Christmas-less forever

Eu até sou uma pessoa que gosta do Natal. Passá-lo em família com as pessoas mais próximas etc. Valorizo isso bastante.

Contudo, esta diarreia publicitária que é o Natal fora de minha casa é quase insuportável.

E já nem falo das compras que as pessoas fazem. Falo mesmo é da falsidade que o Natal é. Todos somos queridos e todos nos preocupamos uns com os outros durante estes dias. Partilhar não custa nada. Os anúncios da Coca Cola. Como é que uma companhia envolvida em tantas controvérsias, que vão desde problemas ambientais a problemas de trabalho, entre outros, nos pode vir dizer o que dizem no Natal? Isto faz algum sentido? Está tudo bem porque os anúncios são bonitos, suponho...

As marcas de telecomunicações afogam-nos com don't stop me now e all together now e somos todos lindos e perfeitos e iguais. Ninguém vê nada de errado nisto? Ninguém vê que mais e mais parecemos um bando de ovelhas que vamos para onde nos mandam? Compra um telemóvel, liga-te à internet, sê fixe como as pessoas dos anúncios. Compra um telemóvel com gigas de internet e a tua vida tornar-se-á assim. Linda e perfeita e rodeada de pessoas incríveis.

É nojento. A maneira como um estilo de vida é enfiado pela goela abaixo, principalmente dos jovens, e como todos eles, hoje em dia parecem iguais. O barulho é tanto que para qualquer pessoa menos informada (95% da população, e sim é uma estatística patrocinada por mim!) é fácil perder-se e seguir só porque sim.

Sejam iguais a todos os outros. Porque se todos forem iguais todos terão o tarifário com x gigas de internet e x minutos grátis por x euros por mês. Não percas!!!

Francamente, isto irrita-me e muito. É este o futuro? É para isto que a tecnologia serve. A era da informação à velocidade da luz serve para criar pessoas alienadas a um estilo de vida idealizado por anúncios de operadoras móveis e telenovelas? Enfim...

Feliz Natal, penso, mas tentem usar estas alturas em que estão mais com a família e mais isolados um pouco para pensar um bocado. Para pensar que, apesar da mensagem de unidade, muita gente se não tiver facebook é esquecido (é o meu caso, por exemplo) por causa disso. Já não dá jeito. Somos uma anomalia que não se associa àquela lista de contactos tão útil e sem a qual nos esquecemos que existem pessoas que não têm conta oficial no facebook. Esses excluídos. Os anti-sociais, porque all together now se tiveres facebook, se não tiveres nem me lembro de ti. És um anti-social. És um peso para a sociedade. Estás a estragar aquilo que há de bom na nossa vida e ainda te queixas que nós é que não te ligamos nenhuma, quando tu é que te recusas a ter facebook. Tu é que te recusas juntar a nós e ser como nós. Mas bem, Feliz Natal.

DANCE WITH ME BABY!


Notícia que deviar ser e não foi porque Portugal!

Hoje (25/12) não apareceu nas notícias, mas uns quantos maquinistas da CP decidiram faltar porque simplesmente lhes apeteceu.

Sem aviso nem nada. Simplesmente não apareceram e os passageiros que se desenrasquem. Eu sei que é difícil imaginar que há pessoas que dependem dos comboios e de outros meios de transporte para se moverem, mas é verdade!

Como é que é possível depois virem com a lata dizerem "Deixe o carro em casa, use os transportes públicos!"

Para adicionar à vergonha hoje a CP estava a fazer uma promoção com bilhetes de ida e volta a 2€.

Depois não querem que as pessoas se queixem quando fazem greve.

Só me merece uma reacção, à falta de #unclaugh...



Exageros e porque é que Portugal está mal

1ª parte - Exageros

Estava a ver perfis de facebook, com o meu perfil falso,  de pessoas que conheço mas que não quero que sejam minhas amigas, nem as quero perto de mim pois a falta de capacidade de pensar é demasiada e pode ser contagiosa.

