por se tornar num espectáculo pedantóide vocacionado para cativar a juventude amarfanhada portuguesa. Agora passou para a RTP 1 numa mostra clara de que o serviço público e os objectivos de cada canal estão horrivelmente mal definidos. Afinal, o que se pode depreender deste caso em concreto, é que a RTP 2 não passa de uma equipa B onde se o programa tem sucesso passa para a equipa A. Isto é uma estupidez.

Após a definição do que é o serviço público de televisão e aquilo que ele deve compreender haveriam duas atitudes a tomar.
A primeira seria aplicar esse princípio em toda as vertentes dos canais que a RTP dispõe. Misturando ou individualizando as características de cada um.
A segunda era tomar a decisão de que, sendo um serviço público inequívoco, a RTP nunca visaria ter lucro ou sucesso no mercado de audiências.

E o problema reside sempre na definição de serviço público. Se a RTP tivesse esse conceito definido nem sequer seria possível estarmos a argumentar o facto da RTP dar prejuízo. Ou não serão os tribunais também serviço público? E estes devem dar lucro? É essa a sua função? E os hospitais? Obviamente que não. O serviço público é algo que nós, portugueses contribuintes, financiamos. Não deve dar lucro (embora se desse lucro, tanto melhor). A partir desse financiamento os serviços apenas têm de funcionar de maneira clara e eficiente.
Como a RTP não tem o seu conceito definido vive entre a indefinição de ser um canal generalista normal (no caso da RTP 1) ou ser um canal público com conteúdos de pouco potencial em termos de negócio.

Esta é a velha hipocrisia de esperar que a RTP, instituição, por si só, resolva os seus problemas. O governo (este e outros) já há muito deveria ter definido tudo isso e ter deixado claro qual o papel da televisão enquanto um serviço do estado. Teriam sido poupados milhares (quiçá milhões) de euros em programação que nem sequer se sabia muito bem que propósito serviria.
Agora iremos assistir (eventualmente, porque ainda nada é oficial) à concessão de um canal cujo objectivo nem sequer é claro. Que irão fazer os exploradores da concessão se nem sequer sabem para que serve o canal?

A nova hipocrisia vem do povo, naturalmente. Se a culpa da RTP não ser uma estação pública, praticamente, intocável é do governo, a reacção do povo em relação às notícias de fim da RTP 2 e concessão da RTP 1 é nada mais do que exagerada e hipócrita.

Em Fevereiro de 2012 a audiência da RTP2 foi de 3.5% como podem ver neste link da Marktest.

Ainda hoje me dei ao trabalho de fazer uma, vá lá, observação pelo facebook para encontrar muita gente a manifestar-se frontalmente contra a extinção da RTP2. Tanta gente que me faz, seriamente, duvidar das estatísticas porque é impossível que a RTP2 tenha tão poucas audiências quando tanta gente quer ver.
A 2 é um canal que passa à semana, nada mais, nada menos, do que 9 horas de programação infantil através do segmento Zig Zag. Portanto podemos, de certa forma, obviamente, assumir que a 1.5% +/- da audiência da RTP2 são crianças. Depois são transmitidas uma série de séries (peço desculpa pela redundância) que são da qualidade mas que pecam por já terem sido transmitidas no cabo. Têm as habituais notícias com um telejornal de 30 minutos muito mais objectivo e eficaz do que os mamarrachos de uma hora e de hora e meia dos canais generalistas. Tem os habituais programas sobre cultura do género Câmara Clara e tem o espaço reservado a pequenos produtores de tv de mercados específicos. Os religiosos, canal da Universidade, que é tão amador que até dá dó e os programas destinados a divulgar causas africanas, causas ambientais e causas civis. Ao fim de semana um monte de desporto durante a tarde, que na verdade ninguém que saber, salvo alguns aficionados de uma modalidade específica.

Portanto, há para ver muita coisa, mas, em suma, não é o que as pessoas querem ver. Contudo toda a gente está preocupada com o desaparecimento da RTP 2, porque bem, não vêem mas quem sabe um dia pode apetecer-lhes e irem lá dar um salto, ou porque é mais um canal disponível para o  zapping tornando-o mais longo.

Quanto à RTP1 também não compreendo a indignação. Maior parte das pessoas queixam-se dos prejuízos e que é só gente a "mamar" à nossa pala. Pois bem, vai ser concessionada e com isso reduz-se o dinheiro que o contribuinte vai dar para a RTP1, só que também, provavelmente, vão-se acabar aqueles programas de cultura geral após o telejornal, que muita gente gosta de ver e que eu até acho instrutivos, mas que na verdade são obsoletos. Vai-se acabar o Preço Certo e o Fernando Mendes será uma memória perdida no universo televisivo. Provavelmente acabar-se-ão os programas amigáveis dos velhinhos que os ocupam parte da manhã e parte da tarde. Quem sabe acaba-se o Portugal em Directo (antigo Regiões) e as regiões desfavorecidas perdem mais um canal de comunicação com o resto do país. Tudo porque nem sequer se sabe se isso serve o serviço público, pois esse chavão é deixado ao abandono da interpretação individual.

