Note to English readers: Tomorrow will be published the original interview, in English.


Hoje o Taste of Orange tem o prazer de apresentar algo que tem estado em segredo há algum tempo. Toda a gente sabe que Mauro Pawlowski é um dos artistas preferidos cá do sítio. Homem de imensos projectos aceitou conceder-nos uma entrevista. Foram-lhe enviadas as perguntar às quais Mauro Pawlowski respondeu de forma gentil.

By NansieDN
Mauro Pawlowski ficou conhecido após a fundação dos Evil Supertars em 1994 depois de terem vencido o Humo Rock Rally. Ao fim de dois álbuns e um EP a banda acabou e Mauro entregou-se a muitos projectos musicais. Tantos que é impossível numerar. Destaque para alguns albuns editados:
Mauro - Songs From a Bad Hat que é um disco a solo, Mauro Pawlowski & The Grooms - Black Europa, Somnabula - Swamps of Simulation, um disco de Rock Fantasia e ainda mais recentemente Radical Slave - Damascus.
Actualmente Mauro Pawlowski é o guitarrista da banda belga dEUS que irá lançar um novo disco em Setembro e que anda por aí em digressão.
Destaque ainda para a colaboração recente com a companhia de bailado Ultima Vez na peça NieuwZwart.


A entrevista original foi em Inglês e foi traduzida pela Efémera (que é finalista de tradução) para o português.
Contudo, e dado que o trabalho de Mauro Pawlowski é apreciado um pouco por toda a Europa, amanhã será publicada a versão original em Inglês para que todos possam ler. 
Portanto aqui fica esta entrevista exclusiva a Mauro Antonio Pawlowski.


As fotografias foram gentilmente cedidas por NansieDN
Para mais informações sobre o trabalho do Mauro Pawlowski visitem MauroWorld.
Mauro Pawlowski em concerto com Radical Slave by NansieDN



Taste of Orange: Qual é o seu processo criativo? É sempre o mesmo ou varia de projecto para projecto? 
Mauro Pawlowski: A primeira coisa que faço é ir procurar uma boa razão para criar, porque estou perfeitamente satisfeito com a música que já existe. Quero dizer, já existe suficientemente. Mas sendo eu um músico profissional, tenho que fazer alguma coisa, além de que gosto de tocar. Muito. De qualquer forma, eu simplesmente marco concertos e faço promessas sem ter nada em mente, então sou obrigado a criar alguma coisa. Eu tenho realmente que me meter em sarilhos, é assim que a maioria dos “projectos” nasce. Então só tenho de começar, pego num instrumento e carrego no botão gravar. Chamo os suspeitos do costume e digo-lhes que estão numa nova banda comigo. (“Espero que gostem das músicas, vamos tocar no próximo sábado.”) 

TO: Dos Evil Superstars aos Radical Slave, escreveu tantas letras, há letras doces e ao mesmo tempo outras tão doidas, assim sendo qual é a sua inspiração para as escrever? Vem de livros, da vida real, ou de outra coisa qualquer? 
MP: Eu leio bastante. Adoro livros acima de tudo. As pessoas que não se entregam ao prazer dos clássicos da literatura não sabem o que estão a perder. Mas quando estou a escrever letras em inglês, não perco muito tempo nelas. Habitualmente é apenas um título que pareça fixe com umas linhas extra. Posto isto, este é também o motivo pelo qual não acho que as minhas letras de rock sejam boas de todo. Hoje em dia, é claro que sinto pena, não levo nada disso a sério o suficiente. Na verdade, sinto-me bastante embaraçado até. Talvez esteja a ficar velho. Espera um minuto... de facto, estou. Mas isto está prestes a mudar porque comecei recentemente a escrever canções com letras em que passo mais de meia hora a trabalhá-las. Vão ouvi-las no ano que vem. Apenas eu e a minha guitarra e, quem sabe, canções a sério. Poderá ser aborrecido para alguns, desculpem.


TO: Que tipos de projectos tem para lançar no futuro?
MP: Acho que que irei lançar tudo brevemente. Há horas de bom material. E há ainda mais mau material.

TO: Qual foi a ideia que o levou a escrever Somnabula - Swamps of Simulation? 
MP: Uma fantasia que considerei ser divertida o suficiente para apresentar em público. Um rocker com uma capa que voou da realidade a cantar para a consciência alternativa de todos. Não muito diferente de uma versão em cartão do Matrix ou assim, não sei. A seguir veio Otot: metade homem, metade marionete de sombras que apenas existe em mensagens de texto apagadas. 

TO: Como é que arranja as ideias para os seus vídeos? Porque não são convencionais de todo (num bom sentido). 
MP: Hmm, eu apenas fiz um vídeo: Satan Is In My Ass dos Evil Superstars. Queria saber se seria divertido (não foi) e limitei-me a fazer bluff durante todo o processo, ao analisar primeiro alguns vídeos dos Bon Jovi e depois a dizer a toda a gente o que fazer como se fosse o meu quinto filme para a Dreamworks. Eu nunca preferi filmar, é demasiado vistoso. 