Anyway, estava a ver um perfil de uma tipa que acabou agora o mestrado, bem, não vou revelar que mestrado é, porque não interessa, mas foi finalizado por via de estágio e não tese/projecto. Em termos de valor, penso que fazer um projecto ou tese será sempre mais desafiante e exigente. Mas há palermas que fazem projectos, isso no fundo não quer dizer nada.
De qualquer das formas, a onda de parabéns porque acabou o mestrado era quase um tsunami. Eu tenho uma notícia para as pessoas, e eu sei que é difícil de imaginar o que vou dizer a seguir, mas é a verdade.

Um mestrado (ou doutoramento ou até pós-douturamento) não significa nada. Principalmente na área das humanidades. E não digo que não significa nada em termos de CV. Digo que não significa nada em termos de intelectualidade.

Quando era mais novo, aliás, a minha primeira entrevista de emprego, tinha dezoito anos e quando cheguei lá estava lá uma tipa que tinha um mestrado e eu pensei "uau, um mestrado...". Para mim, era como se essa rapariga reluzisse, que mente obrigatoriamente brilhante que ali estava. Mas isso é uma concepção errada. Qualquer idiota apalermado pode tirar um mestrado ou doutoramento. Basta que se aplique o suficiente no necessário.

Portanto, mestres e doutores e familiares, desçam lá dos vossos cavalinhos, porque vós continuais a ser, na maior parte, ignorantes idiotas, com pouco para oferecer ao mundo. Eu, com o meu curso de nível III, encontro poucos que mereçam qualquer tipo de reconhecimento intelectual. E ide p'ro real caralho se achais que eu sou arrogante. Whatever!

2ª parte - Porque Portugal está mal.

Prova A

Esta mestre, é uma pessoa que, testemunhei eu e vou passar a acusações claras, numa conferência com alguém de muito interesse para a área dela (e que eu fui ver por interesse próprio pois não tem interesse nenhum para a minha área) passou a conferência no facebook.
Esta mestre agora que concluiu o mestrado diz que vai ter mais tempo para socializar... Muito bem, certamente estava a pesquisar material relevante para o seu mestrado... no facebook.
Esta mestre, aquando da entrevista para o estágio, foi-lhe perguntado o que achava de certa pessoa. Note-se que esta mestre concordava com quase tudo o que essa pessoa dizia, mas na entrevista e, certamente, lembrando-se de dissidentes no discurso deu esta brilhante resposta.
"Houve quem não gostasse muito!"
O que o entrevistador adorou porque ele próprio não gostava. Este entrevistador, obviamente outro idiota, não percebeu que tinha sido enganado por outra idiota.
E isto é, basicamente, o porquê de Portugal ser o país medíocre que é.

Em Portugal as pessoas não formam opiniões. Esperam pela missa de Domingo do Cardeal Marcelo Rebelo de Sousa que lhes vai dizer o que e como é que devem opinar durante a semana. Depois esperam pelo Cónego Miguel Sousa Tavares. Depois há alguns que vêem aqueles debates absolutamente patéticos que passam no absolutamente patético Canal Q e o, também, absolutamente patético Governo Sombra e que acham que estão a ter a luz do verdadeiro pensamento livre quando no fundo são mais uns palermas a serem amestrados, todos para pensarem o mesmo por palavras diferentes, mas igualmente incipientes, sem conteúdo e sem ideias novas. É sempre o mesmo.

E depois há ainda aqueles que não querem assumir o seu próprio pensamento e colam-se a opiniões alheias de pessoas "iguais". E há ainda aqueles que em lugar de posição poderiam mudar as coisas, mas, como vêm do mesmo tipo de criação, são outras ovelhas que pensam e agem como todas as outras pessoas.

Prova B

Onde eu trabalho, há cerca de um ano, veio trabalhar uma miúda que tinha acabado de completar o seu cursinho (mais uma que as pessoas apenas dão crédito porque "ó meu deus" tirou uma licenciatura). Para ela vir trabalhar outro trabalhador foi dispensado. Que se fique desde já a saber que o dispensado era melhor que a contratada, mas bem, pormenores.