E a interpretação individual em Portugal (e tipicamente portuguesa) é a seguinte.

Quando surgem notícias de prejuízo "é só cabrões a mamar". Quando surge a possibilidade de perderem a estação "Ai Nosso Senhor Jesus Cristo". E ainda nem sequer viram no que se tornará a RTP1.

Em suma. Este assunto é mais um caso em que se mostra a típica mentalidade portuguesa. Deixa andar. Não se olhem aos problemas essenciais da situação que as coisas se resolvem. Mais não seja às três pancadas.

Por outro lado a visão do povo que não quer saber e critica, não sabe bem o quê, mas critica. E depois vem a solução que não gostam ou que não parece bem e ficam perturbados.

A minha opinião é, há muito, a mesma. É estúpido afirmar que é possível garantir um serviço público concessionando o mesmo a um privado. Se os gestores que a RTP teve (que são comuns aos canais privados, diga-se) não fizeram o milagre de pôr a coisa a dar lucro (que nem devia ser o objectivo, mais uma vez) porque é que o haveriam de conseguir fazer agora? A resposta é simples, quem garantir a concessão vai procurar obter retorno do investimento que fez e não vai poder ficar estrangulado por normas vagas para definir os serviços que devem ser prestados. Se assim for, apenas acontecerá que quem o fizer irá fazer um mau investimento e ainda acaba o estado a ter que indemnizar o explorador da concessão, pois não foram concretizados lucros.

Desta forma o espectro televisivo público devia de permanecer sob alçada do estado. Simplesmente estabeleça-se o que é o serviço público televisivo de forma clara. Definam-se os papéis de cada uma das estações (as do sinal aberto e as do cabo) e apliquem-se. E entenda-se de uma vez por todas que a RTP deve funcionar sem se preocupar com lucros preocupando-se apenas com eficiência e qualidade dos seus conteúdos.

Links para notícias aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Arte e liberdade

Após observar algum do trabalho referente aos movimentos artísticos da segunda metade do Séc. XX surgiram-me algumas questões com as quais não deixei de debater na última semana. Acerca das mesmas cheguei a uma conclusão que, basicamente, não é consensual.

Quando me deparo com uma pintura deste género  ver link não posso deixar de questionar o conceito de arte.

Pois então, o meu conceito de arte é muito simples. Não basta eu pintar um quadro para isso ser uma obra de arte. Nem basta a liberdade de o fazer para me considerar um artista.
É minha convicção que arte deve ser provida de sentido. Deve ser algo onde haja uma intenção declarada, ainda que discutível.
Há um conceito segundo o qual a arte deve ser algo que provoque uma reacção. Discordo, porque, basicamente, o mau gosto provoca reacção. É fácil provocar uma reacção através da decadência, por exemplo.

A arte deve ser algo que nos impressione, quer pelo tema, quer pela intenção, mas, também, pela técnica. Portanto se me disserem que Jackson Pollock é um artista eu respondo com "nonsense!".

O interessante neste tema, mais do que debatê-lo, será descobrir o que é que eventualmente mudou. O que é que mudou entre o Séc XIX e o Séc XX que nos deixou passar de uma fase tão espectacular como o Impressionismo para fases tão incipientes como Abstraccionismo e Minimalismo?
Não nos é possível dizer que tudo o que é feito dentro da Arte Moderna e da Arte Contemporânea seja mau, da mesma maneira que não podemos dizer que na Arte Clássica tudo era perfeito. Nada disso. Mas o que é certo é que um quadro só de uma cor ou um quadro com uma barafunda de riscos nunca seriam levados a sério noutros tempos.

A meu ver, isto relaciona-se com os factores de liberdade e aceitação. Na Idade Média pintar um quadro bom não era sinónimo de aceitação. Muitas vezes os próprios artistas não eram aceites devidamente e não passavam de mais um trabalhador pago para fazer um trabalho. Hoje em dia qualquer pessoa pode pintar um quadro. Principalmente se fizer parte de um grupo de amigos relativamente ligados às artes.
É fácil espalhar umas tintas e fazer uma teoria acerca disso e explicar. E depois aquilo é um quadro e não um monte de rabiscos. A liberdade de criação leva obviamente a que apareçam certas obras que, apesar de desprovidas de "sumo" artístico são consideradas obras de arte, se vistas de uma certa perspectiva. Há quem diga que quando fecha os olhos vê exactamente o que Pollock pinta nos seus quadros e, daí, é mesmo arte. Só que o problema é o seguinte, eu posso ver um cagalhão quando fecho os olhos. Isso faz uma foto de um cagalhão uma obra de arte?

