Aproximam-se as eleições presidenciais e aproveito aqui para deixar algumas opiniões que tenho acerca destas eleições.

Em primeiro lugar a abstenção. Eu irei votar e num mundo ideal todos iríamos votar. Mas em Portugal a abstenção é um flagelo.
Eu compreendo que as pessoas estejam um tanto ou quanto cansadas de ver o país mergulhado em sucessivas crises, que se prolongam independentemente de qual é o governo, apesar de considerar esta visão um tanto ou quanto naif e de certa forma um sacudir de capote, muitas vezes relacionado com a permanente aversão às pessoas que fazem política. Basta ser político para ser um cabrão hoje em dia. Não interessa aquilo que se conseguiu ou não. O que interessa é que é político.
Mas bem, voltando à abstenção. Gostava muitas vezes que as pessoas se pusessem na pele dos Capitães de Abril. Esses bravos homens que arriscaram a vida em prol de um país melhor, livre de uma ditadura e com direito a opinião e liberdade. Votar é um direito que assiste a todos, mas é também um dever. Está nas nossas mãos escolhermos quem queremos nos cargos sujeitos a sufrágio. Por outro lado é insultuoso que alguém há 37 anos um grupo de militares tenha arriscado a vida pelos direitos dos portugueses e agora mais ou menos metade dos portugueses votantes está-se simplesmente marimbando para isso. Pelo menos eu sentiria-me insultado no lugar deles. Assim sinto-me apenas insultado pela iliteracia que leva à abstenção.
Até porque eu imagino-me em casa de alguém, de um amigo por exemplo. Estou lá e a mãe desse meu amigo vem perguntar-me "Queres jantar carne ou peixe?" ao que eu ou não respondo ou respondo nulamente. Se no jantar me aparecer peixe eu não me posso queixar. Porque afinal eu não quis escolher. Eu preferi que outros escolhessem por mim e a partir daí tenho de viver com essa escolha.
Pois então, não se passa o mesmo nas eleições?
Terei eu direito moral de me queixar de alguém eleito por uma maioria contra uma minoria, sem que eu faça parte de nenhuma das partes. Eu não votei a favor mas também não fiz nada contra. Portanto tenho eu alguma moral para me queixar? De quê? De uma promessa não cumprida? Não porque eu nem sequer acreditei nessa promessa e não votei a favor dela. Queixo-me que o outro candidato seria melhor? Não, porque eu também não votei nesse candidato. Abstive-me alegremente sem tomar uma posição.
O problema é que a grande maioria das pessoas acha que ainda assim, apesar de não ter qualquer posição, tem direito moral a queixar-se.
Portanto aqui fica o meu apelo. Votem, com consciência, mas votem em alguém, mesmo que saibam que esse alguém não vai ganhar ou já tem a eleição ganha. As eleições são um dos poucos momentos em que o nosso voto conta igual. O Presidente da Republica tem direito a um voto como qualquer outro cidadão e é esta a oportunidade que o povo tem de se fazer ouvir, mais do que em manifestações com sensação de Deja Vu e sem qualquer sentido a não ser o aproveitamento partidário.

As minhas outras opiniões prendem-se com os candidatos. O voto é secreto, portanto não vou estar aqui a fazer campanha por ninguém nem a dizer em quem vou votar. Mas reflectindo poderão aperceber-se de quem será.

A candidatura de Cavaco Silva, actual Presidente da Républica, peca pelo mandato que ele exerceu de forma pobre e incoerente, mandato esse que permitiu toneladas de mal entendidos. A maior desilusão veio em forma de comunicado acerca das escutas à Presidência no Verão em altura eleitoral. Foi ridículo. Podem ler o comunicado total aqui http://www.presidencia.pt/?idc=22&idi=31744. Um Presidente, que dias antes havia demitido o seu assessor mais próximo que também era o mais envolvido na polémica. Destaco duas citações neste comunicado:

"(...)Durante o mês de Agosto, na minha casa no Algarve, quando dedicava boa parte do meu tempo à análise dos diplomas que tinha levado comigo para efeitos de promulgação, fui surpreendido com declarações de destacadas personalidades do partido do Governo exigindo ao Presidente da República que interrompesse as férias e viesse falar sobre a participação de membros da sua casa civil na elaboração do programa do PSD (o que, de acordo com a informação que me foi prestada, era mentira).(...)"