Esta trabalhadora veio para o mesmo posto que eu. E, basicamente, dos sete a desempenhar a mesma função, em turno continuo e em funções que exigem que todos trabalhem bem para que se trabalhe de forma fluida, esta era das piores. Daquelas que mais vale nem ensinar certas coisas e sermos nós, os outros que conseguimos fazer as coisas direitas, a resolver as coisas e a prever os desastres.

Esta trabalhadora, num dia de muito trabalho, teve ajuda de dois colegas que estavam de folga mas que vieram para a ajudar, porque obviamente era inconcebível que ela conseguisse dar conta do recado. Acompanhada por duas pessoas que fizeram o sacrifício para estar com ela a ajudar, a certo ponto, ela, vira-se e diz, após receber uma chamada: "Bem, esperem só um bocadinho que vou ali beber uma cerveja". Sim senhora, belíssima profissional.

De qualquer das formas, e borrada atrás de borrada, meses mais tarde o que acontece? O natural, num país normal e numa empresa normal, seria que esta pessoa fosse substituída. Certo? ERRADO! Esta pessoa foi promovida para um cargo directivo.
E o que faz esta pessoa no seu posto directivo? Pergunta tudo. "O que farias na minha situação?" "Como achas que devo proceder?" "Achas que faça assim? Fica bem?"

Pergunta tudo. E basicamente a cadeia de decisões está igual, mas a capacidade de trabalho e decisão está no escalão mais baixo, que está sobre alçada de uma pessoa incompetente que nem o trabalho mais abaixo na cadeia sabia fazer direito.

Esta pessoa, que para além de incompetente é altamente ignorante, é alguém que não anda a fazer nada neste mundo. Por um acaso qualquer aconteceu-lhe uma série de coisas e agora está acima dos outros a tomar decisões estúpidas.

Esta situação é algo que eu quero que seja visto, tal como a primeira, como algo que nada tem a ver com factores externos. Não tem a ver com o governo. Não tem a ver com os corruptos políticos. Não tem a ver com a crise internacional. Não tem a ver com impostos. Não tem a ver com nada.
Tem apenas a ver com estupidez pura e dura. E depois queixam-se que as empresas faliram. Com gestões destas... As pessoas que têm poder hoje em dia não passam de pessoas que provavelmente na escola eram considerados os nabos. Os estúpidos. E agora têm poder, mas não deixam de ser estúpidos.

Há solução para isto? Não, nem por isso. No outro dia li que para um rio se livrar de uma contaminação de chumbo naturalmente poderia demorar mais de cem anos. Para a humanidade se livrar desta ignorância extrema e repugnante, tem obrigatoriamente, de demorar muito mais.

Há pessoas boas, e talvez por essas pessoas boas valha a pena dizer a verdade como a vemos. Talvez por essas pessoas ainda haja alguma esperança e certamente há muitas pessoas boas.
O problema é que enquanto os estúpidos são extremamente estúpidos, os inteligentes nem sempre são extremamente inteligentes, sendo que há vários níveis de intelectualidade e só alguns, poucos, lá chegam e assim sendo, há um desequilíbrio difícil de ultrapassar.

O verdadeiro dono disto tudo

A Sony foi vítima de um ataque informático que revelou milhares de documentos internos que causaram grande celeuma em todo o mundo.

Inclusivé, levaram à não exibição de um filme e, pelo que vi, não se perdeu nada. (Porquê? Porque sim!!!)

O ataque foi feito pelos Guardians Of Peace (GOP) e com algumas ameaças, bastante sérias, à mistura. Enfim, leiam as noticias que faz bem.