Análise da obra de arte moderna é dispersa. Tudo serve de justificação para uma obra de arte. Se eu, eventualmente, fosse um grande artista e fizesse um quadro azul e castanho e dissesse que aquilo era a dicotomia mar/terra, provavelmente, as pessoas considerariam isso uma obra fabulosa. Se eu fosse Pollock e fizesse isso, toda a gente iria babar para cima. Isto é um estigma comum. A sociedade de hoje em dia reverteu o papel do artista e as consequências do seu trabalho. Ao passo que Miguel Ângelo poderia ver as suas obras recusadas por não atingirem os objectivos, as obras do artista contemporâneo não visam objectivos nem propósitos. O conceito de arte está associado o que cada um entende ou quer entender como conceito de arte.


Esta pintura é a Coroação de Napoleão por Jacques Louis-David. Encomendada por Napoleão a obra foi precedida de estudo por parte do pintor e aprovação por parte do Mecenas. É uma pintura grandiosa com quase 10 metros de largura. Aqui poderíamos traçar uma diferença importante entre antigamente e agora. Napoleão esquartejaria a sangue frio Jacques Louis-David se ele apresentasse isto: ver link
Mesmo que ele inventasse a mais fantástica teoria acerca do assunto.

Estou longe de afirmar que as pinturas dos movimentos artísticos anteriores ao Séc XX eram melhores por via da obrigação do pintor em seguir um caminho. Mas, por exemplo nesta pintura de Jacques Louis-David, é possível sentir a vontade de criar algo de imponente e poderoso replicando a imponência e grandiosidade do momento retratado.

Nas pinturas de Monet é possível sentir que o pintor está apenas a recriar algo de bonito como valia para ser representado numa pintura e reparem que é um pintor fora dos cânones clássicos. Mas há uma intenção de perpetuar a beleza de algo.


Da mesma maneira que se observarmos um quadro de Van Gogh podemos sentir um pouco os desvarios do pintor. Ver por exemplo Starry Night. É uma pintura que apesar de não ser tecnicamente convencional, emana algo de magnético que nos atrai para observar e tentar perceber o que se passa e o que se passou com o pintor.

O que passou a ser diferente entre antes e agora é provavelmente a aceitação e a liberdade de mostrar o que quer que seja.
Obviamente, em tempos antigos, muitos dos quadros que hoje em dia existem como obras de valor seriam nada mais do que material para acender fogueiras. Porque à face da sociedade não representavam aquilo que se queria ver. As pessoas gostavam era de ver grandes edifícios com proporções megalómanas. Hoje em dia não passa pela cabeça de ninguém construir edifícios da bitola do Mosteiro da Batalha por exemplo. Não faria sentido e seria considerado uma megalomania por uns e uma atitude antiquada por outros. Da mesma maneira que é complicado ver a arte voltar aos preceitos Clássicos presentes no Classicismo, Renascimento e Neo-Classicismo.

Essa impossibilidade de regressar a movimentos passados não é nada de grave. Mas é preciso encontrar um ponto em que se separe o trigo do joio. A proliferação de edifícios cúbicos, por exemplo, sem qualquer instinto estético ou coadunação paisagística não é boa. Ainda que em termos práticos seja mais lógico fazê-lo assim. Essa proliferação leva a um caminho de uniformização que é prejudicial. Daqui a pouco temos todos casas iguais e indistintas.

O advento da liberdade leva e excessos. Tão simples como observar países, após as revoluções, em descontrolo total durante anos governos a cair sucessivamente, povo sem saber o que pensar etc.
Na arte contemporânea penso que se passa o mesmo. É o advento da liberdade. Onde tudo é permitido. É possível urinar para cima de uma tela e expor (é um direito associado à liberdade). A sociedade de hoje em dia, ainda não está formatada (estará algum dia?) para que cada individuo pense por si próprio. Há sempre uma tendência definida por alguém (um alguém qualquer) que leva multidões a ver o que se passa.

Acredito que daqui a uns anos haverá uma filtragem daquilo que vale a pena ou não. Talvez quando aparecer alguém com um quadro azul marinho e disser que aquilo é uma homenagem a Moby Dick misturando o azul do mar com a brancura da baleia. Toda a gente ficará surpreendida e maravilhada e no fim ele dirá que quem pintou aquilo foi um trolha qualquer e que na verdade até acha bastante básico e toda a gente ficará a pensar na sua estupidez por ter simplesmente acreditado e apreciado algo de forma tão irreflectida e desprovida de individualidade. Talvez quando alguém fizer isso as pessoas se apercebam que nem tudo o que vem à rede é peixe. Nem tudo o que está numa tela é arte. Nem tudo o que está num livro é literatura. Nem tudo o que está num disco é música.

Porque é que eu gosto dos Bon Jovi

São parolos. São popularuchos. São uns vendidos. Etc Etc.

