Um livro de menos de cem páginas de Lev Tolstoi. Contudo dentro destas páginas está um livro recheado de sentimento. Diria mais, é um livro pungente e que nos deixarmos envolver faz-nos sentir bem, ou mal, consoante o momento do livro.

Conta a história de um juíz russo. Ocupa um dos maiores cargos da hierarquia da justiça russa. Ivan Illitch é bem sucedido e tem uma vida adequada e feliz perante todos os padrões da sociedade. Entre outras coisas este livro relata um pouco dos podres da sociedade da época em que aparência contava mais do que o bem estar pessoal. Ivan frequentava festas, bailes, óperas e ia ao teatro. Era casado tinha filhos e uma mulher com quem raramente falava de coisas importantes. Enquanto preocupado com a feliz tarefa de decorar a sua nova casa, Ivan Illitch cai e bate contra um movel. Este acontecimento é catalizador de uma fase totalmente nova no livro, mas se é verdade que é o ponto de viragem, também é verdade que não parece nada quando lemos essa passagem, apenas mais tarde é que o leitor se apercebe de que aquele momento é decisivo no desenrolar de todo a história seguinte.

Ivan passado alguns tempos começa a estranhar que a nódoa negra provocada pela queda ainda não tenha passado. Começa também a sentir um gosto esquisito na boca e começa também num frenesim entre médicos para tentar saber o que se passa consigo e quais as soluções para o seu problema. São-lhe prescritos medicamentos e são prescritas com a doença as falsas compaixões e os sentimentos duplos pela sua doença. Por exemplo para os colegas de profissão, se é verdade que era pena que Ivan estivesse tão mal, também era verdade que era um cargo importante que ficaria por ocupar e mais uma oportunidade de subir na carreira. Todas as coisas à volta de Ivan começam a fazer-lhe confusão e cada vez mais ele apercebe-se da falsa amizade e da falsa família que o rodeia. Aos poucos os medicamentos deixavam de fazer efeito e as dores voltavam e cada vez com mais força. Era difícil ficar em pé e apenas Guerassim, o modesto empregado o consolava com a sua genuína ajuda e com a verdade sem qualquer subterfúgio. Ivan começa a desejar a morte e a morte vem ter com ele ao mesmo tempo que ele começa a deitar para fora todas as verdades que havia acumulado, contudo revelações essas consideradas apenas e só delírios febris. Ivan Illitch acaba por morrer num capitulo trágico mas com sabor a libertação. Libertação do sofrimento.

No geral acho que é um excelente livro. Dizem que os escritores russos são bastante frios e clínicos, mas eu acho que neste caso é escrita a frieza e crueldade da realidade através de uma história familiar (quantos de nós não ouvimos falar de alguém que um dia caiu ou bateu em algum lado e depois acabou por morrer tempos depois? Pelo menos eu já ouvi histórias dessas) e, obviamente, dramatizada com os problemas sociais da época.