TO: Quais são as diferenças para si entre escrever para um álbum e escrever para um projecto como o NieuwZwart? 
MP: Para o NieuwZwart tivémos de seguir os bailarinos, o que é arrasador. Eu acho que eles eram totalmente fantásticos e muito, muito inspiradores. Aí nós pudémos fazer algumas das minhas coisas preferidas. Riffs irregulares, rock livre, variações temperamentais... maravilhoso. Há mais para vir em 2012. 

Mauro Pawlowski by NansieDN

TO: Existe, para si, alguma diferença entre tocar ao vivo para audiências grandes como faz com os dEUS e tocar em concertos mais pequenos, para menos pessoas, como acontece com alguns dos seus projectos? O seu comportamento em palco é sempre o mesmo ou há uma diferença de atitude, consoante o tipo de concerto? 
MP: Há uma diferença. Eu não vou entrar em palco a usar uma capa em frente a, digamos, 20.000 pessoas que esperam pelos dEUS, e atirar todo o equipamento para fora do palco a meio do concerto. Eu poderia ser alvo de alguns olhares curiosos e desnecessários nesse caso. Mas eu gosto principalmente de me mexer em palco. As pessoas normalmente pagam para te ver e - chamem-me antiquado - eu acredito que tens que lhes oferecer o elemento do espectáculo. Eles estão lá para te ver, por amor de Deus!
 TO: Em todos os seus projectos, há sempre uma linha de alta qualidade. Como é que consegue mantê-la? 
MP: Bem, obrigado. Contudo, alguns podem discordar, o que não faz mal. Basicamente, eu levo o meu trabalho a sério. Tenho uma ética de trabalho. Mesmo assim há imensas pessoas a abanar a cabeça em relação ao porquê de eu tragicamente desperdiçar todo o meu suposto talento. Eu gosto quando a audiência gosta do que eu estou a fazer, mas não vamos exagerar. E digo isto numa voz amigável, não como uma declaração. 

TO: Gosta de alguma guitarra em particular? Porque quando toca com os dEUS, vemos muito o Mauro com a Fender Telecaster, e no entanto também já o vimos tocar com muitas outras. Tem alguma preferência? 
MP: A minha Telecaster Thin Line é, das minhas guitarras, a que soa melhor. É por isso a que uso mais. Uma guitarra precisa de te assentar bem, é como uma peça de roupa. E como eu disse, eles estão a observar-te de qualquer forma. Não trato as minhas guitarras muito bem. Gosto de as atirar por aí de vez em quando. Se elas não fossem tão caras... 

TO: As suas canções fazem parte dos momentos especiais, de memórias, são parte da vida de alguém. Está consciente do impacto da sua música na vida das pessoas? 
MP: Na verdade, não. Desculpem, eu sei que soa mal, mas é verdade. Ocasionalmente obtenho reacções estranhas, fanáticas de pessoas. Por isso sei que há um impacto de alguma forma, às vezes, seja a que nível for. Mais uma vez, aí acho importante apresentar-me como um membro da plateia que precisa de subir ao palco por um bocado mas que “estará de volta num minuto para continuar a vida civil”. Por outro lado, não sou muito sociável com estranhos. Por exemplo: odeio chamadas telefónicas. É como estar a falar com um fantasma, se me é permitido agir de forma um pouco artística por um segundo. 

Mauro Pawlowski by NansieDN
TO: Considerando toda a música que fez, tem alguma que goste em especial? Se sim, porquê? 
MP: Gosto da maioria das colaborações porque gosto das pessoas. Gosto mais de algumas coisas que fiz do que de outras. Mas isso é apenas pela forma como as fiz. Eu nunca acabei canções como referi anteriormente. Agora, quero mudar isso. Aposto que vai fazer com que mais pessoas realmente gostem mais de mim. No entanto, tenho 40 anos. Posso lidar com o nonsense melhor do que alguma vez pude. Venha ele.  

TO: Quando e porque é que decidiu ser músico? 
MP: Eu cresci numa família bastante musical, por isso era normal tocar como hobby. Então, aos 8 vi a banda do meu tio ensaiar na garagem do meu avô. Um grupo de gregos, italianos e turcos a tocar riffs lentos e pesados dos anos 70. E realmente nos anos 70! Muito fixe. Vi a luz. E as namoradas deles. 

TO: Que conselho daria a alguém aspirante a músico? 
MP: É cada um por si próprio. 

TO: Quais é que são as suas influências musicais mais importantes? 
MP: Heróis da guitarra (Page, Iommi, Van Halen, Belew, Hendrix, etc.), compositores modernistas (Feldman, Scelsi, Xenakis, Cage etc.), deuses da bateria (Bonham, Rashied Ali, Billy Cobham, Ginger Baker, Bill Bruford, Andrew Cyrille, John French/Drumbo, Tony Allen etc.), vozes femininas (Joni Mitchell, Julie London, Dinah Washington etc.), sons não ocidentais, não músicos, pessoas/amigos/colegas locais e Crazy Horses dos The Osmonds. 

TO: O que gosta mais em Portugal? 
MP: Eu gosto verdadeiramente quando cantam em português.




O nosso muito obrigado a Mauro Pawlowski por esta oportunidade.