Os Bon Jovi são uma banda para quem todos os argumentos contra servem. Há quem diga que não têm qualidade musical, que se vestem de forma estúpida, que só querem é vender discos e por aí fora num chorrilho de disparates que visa apenas apagar as evidências. E as evidências são simples. Os Bon Jovi são neste momento uma das maiores bandas do mundo, junto dos U2 (e reparem que eu nem sequer sou fan dos U2 mas sou razoável e sei ver que apesar de não gostar muito, a grandeza deles não se discute). Obviamente quando digo bandas não incluo artistas pop "a la" Madona e etc.

Àqueles que dizem que não tem qualidade musical. Obviamente quem ouve a It's My Life, pensa que para além de ser um grande hit, não é nada de complexo musicalmente. É verdade. O mesmo com a Livin' On a Prayer. Quem ouve o trabalho dos Bon Jovi por inteiro terá forçosamente outra percepção. Usando melhor o ouvido é possível constatar vários pormenores. Primeiro, a contrução das músicas, essencialmente ao nível de trabalho de guitarras são algo de fenomenal. O guitarrista, Richie Sambora, é um excelente guitarrista que nunca ficou a dever nada a nomes como Slash (que é curiosamente considerado um deus da coisa). Sambora à vista da maior parte dos fans de Slash é apenas um parolo. Há até um vídeo no Youtube que é Sambora vs Slash, onde alguém reuniu alguns solos dos dois numa espécie de frente a frente e nenhum fica atrás do outro. São dois excelentes guitarristas, apesar de não ser fan do estilo do Slash.
Os instrumentais dos Bon Jovi são normalmente bem conseguidos e bem estruturados. Ver músicas como The Next 100 Years, Dry County, Wanted Dead or Alive ou Keep The Faith (entre outras obviamente). São músicas em que é possível sentir a progressão e sentir a intensidade conseguida através da estruturação da música.

Resumindo, quem diz que Bon Jovi não tem qualidade musical é porque só ouviu aquilo que dá na rádio.

Àqueles que dizem que os Bon Jovi são parolos. Aqui têm uma fotografia relativamente recente.






Digam-me então o que é que há aqui de parolo. Casacos, camisola e calça de ganga. Sapatos pretos. Hmmm, não é muito parolo pois não?

O problema é as pessoas estarem presas na imagem dos anos 80 em que, à vista de hoje, vestiam-se de uma forma super-parola. Mas a realidade é que nos anos 80 todas as bandas de rock faziam isso. Já viram fotos dos Guns'n'Roses nos anos 80, quando o Slash dava concertos em cuecas e chapéu? E os Van Halen? E os Def Leppard? E os Kiss? E os Scorpions? E qual é a diferença? Não vejo ninguém a dizer que essas bandas são parolas. Nem vejo isso a ser argumento para as desvalorizar, por isso quanto ao argumento de parolice, estamos conversados.

São uns vendidos. Pois, ao menos os Bon Jovi nunca disseram que iam acabar para depois voltarem anos mais tarde, como os U2 (intencionalmente ou não). Os Bon Jovi, apesar da era grunge, foram uma das poucas bandas americanas que sobreviveram a esse tempo (onde começou também a proliferar o RAP) em que muitas bandas como eles foram ficando esquecidas.
Os Bon Jovi só têm três verdadeiros hits. Livin' On a Prayer, It's My Life e Blaze of Glory, sendo esta última fruto de um trabalho a solo do Jon Bon Jovi. De resto têm várias músicas que fizeram sucesso como Wanted Dead Or Alive, You Give Love a Bad Name entre outras que são músicas que ficam no ouvido mas que não dão para rotular como Hit, pois não são músicas convencionais.
Os Bon Jovi têm muitas "baladas". Mas pelo menos as baladas deles têm intensidade. Não são a chochice de um tipo ao piano a cantar como se chorasse.
Os Bon Jovi pegaram nos grande sucessos deles e lançaram um disco absolutamente fabuloso em 2003 chamado This Left Feels Right, onde compuseram novas músicas numa base mais acústica para esses sucessos. Um trabalho, que como seria de esperar, colheu muita insatisfação, mas eles fizeram-no porque era o que queriam fazer. Teria sido mais fácil lançar um greatest hits, que era o que toda a gente esperava na altura. Teria vendido certamente mais.

Quando eles lançaram um disco ao vivo não se limitaram a gravar um concerto de gala. Pegaram antes em várias gravações ao longo do tempo e lançaram um documento sobre a evolução ao vivo da banda com gravações desde 1985 a 2001.
Quando lançaram uma colectânea não se limitaram a pôr os sucessos e remixes dos mesmos. Lançaram antes uma colecção de 50 músicas que nunca tinham sido lançadas antes.

Em praticamente todos os lançamentos deles há uma dose de risco associada, que torna as coisas interessantes, mas que pode correr mal. Por isso, vendidos também não concordo.