Para mim que a Sony tenha sido atacada é-me totalmente indiferente. Como grande companhia que é a nível mundial, a Sony devia saber melhor que ninguém que estes ataques existem, frequentemente. Aliás, a PlayStation Network é um caso claríssimo de como ataques do género acontecem regularmente, e a Sony, como detentora da PSN já se deveria preparar melhor, em todos os seus campos de negócio.

http://www.aljazeera.com/news/asia-pacific/2014/12/20141220132043560905.html

Barack Obama reagiu e após ter defendido a Sony e condenado a mesma por não exibir o filme que foi retirado, disse "We will respond. We will respond proportionately and we'll respond in a place and time and manner that we choose,"

Portanto, Obama, é o dono disto tudo. Primeiro porque a Sony é uma companhia privada. Senhor Obama, se amanhã atacarem informaticamente um merceeiro do Ohio roubando-lhe todas as poupanças, o senhor Obama vai intervir pessoalmente no caso? Porque é exactamente a mesma situação. Um indivíduo lida com as suas próprias consequências. No outro dia assaltaram-me o carro, fiz queixa, mas nada se resolveu e nada se recuperou. Acredito que as autoridades fizeram o possível, mas deveria eu escrever ao Cavaco para me ajudar nesta situação? Não. Seria um disparate e se o Cavaco viesse publicamente dizer que me ajudava, então seria injusto, porque todos os dias, carros são assaltados.

Segundo, Obama diz, por outras palavras, que uma companhia privada foi atacada pela Coreia do Norte e que nós (EUA) vamos responder da maneira que eu achar mais adequada e em maneira proporcional. E toda a gente diz "ok, é justo". É justo? Isto implica duas coisas.

A primeira, se lerem o artigo cujo link está acima, a acusação é fundada em muito poucos factos e muita especulação, mas está tudo bem porque são os Estados Unidos da América.

A segunda, é que, basicamente, os EUA vão responder a um crime contra a Sony com outro crime contra a Coreia do Norte, porque a retaliação não vai ser deixar de ir jogar Monopoly com o Kim Jong. A reacção será algo de criminoso, pelo menos tão criminoso como o ataque que a Sony sofreu.

Com isto, Obama está a agir como o dono disto tudo. O dono disto tudo não é Ricardo Salgado é Barack Obama (ou qualquer outra pessoa que tenha influência nas decisões da Casa Branca).

Finalmente, porque o filme não foi exibido, muita gente está a dizer que não podemos deixar que outros países ditem o que passa ou não na tv. Um deles, David Letterman, já censurou um comediante por absolutamente nada, portanto, que moral tem ele?

Aliás, que moral tem o público norte-americano para se queixar do que quer que seja neste aspecto? Porque não se preocuparam quando o jornalista Abdulelah Haider Shaye foi detido sem razão e preso, só porque reportou um ataque americano contra uma tribo no Yemen que matou 50 pessoas, incluindo 14 mulheres e 21 crianças?
Porque não se preocuparam, quando este jornalista ia ser libertado, que o seu presidente (Obama) tenha ligado ao presidente do Yemen e expressado preocupação sobre a libertação do jornalista, fazendo com que o mesmo continuasse detido? Ah, nesse caso já é ok impedir o público do Yemen de ver certas coisas?

Acho que dá para perceber o que quero dizer.

Da privatização da TAP

O processo de privatização da TAP dá muito que falar e que entender.

Por partes.

Primeiro a greve que os funcionários e sindicatos decidiram fazer.

A minha opinião sobre isto é a seguinte. É óbvio que quando se faz uma greve o que se quer é conseguir algum impacto. E não há datas que mais impacto tenham na vida da companhia do que os escolhidos para esta greve. Só que, ao mesmo tempo, é uma greve hipócrita. Porquê?
Porque a greve, supostamente, é para defender os interesses de Portugal e dos portugueses, para manter em mãos estatais uma companhia de bandeira bem sucedida. Contudo, esta greve prejudica essencialmente esses mesmos portugueses. Essencialmente aqueles que estão emigrados e que vêm a Portugal passar o Natal perto das suas famílias. No outro dia, um comentador (Octávio Teixeira) qualquer de meia tigela, mais um, disse que não há mal, porque quem quiser viajar pode fazê-lo no dia 26. Este comentador é de meia tigela porque só uma pessoa ignorante pode acreditar que as 130 000 (informação constante no site TAP, que agora já não está por causa da requisição civil reservas previstas para esses dias poderiam ser enfiados num dia só. Enfim. Mas vamos supor que só metade diriam respeito a emigrantes. Continuaria a ser praticamente impossível enfiar nesse dia à martelada 75 000 passageiros.
Resumindo, a greve é para defender os interesses dos portugueses, mas prejudica os portugueses.