Pois, se eu pudesse fazer uma pergunta, perguntaria o porquê de "na minha casa no Algarve" e "interromper as férias". Porque há centenas de portugueses que interrompem as férias e fazem mais de 300km por causa do trabalho. É só um pouco prepotente o realce. Não me interessa onde é que o presidente está, porque onde quer que esteja a fazer o que quer que seja tem de pôr Portugal à frente de tudo. Se simplesmente não queria declarar nada na altura em que estava de férias, não porque estava de férias, mas porque não achava apropriado, então limitava-se a dizer que não tinha nada a declarar.

(...)Repito, para mim, pessoalmente, tudo não passava de tentativas de consolidar os dois objectivos já referidos: colar o Presidente ao PSD e desviar as atenções.(...)

Toda a gente sabe que desde o início da carreira política, ainda no tempo de Sá Carneiro, que Cavaco Silva é um militante que em tempos foi o dirigente máximo do PSD. É assim tão difícil presumir que no fundo Cavaco Silva apoia o PSD? Não. O que é grave é que o presidente na declaração refere umas três vezes a tentativa de colagem ao PSD, como se tratasse de colar o Presidente à Mafia. Mais grave ainda é que ao afirmar tantas vezes transparece exactamente o contrário. A negação do óbvio. Mais uma vez o Presidente tem de estar acima e apenas tinha que dizer que estava acima de qualquer posição político-partidária. Não interferir.
Acontece que a tal demissão de um membro da sua Casa Civil veio desmembrar todo o embroglio inicial. Porque recorde-se que as primeiras acusações graves na altura foram contra o primeiro-ministro, especulando-se que este, através de um assessor, escutou membros da Casa Civil. Acusação essa veiculada precisamente pelo membro da Casa Civil que foi despromovido. E isso fez pender a balança a favor do PS. Esta declaração foi um emendar a mão, mas que destruiu qualquer boa colaboração entre governo e presidência no futuro. E essa colaboração é muito mais essencial do que qualquer emenda.
Caso para dizer que foi pior a emenda que o soneto.

Quanto a Manuel Alegre. Eu louvo toda a intervenção que ele teve no pós 25 de Abril como membro de sucessivos governos e da assembleia constituinte. Mas o teatro que fez durante 5 anos, em que foi uma autêntico menino amuado com o seu partido foi ridículo. Bem como a sua presença nas listas eleitorais (por altura das legislativas) num momento em que não estava bem com o partido, facto consumado em algumas infracções da disciplina de voto do grupo parlamentar. Mas pronto, agora teve o doce que tanto chorou durante 5 anos e aceitou-o. Com a benesse de ter o Bloco de Esquerda a apoiá-lo agora. Bloco de Esquerda utilizado várias vezes por Alegre para alfinetar José Sócrates.

Fernando Nobre é um candidato independente e que tem feito uma campanha de ideias. Nota-se que tem um espírito de sacrifício e tem uma natureza prática nas suas propostas. Contra ele joga o facto de não ser um homem de multidões. Uma pessoa assim dificilmente ganha uma eleição. E obviamente em última instância ele não tem qualquer experiência política e é, por isso, imprevisível a sua eventual actuação como presidente numa altura em que é necessária muita estabilidade institucional. Porém a ausência de experiência política também lhe dá a isenção muito necessária ao cargo.

Francisco Lopes é a mesma cassete do PCP, que agrada a todos mas não enche a barriga a ninguém. As propostas do PCP são inóquas e de aplicação duvidosa. O partido está parado nos anos 70.

Defensor Moura é a grande incoerência. Critica a corrupção, contudo foi presidente de uma câmara que deixou viver (e continua a deixar) o maior embuste de construção civil em Viana do Castelo. É algo de duvidoso. A única proposta que se aproveita é a da regionalização, com a qual, instituída correctamente, concordaria.

José Manuel Coelho é um candidato que só vem ganhar tempo de antena para falar contra Alberto João Jardim.

E está tudo dito. Não sei se influenciei alguém, mas acima de tudo, se influenciei espero que seja no sentido de não se absterem. Votem.