No dia 30 de Junho de 2013 aconteceu algo que só se soube uma semana mais tarde.
No Brasil, nomeadamente numa localidade chamada Centro do Meio, no Maranhão, durante um jogo de futebol, um jogador foi morto e o árbitro foi esquartejado e a sua cabeça enfiada numa estaca. A notícia em Portugal foi ligeira. Dada pelo JN e pelo CM de resto, nada se falou em Portugal e as notícias que foram dadas, fruto de serem "frescas" muito escondem e muito mal informam sobre o que realmente se passou. Para saber o que se passou foi preciso esperar até Outubro de 2013 por esta peça do NY Times.
Originalmente as notícias inferiam uma espécie de multidão enfurecida que invadiu um campo para procurar vingança de um árbitro que acabara de agredir mortalmente um jogador. Mas na verdade não foi isso que aconteceu.
Como muito bem descrito no New York Times, tratava-se de um jogo entre conhecidos. Aliás, o árbitro que fora assassinado, tinha jogado durante a primeira parte até se ter magoado e trocar lugares com o árbitro inicial. Diz-se até que árbitro e jogador eram conhecidos e davam-se bem, tendo jogado juntos muitas vezes sem qualquer problema. Resumindo, estas mortes, foram tudo menos acerca de futebol, como as notícias iniciais quiseram inferir (e reforço que sem culpa nenhuma dada a proximidade de tal acontecimento).
Se não é sobre futebol, então sobre o que é?
Todos sabemos, com mais ou menos detalhe, que o Brasil é um país de desequilíbrios muito acentuados. Um em particular, mencionado em páginas sobre este incidente é o do Índice de Desenvolvimento Humano que no local do incidente é 0.541 ao passo que nas cidades mais desenvolvidas é de 0.800. Este índice é medido através do PIB per capita, condições de acesso ao ensino e expectativa de vida. Sendo que 0.541 é um valor muito baixo, indicando que as condições de vida nesta localidade são más.
E então sobre o que é? Porque aconteceu o incidente. Segundo a reportagem, muito bem auxiliada pelas fotografias, trata-se de um local que pouca gente em Portugal conseguirá imaginar que ainda existe. É um lugar remoto, com um avanço tecnológico minúsculo e onde reina uma vida esvaziada de tudo o que nós temos. Seja internet, automóveis, boas estradas, bons telemóveis etc.
Trata-se de um jovem, com problemas, que assassinou um igual, mais velho, porque uma discussão chegou à palavra mais grave que se diz sobre as nossas mães. O mais velho chamou puta à mãe do mais novo. Acontece que a mãe do mais novo havia sido mortalmente atropelada uns meses antes e essa cicatriz acompanhava o árbitro desde então, não só pela morte, mas pela incapacidade em assimilar tamanha tragédia que, aleatoriamente, ceifou a sua mãe. No meia da acalorada discussão, motivada por um cartão amarelo, e após ser também agredido o árbitro puxou de uma faca e esfaqueou o jogador duas vezes. O jogador, Josemir Abreu, viria a falecer a caminho do hospital, enquanto os jogadores chamaram a polícia e prenderam, o árbitro Otávio Cantanhede, a um poste para que ele não fugisse.
Tudo normal, excepto que quatro pessoas, relacionadas de uma forma ou outra com o jogador assassinado, espancaram, primeiro com uma garrafa de cachaça, depois com um pau, depois passaram com uma mota por cima do árbitro três vezes, esfaquearam-no na garganta e finalmente um último, com uma foice, cortou a cabeça e as pernas e enfiou-as em estacas à volta do campo, tendo ainda tentado cortar os braços, contudo, não finalizando o trabalho deixando-os, basicamente, pendurados do resto do corpo.
E isto foi em 2013. Não foi em 1513. Foi em 2013 no nosso "país irmão". E vamos ser francos, no Séc. XX já passamos por fases em que o desenvolvimento das nossas zonas rurais era do género desta que vemos agora. Aliás, diria até que a certa altura todos os países enfrentaram ou enfrentarão este nível de vida. Não se ouvem ainda hoje, em Portugal, casos de mortes por causa de um curso de água. Ou por causa de cães?
Há, contudo, um factor a salientar, que foi a demora da chegada das autoridades. Se as mesmas tivessem chegado mais cedo, talvez nada disto tivesse acontecido. Mas aconteceu.