São uma banda fenomenal ao vivo. Entre 2008 e 2011 foram em dois anos a tournée mais lucrativa do ano. Isto, porque dão excelentes concertos. Com divertimento e com intensidade. Sem coreografias. Nota-se que estão a divertir-se ao fazê-lo.

Eu gosto dos Bon Jovi porque são uma banda que me põe para cima. O conteúdo da maior parte das letras é optimista e, de certa forma, agressivo. É uma banda com a capacidade de me fazer sentir mais motivado para enfrentar as palhaçadas do dia-a-dia. E porque são uma banda orgulhosos deles próprios. Nunca foram amados pela crítica e no entanto insistiram e persistiram e conseguiram tornar-se numa das maiores bandas do mundo. Não renegaram o passado, por muito parolo que ele pareça.

Para finalizar, uma frase que resume sempre o que eu sinto quando os oiço.

"Why you wanna tell me how to live my life?"

Have a nice day ;)

Perdas de tempo

Pessoalmente a minha vontade de ser sociável e conviver com quem quer que seja, para além da minha namorada e da minha família, é cada vez menor.

Sinto-me excluído do rumo que tudo tomou ao longo da minha vida. Auto-excluido talvez.

A verdade é que não me lamento por isso. No fim de todos estes anos acho que fiz muitas coisas que queria fazer e sinto que tenho um rumo com o qual devo perseverar. E se isso não me levar a lado nenhum, bem, foi o meu rumo e não o rumo que outros me impuseram ou sugeriram.

Só há uma coisa que ainda não consegui e gostava de o fazer. Gostava que ninguém soubesse onde eu estou. Gostava de ser uma memória bem esbatida para as pessoas que conviveram comigo. Sinto que o passado, ou melhor, o grupo de pessoas e experiências partilhadas no passado, não são mais do que um fardo que carrego inutilmente e que volta e meia aparece para me assombrar. Aparece no sentido em que me lembro disso esporadicamente.

A verdade é que pouco me importa o que essas pessoas fazem ou dizem. Pouco me importa o que é feito delas e se eu tivesse alguma coisa a dizer a essas pessoas, diria que não me chateassem e que se me vissem na rua, não me interpelassem. Isto é bastante arrogante, eu sei, mas a verdade é que eu não quero saber. Já me bastou a desilusão de os conhecer. Já me basta a mágoa de ter desperdiçado o meu tempo com pessoas de merda.

Lembro-me de andar na catequese. Nessa altura fazia o caminho a pé e são cerca de três ou quatro quilómetros. Pelo caminho de ida e volta era comum eu ser bastante gozado e às vezes até agredido pelos meus supostos amigos. Por isso a minha mãe ia sempre esperar por mim para voltar para casa comigo a pé.
Houve um dia, em que esses parvalhões vieram ter comigo e disseram que não iam gozar comigo e íamos fazer as pazes. Eu na minha burrice disse que sim e quando saí disse à minha mãe que ela podia ir para casa sozinha que eu ia depois com eles. Apenas para dias mais tarde voltar a ser gozado outra vez pelas mesmas pessoas.
Ainda hoje lamento ter dito à minha mãe para ir sozinha. A ela que fazia o sacrifício de ir ter comigo para me proteger. E eu desdenhei disso pela promessa vã de que ia ficar em paz com aqueles burros de merda.
Eu sei que obviamente eu era inocente e sei também que a minha mãe já nem se deve lembrar disso. Mas eu lembro-me e sempre que me lembro sinto-me triste. Certamente houve outras ocasiões em que não estive com a minha mãe para ir fazer outra coisa, mas esta está na minha memória porque eu vi os olhos da minha mãe quando lhe disse que ia depois. Os olhos de quem sabia que eu estava a caminhar para o buraco outra vez.

Por isso essas pessoas que, hoje em dia, não me dizem absolutamente nada, bem podem ir todas para o inferno. Fazem-me um grande favor em não me falarem. Aumentam a minha qualidade de vida em não ligarem nenhum.

Ainda oiço por vezes aquela lenga-lenga de "Ah mas as pessoas merecem outra oportunidade". Só que o problema é que eu já dei segundas oportunidades a muita gente. Porque é que haveria de voltar a dar agora?

Sempre que me imagino (apenas a título hipotético) num desses jantares de reunião vejo-me completamente de parte. Não porque seja melhor que eles. Mas sim porque sinto que não teria nada para dizer para além do trivial. Do género "Fiz isto e isto, estudei aqui e ali, trabalhei ali e acolá e agora estou a trabalhar em além" e pronto, fim de discurso.