Agora, aos motivos da greve.

Eu tenho a dizer que nada vejo de mal com a privatização. Acho que a TAP é neste momento uma companhia de bandeira e que representa Portugal e garante ligações a pontos fulcrais do mundo de língua portuguesa. Graças a esta contingência (países de língua portuguesa) a TAP tem condições para no futuro se tornar uma companhia de classe mundial.
O governo diz que não pode investir na TAP, Bruxelas diz que é uma matéria delicada mas não é impossível. A questão prende-se que num mundo que corre à velocidade da luz, é fazível, para a TAP, ter de respeitar os prazos definidos pelo lento Estado Português? É concebível ter de esperar meses para poder recrutar funcionários? Não, não é!
"Mas a TAP só dá prejuízo por causa do negócio no Brasil! De outra forma seria rentável e não teria de ser recapitalizada". Isso é por um lado verdade, mas uma empresa como a TAP precisa de investimento e não de viver de lucros, que, por muito bom que seja o desempenho, são variáveis. Basta haver uma crise qualquer e lá se vão os lucros.
Provas de que a TAP precisa de investimento estão naquele período em que muitos voos foram cancelados, alegadamente por causa dos aviões que tinham sido encomendados e chegaram atrasados. Toda a gente criticou e "ai meu deus, este é estado em que está a TAP, sempre atrasada etc etc". Mas agora não interessa, preferimos os voos cancelados e os atrasos sistemáticos.

Outro ponto é a questão das ligações a pontos estratégicos para Portugal.
Primeiro ponto, o caderno de encargos para a privatização (que ainda não saiu) deverá contemplar esse ponto. Se não contemplar, aí sim estamos perante uma parvoíce.

Segundo, mesmo que o caderno de encargos não o contemple, alguém acredita que a TAP em mãos privadas irá desistir de fazer essas ligações aos PALOP que são rentáveis? Podem não haver tantos voos, mas continuarão a existir na certa. Como continuarão a existir voos para qualquer lugar para onde haja procura. É a lei do mercado, que é mais fielmente seguida por privados do que por empresas estatais.

Finalmente, e isto é algo que ninguém fala, mas vamos ver a situação de outras companhias de bandeira com interesses semelhantes aos nossos.

- British Airways - Inglês é a língua mais falada do planeta (em termos de nativos a terceira mais falada). Existe portanto uma necessidade premente de satisfazer esses destinos, assim como, para a TAP, existe a necessidade de viajar para os PALOP. A British Airways é privada desde 1987. Hoje em dia é parte da Iternational Airlines Group que resultou da fusão da British Airways  com a Iberia (companhia de bandeira de Espanha)

- Air France - Francês é outra língua relevante em termos de falantes a nível mundial. Há muitos destinos em África que interessam por antigas ligações colonialistas e questões de língua (tal como Inglaterra e Portugal) e como tal deve servir esses destinos. Esta companhia foi sendo privatizada sendo que França deixou de ter o controlo maioritário da companhia quando foi fundida com a KLM em 2004. Actualmente o governo francês tem 15.9% da companhia resultante da fusão a Air France-KLM. KLM e Air France continuam a voar com as suas distintivas marcas e são também das maiores companhias aéreas da Europa, sendo que a Air France é a que tem a maior quota do mercado europeu.

- Lufthansa - Alemão não é uma língua tão relevante como inglês e francês (ou até mesmo português) mas é a língua do mais país mais forte da Europa, economicamente falando, e, portanto, é também relevante analisar. Esta companhia foi privatizada em 1994 e hoje em dia o Estado Alemão nem uma acção da companhia tem.

