Já pensei muitas vezes em escrever algo sobre esta série cómica, vinda da Grã-Bretanha. Aliás, até já escrevi mas não cheguei a publicar.

Eu acho a série fenomenal. Escrita por Matt Lucas e David Walliams a série satiriza imensas pessoas e atitudes que é possível ver hoje em dia. Little Britain são três séries no Reino Unido, mais uma chamada Litlle Britain in America, passada nos EUA e ainda dois episódios bónus chamados Little Britain Abroad em que as personagens são satirizadas em férias.

Little BRITAI

As personagens são simples de explicar. Por exemplo o quadro do clube de dietas “Fat Fighters” em que a monitora ao invés de incentivar as pessoas deita-as abaixo com insultos de natureza social mas também, em alguns casos, racistas. A própria monitora sendo uma grande gordalhona. Ou o skecth de Andy e Lou. Andy é um paralítico e Lou é a pessoa que toma conta dele. Contudo e apesar de Lou tomar muito bem conta de Andy não vê qualquer gratificação ou afeição pela parte de Andy. Pelo contrário Andy está sempre a mudar de ideias e constantemente a obrigar Lou a fazer e desfazer muitas coisas. Aliás, Andy, apesar de deficiente mental, até tem opiniões bastante filosóficas, e apesar de paraplégico tem impulsos de energia nas pernas temporários que o fazem andar normalmente mas apenas durante alguns momentos.

E bem, poderia desfiar aqui sobre todas as personagens mas para isso acho melhor consultarem a Wikipédia, na versão inglesa encontram tudo sobre as personagens da série.

O que me levou a demorar muito a escrever sobre a série foi o seguinte.

Obviamente, como o assunto me interessa, fui pesquisar sobre a série. Em alguns reviews Matt Lucas e David Walliams eram imensamente criticados por estarem a satirizar gente pobre e com deficiências. E eu embora desde sempre tenha discordado dessa crítica não pude deixar de ficar a pensar um pouco nisso.

É verdade que Little Britain toca em alguns momentos no limite do chocante. É verdade que satiriza com alguns pontos fracturantes da sociedade actual como, e meramente a título de exemplo, a homossexualidade.

Contudo eu discordo porque sempre que em Little Britain se faz um skecth sobre gays o sketch não ridiculariza os gays mas sim algo que não é preciso para ser gay. O exagero da atitude. Isto é, eu sou da opinião que um gay não se vê a um quilómetro de distância. São pessoas normais como quaisquer outras, acontece que são homossexuais como outros são heterossexuais. Contudo há quem seja gay e se comporte exageradamente como gay, quase como numa forma de afirmação. Do género “Não veem??! Sou gayyyy!” ou como Daffyd, outra personagem que se veste todos os dias com roupa de latex “I'm the only gay in the village”. o que eu acho mais lamentável é que há coisa de um ano toda a gente tenha apoiado o filme de Sasha Baron Cohen "Brüno" como exemplo da luta pelos direitos homossexuais, quando aquilo para mim é um enchovalhar dos gays e do seu comportamento.

E quando se satiriza os gordos sejamos francos. Toda a gente goza com aqueles que são mais abonados em gordura. Até para justificar melhor o que eu quero dizer vou dar o exemplo de um documentário que vi. O documentário consistia numa pessoa magra vestir um daqueles fatos que nos fazem parecer gordos e depois essa pessoa era caracterizada. Basicamente ia disfarçada de gordo para a rua. Após isso essa pessoa ia a um restaurante comer. E depois disso tinha de descrever o que sentiu no restaurante. E essa pessoa sentiu-se bastante mal porque as pessoas sempre que o viam a pedir algo olhavam para ele como quem pensa “Lá está o gordalhufo a enfardar”.

Daí que quando em Little Britain se diz “Acho que os gordos deviam de ser exilados” está a dizer-se em voz alta aquilo que muita gente pensa. Ou quando a monitora do Fat Fighters lhes recomenda que comam pó é quase como as pessoas dizerem “Se os gordos são gordos é porque querem porque se comessem menos não engordavam”.

Outro exemplo da satirização da realidade é quando uma senhora despe uma amiga e tenta ir para a cama com ela, porque gosta do facto, porém quando a amiga revela à senhora que isso é um comportamente lésbico a senhora desata a vomitar, porque o lesbianismo mete-lhe nojo, mas ir para a cama com a amiga não. O que não falta por aí são pessoas que detestam as palavras mas adoram os actos, do género “Eu nunca trairia o meu namorado, mas vou para a cama com outro porque eu preciso de boleia e o meu namorado não tem carro”, acreditem, isto acontece.

Mas isto choca e faz-me lembrar “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde em que uma das personagens a certa altura diz “Os livros a que o mundo chama imorais são os livros que mostram ao mundo o seu opróbrio”. Little Britain é classificada de imoral porque retrata muitos dos podres da sociedade de forma nua e crua, e melhor, Com muita piada.

Por isso. Se gozassem com pessoas que são realmente paraplégicas isso seria reprovável. Mas no quadro de Andy e Lou, Andy não é realmente paraplégico. É apenas alguém que gosta de viver à custa de outros, porque ele anda e fala e até consegue exercer pensamentos bastante filosóficos. É preciso fazer esta distinção que faz de Little Britain uma série de sátira mas que não é reprovável. É apenas uma série que acontece que tem um humor ácido e de grande qualidade.

Sem querer comparar com Monty Python. Mas se formos ver há um sketch chamado “Marriage Counselour” em que um homem com a sua esposa entra no gabinete do conselheiro de matrimónio. Acontece que a esposa tem um corpo exuberante e traz uma roupa extremamente provocante. No fim o conselheiro e a esposa estão a fazer sexo atrás de um biombo e eu sei, isto agora não é nada, mas o sketch é de 1970. Pode-se imaginar o impacto que teve na altura. E relativamente aos Monty Python podia estar aqui a dar montes de exemplo sobre coisas que eles fizeram que provavelmente chocaram certas pessoas, mas não vale a pena.

Destaque ainda para a narração de Tom Baker que nos fornece frases deliciosas como “A Grã-Bretanha abriu em 1960, desde aí inventou o gato e inaugurou o Perú”. Tom Baker é um ex integrante da não menos fabulosa série de humor “Blackadder”.

Eu aconselho vivamente esta série de Little Britain. Posso garantir que o tempo em que estiverem a ver a série vai voar, porque apesar de acharmos nojento a certas alturas, é sem dúvida muito engraçado.