Dentro destas pessoas que eu digo que me fazem um favor em não me dizer nada, há pessoas com quem eu gostaria de re-conectar de certa forma. Mas hoje, chego a algumas conclusões que me fazem sentir parvo por chegar a elas apenas agora. Eu, desde que me lembro, tenho o mesmo número de telemóvel. E praticamente toda a gente tem esse número (ou tinha). Pelo contrário eu nunca tive os números de ninguém para além de uma pessoa que era a única com quem me dava consideravelmente bem. E dessa única pessoa foi-me dado um número de alguém próximo a essa pessoa, o que obviamente resultou em Kommunikation Kaputt. Mas essa pessoa ficou com o meu número. E porque é que nunca mais disse nada? Porque é que tenho de ser eu a fazê-lo?
Obviamente fui convidado para um jantar de reunião e não fui. Será que devia ter ido? Para ver uma pessoa só? Uma pessoa que nunca mais me disse nada?

Sim eu sei. Eu se calhar sou tido como arrogante e como tendo a mania. Mas acontece que eu não tenho culpa de saber mais do que os outros e não tenho culpa de gostar de ensinar coisas às pessoas. Não o faço por mal. Se calhar se alguém estiver a falar sobre astronomia sou capaz de referir que a terra está a +/- 150,000,000 de km do sol entre outras coisas que sei. E não o faço por arrogância mas sim porque acho interessante. Mas se calhar dá a aparência de eu ter a mania. A verdade é que não me importa. Se alguém, por causa de coisas como essa, me classifica assim, que seja feliz.

E bem, no meio disto tudo sinto que há uma parede invisível que dificilmente ultrapassarei relativamente a estas e outras pessoas. Sinto que vou ser sempre visto como alguém arrogante.

Hoje em dia, dá a ideia que se não és visto morres. Se não apareces nas saídas regularmente e se não convives regularmente, desapareces. Já ninguém quer saber. Às vezes chegam a dizer que eu é que os estou a desconsiderar porque não apareci. Esquecem-se que uma pessoa trabalha. Que precisa de descansar e esquecem-se que nem toda a gente gosta de fazer as mesmas coisas. Mas enfim, nada disto interessa muito.

Porque é que eu gosto dos Arcade Fire

Arcade Fire é uma banda relativamente recente para mim. Só há coisa de uns meses é que comecei a ouvir regularmente, apesar de os ter visto no SBSR '11.

Uma das coisas que salta à vista, nos dois discos que eu já ouvi, Neon Bible e Suburbs, é uma pessoalidade bastante profunda. Sente-se que há algo que é muito de quem fez a música. Há vários sentimentos diferentes, porém, todos eles ligados e lógicos dentro do conceito das músicas.

Se em músicas como Ocean Of Noise e My Body Is A Cage é possível ouvir um amor melancólico, em músicas como Intervention ou Month Of May é possível ouvir um grito de revolta bastante forte e profundo.

O que eu gosto em Arcade Fire são as letras. Identifico-me bastante com algumas e penso, muitas vezes, se quem as escreveu estará a pensar o mesmo que eu.

É, nomeadamente no último disco, abordada uma temática muito querida aqui do nosso blogue, que é a letargia de pensamento.

"So young, so young,
so much pain for something so young
I know it's heavy I know it ain't light,
But how you gonna lift it with your arms folding tight?"

Gosto bastante deste verso, pois é precisamente aquilo que eu penso frequentemente das pessoas. Em Portugal, as pessoas queixam-se e esperneiam e no entanto quando chegam a casa limitam-se a ir ao Facebook ou a ligar a tv e tudo passa.

Ocorre-me por exemplo o Acordo Ortográfico, como um caso gritante em que toda a gente parece estar contra, mas bem, maior parte das pessoas parece estar completamente resignada, até fazendo um esforço por o cumprir. Quantos jornais apresentaram colunas de veemente desacordo com esse embuste? E quantos é que não seguem já o dito acordo?

De qualquer das maneiras, voltando aos Arcade Fire que se viram no meio de fogo cruzado contra o Acordo Ortográfico, coitados, eu identifico-me bastante com esta crítica.

Acho paradoxal é que a maior parte da juventude oiça e pense que aquilo é espectacular. Se calhar se eu começasse a insultar as pessoas que por aqui passam a ler, pelo fim do ano, seria o melhor blogue português. Mas bem, parafraseando o John Cleese "The problem with some people is that they are so stupid, that they don't know how stupid they are". É a única explicação plausível que encontro.

Os Arcade Fire não têm pudor em criticar aqueles que são o seu público alvo. Pois o público alvo encaixa-se perfeitamente nesta descrição:

"All the kids have always known,
That the emperor has no clothes,
But they bow down to him anyway,
It's better than being alone"

Pois é, é mais difícil enveredar pelo caminho em que se diz não à mediocridade. Em que se diz não àqueles pequenos vícios que toda a gente comete em busca de um bocado mais de emancipação. Lembro-me bem que da primeira vez que me ofereceram um cigarro e eu recusei, fui gozado até casa por ser um betinho e ter medo. Na verdade e olhando para trás, quem tinha medo eram eles, todos a fumar às escondidas e a "travar" expelindo Ohs e Ahs  a cada acrobacia feita como se tivessem a ver um espectáculo de circo. Corajoso fui eu que disse que não, sozinho, a meia dúzia de adolescentes irreflectidos.

