25 de Abril de 2013

A todos os palhaços que há 39 anos dizem sempre a mesma merda e a todos os palhaços que desde então decidem dizer a mesma merda:

A memória é muito importante para o futuro de uma nação. É necessário relembrar tudo de mau e tudo de bom para que haja cada vez mais bom e cada vez menos mau. Contudo, a memória por si só, nada faz.

Desta forma entristece-me que em Portugal, ao fim de 39 anos ainda continuamos a viver o 25 de Abril de 1974 da mesma forma que o vivemos a 26 de Abril de 1974. Ainda estamos maravilhados com a revolução e com as promessas de uma nova era. Ainda estamos à espera que tudo se concretize num reflexo digno do Sebastianismo. Ainda elogiamos os Capitães de Abril como se não houvesse amanhã e legitimamos os mesmos a falar de coisas que não sabem e de forma arbitrária.

A única diferença é que agora queixam-se que o 25 de Abril não era suposto ser assim.

Francamente, já estou farto de celebrar o 25 de Abril (ou ver as celebrações). É sempre a mesma merda pomposa e de encher o peito. O orgulho do dia e não o orgulho da mudança. O relembrar de quem fez a revolução e o esquecer (e perdoar) de todas as pessoas que desde então esqueceram-se que também elas têm o dever de continuar essa mesma revolução. Todas as pessoas que batem no seu peito em lisonja e dão palmadas das costas de uma liberdade, da qual, na verdade, pouco querem saber a não ser que seja a sua liberdade posta em causa.

Toda a gente se esquece que a revolução acontece todos os dias e todos nós somos (ou deveríamos ser) parte dela. Todas as nossas acções contribuem para a construção de um país melhor e mais justo. Se é verdade que é importante relembrar o passado é também importante relembrar que é o presente que constroi o futuro e não o passado.

Hoje, mais importante que o 25 de Abril de 1974 é o 27 de Abril de 2013. É hoje que importa e é hoje que nos devemos comportar à altura daquilo que (supostamente) queremos atingir.

Já chega de falar de liberdades condicionadas quando muitas delas são condicionadas pelo próprio povo. Já chega de falar dos direitos que nos foram revogados, quando muitos deles nem sequer fazem o menor sentido.

Agora é hora das pessoas exercerem não só a sua liberdade em participar em manifestações inúteis e desprovidas de valor (e muitas vezes de sentido). É hora sim de exercer a liberdade de participar na vida pública. Se acham que podem fazer melhor, proponham-se a fazer melhor. É hora de todos no dia a dia actuarem como cidadãos de um país livre e não como cidadãos de um submundo onde apenas o nosso bem estar importa e onde apenas lutamos para estar melhor que os outros.

Agora é hora do presente e não de vangloriar um passado que não é nada mais do que isso, um passado. Importante mas apenas para ser recordado como factor a considerar em decisões futuras. E só lutando pelo presente conseguiremos atingir os ideais do 25 de Abril de 1974.

My Generation

Estou um tanto ou quanto cheio de ouvir a seguinte palermice.

"Eu sou da geração que brincava na rua! Não tinha telemóvel! Não tinha PS3! Jogava à bola na rua e sujava-me todo.. " etc etc

Por acaso, até pertenço a parte desta geração. Tendo nascido na segunda metade da década de 80 também brinquei na rua, também não tinha PlayStation (até certa altura), também não tinha telemóvel (o primeiro que tive foi aos quinze).

Jogava à bola onde calhava, improvisava jogos de ténis sem rede e sem raquetes e dava infindáveis voltas de bicicleta, desde que o tempo o proporcionasse. Brincava às escondidas e, passatempo preferido, era tentar atravessar o terreno do meu avô, composto por várias casas, sem ser visto. Até walkie talkies arranjei para poder comunicar nos meus parceiros de crime (leia-se, brincadeira).

Mas a pergunta que se coloca é:

E depois?