E agora, o que tem isto a ver com a Parte 1?
No Brasil, nomeadamente numa localidade chamada Centro do Meio, no Maranhão, durante um jogo de futebol, um jogador foi morto e o árbitro foi esquartejado e a sua cabeça enfiada numa estaca. A notícia em Portugal foi ligeira. Dada pelo JN e pelo CM de resto, nada se falou em Portugal e as notícias que foram dadas, fruto de serem "frescas" muito escondem e muito mal informam sobre o que realmente se passou. Para saber o que se passou foi preciso esperar até Outubro de 2013 por esta peça do NY Times.
Originalmente as notícias inferiam uma espécie de multidão enfurecida que invadiu um campo para procurar vingança de um árbitro que acabara de agredir mortalmente um jogador. Mas na verdade não foi isso que aconteceu.
Como muito bem descrito no New York Times, tratava-se de um jogo entre conhecidos. Aliás, o árbitro que fora assassinado, tinha jogado durante a primeira parte até se ter magoado e trocar lugares com o árbitro inicial. Diz-se até que árbitro e jogador eram conhecidos e davam-se bem, tendo jogado juntos muitas vezes sem qualquer problema. Resumindo, estas mortes, foram tudo menos acerca de futebol, como as notícias iniciais quiseram inferir (e reforço que sem culpa nenhuma dada a proximidade de tal acontecimento).
Se não é sobre futebol, então sobre o que é?
Todos sabemos, com mais ou menos detalhe, que o Brasil é um país de desequilíbrios muito acentuados. Um em particular, mencionado em páginas sobre este incidente é o do Índice de Desenvolvimento Humano que no local do incidente é 0.541 ao passo que nas cidades mais desenvolvidas é de 0.800. Este índice é medido através do PIB per capita, condições de acesso ao ensino e expectativa de vida. Sendo que 0.541 é um valor muito baixo, indicando que as condições de vida nesta localidade são más.
E então sobre o que é? Porque aconteceu o incidente. Segundo a reportagem, muito bem auxiliada pelas fotografias, trata-se de um local que pouca gente em Portugal conseguirá imaginar que ainda existe. É um lugar remoto, com um avanço tecnológico minúsculo e onde reina uma vida esvaziada de tudo o que nós temos. Seja internet, automóveis, boas estradas, bons telemóveis etc.
Trata-se de um jovem, com problemas, que assassinou um igual, mais velho, porque uma discussão chegou à palavra mais grave que se diz sobre as nossas mães. O mais velho chamou puta à mãe do mais novo. Acontece que a mãe do mais novo havia sido mortalmente atropelada uns meses antes e essa cicatriz acompanhava o árbitro desde então, não só pela morte, mas pela incapacidade em assimilar tamanha tragédia que, aleatoriamente, ceifou a sua mãe. No meia da acalorada discussão, motivada por um cartão amarelo, e após ser também agredido o árbitro puxou de uma faca e esfaqueou o jogador duas vezes. O jogador, Josemir Abreu, viria a falecer a caminho do hospital, enquanto os jogadores chamaram a polícia e prenderam, o árbitro Otávio Cantanhede, a um poste para que ele não fugisse.
Tudo normal, excepto que quatro pessoas, relacionadas de uma forma ou outra com o jogador assassinado, espancaram, primeiro com uma garrafa de cachaça, depois com um pau, depois passaram com uma mota por cima do árbitro três vezes, esfaquearam-no na garganta e finalmente um último, com uma foice, cortou a cabeça e as pernas e enfiou-as em estacas à volta do campo, tendo ainda tentado cortar os braços, contudo, não finalizando o trabalho deixando-os, basicamente, pendurados do resto do corpo.
E isto foi em 2013. Não foi em 1513. Foi em 2013 no nosso "país irmão". E vamos ser francos, no Séc. XX já passamos por fases em que o desenvolvimento das nossas zonas rurais era do género desta que vemos agora. Aliás, diria até que a certa altura todos os países enfrentaram ou enfrentarão este nível de vida. Não se ouvem ainda hoje, em Portugal, casos de mortes por causa de um curso de água. Ou por causa de cães?
Há, contudo, um factor a salientar, que foi a demora da chegada das autoridades. Se as mesmas tivessem chegado mais cedo, talvez nada disto tivesse acontecido. Mas aconteceu.
E agora, o que tem isto a ver com a Parte 1?