É mais fácil fumar umas ganzas não é? Fazer o que toda a gente faz e ser rebelde e fora da lei. É mais fixe e as miúdas ficam mais impressionadas. E toda a gente se junta para ver o cometer de uma ilegalidade, enquanto olham sobre o ombro para certificar que ninguém vê o enrolar da mortalha. Apesar disso, nessa altura ninguém me pressionou. Mas bem, senti-me diferente dos outros e isso nunca se reflectiu positivamente. Pois então eu era o certinho. Nunca me incomodou o rótulo, até porque, na prática, isso é bom. Mas bem, hoje em dia eu sinto-me um espírito livre com o futuro à frente e essas pessoas, maior parte delas, tem filhos (aos 20 e poucos anos diga-se), alguns deles mais do que um filho, casaram, trabalham e vão ao café à noite todos os dias socializar e ouvir as parvoíces que se dizem no café e enfim. Pensam em comprar um carro novo, porque o que têm (ai, ui) já tem dez anos.

É mais fácil agachar do que estar sozinho. É mais fácil dizer que gostamos de Radiohead, quando na verdade temos de ouvir e ouvir e ouvir até a música estar decorada, o que não quer dizer degustada (eu sei que nem todos os fans de Radiohead são assim, mas muitos são). É mais fácil gostar dos Artic Monkeys que são uma valente merda. È mais fácil gostar de tudo o que o Jack White grava sem olhar a mais nada senão o nome. Numa vertente mais pimba é mais fácil gostar do Michel Teló e da Lady Gaga. Sei lá, está mesmo à mão de semear. Ai de nós se vamos ao ginásio e não sabemos aquela versão do Teló em Drum & Bass (gargalhada interior) para fazer o step. Ou aquela música da Lady Gaga para fazer o Spinning à velocidade certa.

Em suma, é por isso que eu gosto dos Arcade Fire, porque eles não têm medo em criticar, até mesmo aqueles que gostam deles. Eu faço o mesmo, mas quando eu faço isso, maior parte das pessoas fica ofendida. Quando são os Arcade Fire é fixe e fecham os olhos ao facto de estarem a levar uma bofetada no orgulho.

Outra crítica feita à juventude é quando dizem:

"They seem wild, but they are so tame,
They're moving towards you with the colors all the same"

É verdade, toda a gente faz e acontece. E depois no momento... Tenho um colega de trabalho que acerca de uma formação gritou aos quatro ventos que não ia. Era como se lhe arrancassem um dente. E não dava satisfações à direcção e que nem à mulher dava satisfações. Quando eu, com muito sacrifício da minha parte, compareci à formação, lá estava esse meu colega, tipo cordeirinho. É fantástico, não é?

De qualquer das maneiras, eu gosto de Arcade Fire, porque sinto sinceridade. Sinto que eles exprimem o que sentem e não têm medo de serem censurados por isso. Acho até que eles preferiam não ter assim tanto sucesso. Mas isso já é uma especulação minha.

"I'm living in an age,
That screams my name at night,
But when I get to the doorway,
There's no one in sight"

É engraçado como são uma banda que, em termos sonoros, teria pouco para me agradar. Mas a verdade é que a conjugação de sentimento, com as letras e a intencionalidade faz deles uma daquelas bandas que me dá arrepios em certas músicas.

Um Cemitério Chamado Internet

Hoje em dia, a Internet é uma ferramenta, por assim dizer, que fervilha de informação. Estão coisas a acontecer em todo mundo e os updates, de diferentes tamanhos e importâncias, são algo constante. Nem podemos imaginar quanto.

Contudo, há um lado que, na minha opinião, é bastante obscuro acerca da Internet. Esse lado é aquele em que há um desaparecimento que nós nunca poderemos explicar.

Mais concretamente, blogues, páginas de Facebook, Hi5, MySpace etc etc. Todo o tipo de sites onde há uma pessoalidade associada. Onde é um indivíduo que actualiza a página, com mais ou menos frequência, com coisas de maior ou menor interesse.

Vemos por exemplo o Facebook que as pessoas actualizam obsessivamente a toda a hora e a todos os minutos. Onde coisas tão importantes como o seu casamento e coisas tão irrelevantes como uma ida ao ginásio, são dignas de relato. Devo dizer, que esta necessidade é a meus olhos absurda. Estarmos constantemente a afirmar ao mundo que fizemos isto ou aquilo, que fomos jantar com não sei quem, que somos amigo de não sei quantos, que frequentamos taberna X e gostamos de sitio Y. Toda esta informação é, a meu ver, exagerada e desnecessária. Até porque, hoje em dia, provoca-me cada vez mais confusão quando as pessoas se referem a outras como bisbilhoteiras e coscuvilheiras, porque afinal se disponibilizam tanta informação assim, de que é que estavam à espera? Isso já nem é bisbilhotice, mas sim conhecimento ocasional, porque se eu vejo algo é natural que depois me lembre disso.