Tudo o que existia de bom na altura, continua a existir e tudo o que existia de mau, continua a existir. Quando muito, as coisas boas e as coisas más, são apenas amplificadas pela realidade de hoje em dia em que tudo é mais importante do que aquilo que realmente parece. As tragédias (uma maneira de dizer, porque refiro-me aos pequenos e irrelevantes dramas individuais) são mais trágicas e as comédias são mais cómicas.

A minha geração tem pouco de que se possa orgulhar. É a geração que ficou em cima da ponte e, por sua vez, entupiu o caminho para quem veio a seguir. É a geração daqueles que nunca decidiram se continuavam os estudos para além do 9º ano (sim, em 2000 era isso que se discutia) e mais tarde após terem feito o 12º nunca se decidiu realmente se ia para a universidade ou ficava-se por ali. Uns foram, outros ficaram.

Os que foram acharam que com um canudo a vida era um mar de rosas e que emprego seria garantido. Os que ficaram acharam que iam trabalhar e finalmente atingiriam a emancipação. Eu fui dos que fiquei pelo 12º. Mas nunca tive grande desejo de emancipação. E também não é que tivesse grande escolha. Devido às condições financeiras da minha família (bastante carenciada nessa altura) a minha opção era trabalhar e mais nada. Não havia cá dinheiro para sustentar um filho na universidade. É claro que quem foi para a universidade acabou por descobrir que o tempo dos pais deles já tinha passado. O tempo em que bastava ser licenciado para ter emprego já passara e agora um licenciado é apenas mais um. Os que não foram, descobriram que afinal era melhor estar na escola, naquela altura em que toda a gente se queixava de já ter estudado muitos anos.

Obviamente, hoje em dia, gostaria de ter um curso universitário e já me candidatei com sucesso a um. Contudo pelo trabalho fui impossibilitado de ir e, lá no fundo, ainda não decidi o que quereria estudar. História? Estudos Culturais? Estudos Clássicos? Línguas? Enfim, há muita coisa que eu gostaria de saber e em fases diferentes sinto vontades diferentes, por isso, e por não ter grande possibilidade de tempo de ir para a universidade, vou adiando a decisão de lá entrar e em que área. Tenho, porém, a certeza que quando quiser entrar em alguma área de interesse entrarei com 100% de certeza. Não sinto qualquer temor pela fase de acesso.

De qualquer das formas, voltando à minha geração. O que foi que ganhamos em brincar na rua? Nada. Burros vão ser burros e há burros em todas as gerações. O problema não são os burros em si. No mundo animal os mais fortes são quem sobrevive, mas no mundo humano os burros por vezes têm sorte e é desses que reza a história porque foram esses que nos colocaram em condições péssimas.

Tantos os da minha geração como os das gerações anteriores.
Não quero fazer a apologia dos mais fortes sobre os mais fracos. Nunca o faria, porque uma coisa é ser frágil e outra é ser palerma. Uma pessoa frágil e inteligente deve ser protegida.

Todas as gerações sofrem do mesmo mal. Todas as gerações são geradas e geram humanos. E onde há humanos há borrada na certa. Portanto que é que interessa se eu jogava Atari e agora se joga Xbox? Que é que interessa se há telemóveis ou telefones? Eu respondo. Não interessa absolutamente nada.

Por isso deixem-se lá de tentativas de superiorização porque são de 80 ou de 70 ou o que quer que seja. E ganhem juízo, porque só um palerma abestado para ter este argumento.

P.S - Quero esclarecer que o problema da afirmação da geração que fazia coisas diferentes, reside no facto de ser uma tentativa de superiorização. Não estamos a falar de pessoas que querem apenas recordar os bons velhos tempos. São pessoas que acham que brincar apenas na rua. E que crescer apenas sem telemóvel e sem computadores ou consolas. Se a intenção fosse recordar os velhos tempos, por mim não haveria problema nenhum. O problema reside na ideia que por ser diferente era, necessariamente, melhor.