Mas bem, de volta à vaca fria.

Sinto-me sempre bastante estranho quando vejo esse tipo de sites pessoais sem qualquer actualização há uma montanha de tempo. Há paginas sem actualizações há um, dois, três, sete, oito anos... É muito sinistro, porque quando eu visito uma dessas páginas estou, inconscientemente, a criar um laço com a pessoa que a actualiza/actualizava, para bem ou para o mal. O facto de uma página não ser actualizada há muito tempo leva a uma pergunta, que se calhar pouca gente faz, mas que eu faço.

O que é que aconteceu a esta pessoa?

Há páginas que apesar de não serem mais actualizadas, têm um último post a dizer que não vão escrever mais, ou que vão passar a escrever noutro sítio, e nessas não há esse sentimento. Mas há sites que tinham actualizações diárias que não são actualizados há anos o que leva a uma sensação estranha de desaparecimento. Pode ter acontecido imensas coisas a essas pessoas. Certamente algumas morreram, outras simplesmente deixaram de ter tempo para isso, outras abriram os olhos a uma nova realidade etc etc. As razões são inúmeras, mas o facto é que é estranho.

Não posso deixar de recordar quando há uns anos um utilizador de um fórum que eu frequentava morreu num acidente de automóvel. Eu falei ocasionalmente com esse utilizador e até simpatizava com ele, apesar de para mim, aquilo não ser nada mais do que uma relação de circunstância. Quando ele morreu lembro-me bem de ter ficado bastante assombrado pela notícia, apesar de nunca o ter visto. Isto já foi há uns anos e a página de perfil dele continua disponível nesse fórum, apesar de já terem passado alguns anos. E isso é muito estranho. Pois nessa página aparece qual foram os últimos comentários, feitos dias antes de falecer. Isso é extremamente estranho

Porém, dirão, com razão, que nem toda a gente que deixou de actualizar as suas páginas morreu.

É verdade e isso talvez tirasse algo ao sentido do meu post.

Mas também é verdade que se eu deixasse de actualizar este blogue, para além das entrevistas, este blogue iria ficar com o cemitério do meu "eu" de hoje em dia e dos últimos quatro anos. Da mesma maneira que algumas páginas de Hi5 são o cemitério de muitas pessoas, que hoje em dia, apesar de serem os mesmos corpos, não são as mesmas pessoas. Mudaram, para melhor ou pior, mas mudaram e esses Hi5 e Myspace não são nada mais do que uma campa daquela pessoa. Fica ali sepultada a nossa identidade de tempos idos. Porque escreveram lá as suas alegrias e tristezas. Conheceram boas e más pessoas. Reagiram às músicas que ouviram, aos livros que leram e aos filmes que viram. Disseram parvoíces e escreveram piadas etc. Eu quando vejo comentários meus em fóruns de há cinco e seis anos, até reviro os olhos. Aquele João não é este João. Se eu pudesse apagava esses comentários, porque hoje em dia em nada reflecte o que eu sinto ou penso. Reflecte o que o João da altura pensava e esse João já não existe. Existe outro, da mesma forma que o João que começou este blogue em 2008 já não é o mesmo que vos escreve em 2012 e não será o mesmo em 2014. Deve-se notar que havendo continuidade do blogue, é possível verificar uma evolução, uma mudança da pessoa, e daí não é estranho porque, obviamente, isto, levado à letra, quer dizer que desde que eu escrevi letra nesta mesma frase eu já não sou a mesma pessoa.

Havendo uma quebra torna-se estranho. Ainda hoje passei por um blogue de um aspirante a músico que em 2010 postara umas coisas que tinha feito e o último post era a dizer que iria escrever num outro blogue, blogue esse que já nem existe, e ali está uma página em que ele tem as séries que estava a ver, os discos que estava a ouvir, os livros que estava a ler etc. Obviamente hoje, dois anos volvidos, esse aspirante a músico deve estar vivo, algures sem qualquer preocupação com o blogue e se calhar até é mesmo músico ou então tem um bom ou mau trabalho. Mas a sensação com que se fica é a mesma quando deixamos de ver alguém que costumávamos ver e quando nos apercebemos passaram-se anos sobre isso. .

A Internet é um cemitério pois é a campa de muitas pessoas que já não existem mais. Não só fisicamente mas também em termos de personalidade. E se imaginarmos a quantidade de pessoas que deixou páginas para trás com informações... Devem ser milhões de páginas. De crianças que já são adolescentes, de adolescentes que são adultos, de filhos que já são pais etc.

É um cemitério de uma época da vida das pessoas. De um tempo em que pensaram e fizeram certas coisas que já nem se lembram, mas que estão por aí espalhadas.

Não há nada de mal, mas, para mim, é certamente muito estranho.