Estas três companhias aéreas estão as três no top 10 das maiores da Europa e são, sem dúvida, empresas prestigiadas em todo o mundo. Todas privadas. Não pode a TAP, privatizada, aspirar a ser uma das maiores também? Pode, mas como estatal dificilmente lá chegará.

Acerca de ontem

Acerca do tema de ontem, fica aqui um link para nos ajudar a reflectir um pouco.

Se invadissem as nossas casas e as nossas cidades, o que faríamos nós?

http://www.aljazeera.com/indepth/inpictures/2014/09/pictures-erasing-palestine-201492614175356567.html

Não seria altura de a comunidade internacional reconhecer e pressionar uma solução?

Areia na cabeça

Preparados para uma viagem ao deserto intelectual?

https://www.youtube.com/watch?v=PUcX3oCa7mY

Há uns dias, quando falei de Bill Hicks, não mencionei, mas tanto este programa que o Bill Maher apresenta, como o programa the Daily Show apresentado por Jon Stewart, foram formatos imaginados com Bill Hicks como apresentador. Enfim, muitas voltas deve ele dar no túmulo.

Vamos por pontos.

- Maher vê e compreende o argumento dos palestinianos, mas não vê que tenham mais moral que Israel. Depois é apoiado pelos convidados (aparentemente, todos concordam o que torna o show muito mais interessante!!!) enquanto diz "tenho muita pena das crianças palestinianas, mas de quem é a culpa se os pais dessas crianças é que estão a disparar rockets contra Israel?

Israel há muito que fez e continua a fazer aquilo que a comunidade internacional classifica como ilegal à luz da lei internacional com a expansão e construção de illegal settlements em território palestiniano.
É fácil dizer que a culpa é de quem dispara os rockets, porque isso dá a impressão que está tudo bem até que o palestiniano lança o rocket. Mas a verdade é que há razões e motivações para esses ataques, que no fundo é como fazer uma festinha na cabeça de um crocodilo. É insignificante, embora seja um comportamento de guerra. Mas as guerras têm um motivo.
Imaginemos que Espanha mandava espanhóis construir uma cidade nova em território português, e depois povoava essa cidade com espanhóis e proclamava aquele terreno como seu. Era suposto os nossos pais ficarem quietos?
Agora transportemos a situação para o Médio-Oriente onde de um lado temos uma população sobre embargo que basicamente apenas lhes chega o suficiente para sobreviver e do outro, uma nação apoiada pelo país mais forte do mundo (EUA) e com armamento nuclear.

http://www.nytimes.com/2013/02/01/world/middleeast/un-panel-says-israeli-settlement-policy-violates-law.html

Neste artigo do NY Times fala-se sobre conclusões das Nações Unidas acerca destes settlements.
De destacar:

Israel has pursued a creeping annexation of the Palestinian territories through the creation of Jewish settlements and committed multiple violations of international law, possibly including war crimes, a United Nations panel said Thursday, calling for an immediate halt to all settlement activity and the withdrawal of all settlers.Asked if Israel’s actions constituted war crimes, Ms. Chanet replied that its offenses fell under Article 8 of the International Criminal Court statute. “Article 8 of the I.C.C. statute is the chapter of war crimes,” she said at a news conference. “That is the answer.”

E estes settlements continuam- http://www.theguardian.com/world/2014/jun/12/dfismay-israeli-illegal-settlements

Portanto, que fique claro que o que está aqui em causa não é um palestiniano que se lembrou e matou um israelita com um rocket. Foi um palestiniano, que vive em condições deploráveis, abaixo do limiar da pobreza, que viu a sua terra ser invadida e que, provavelmente, quis fazer algo para tentar mudar.
Maher pergunta se a Palestina não esperava retaliação, mas isto é apenas uma manobra de inversão. O agressor é Israel.

- Depois, Jane Harman (quem?) diz que não sei das quantas disse "Israel uses missiles to protect its citizens, and Hamas uses its citizens to protecto its missiles"

Isto é tão estúpido que nem merece resposta. Mas bem, esta idiota diz isso porque quem absorve mais mortes é a Palestina, muito naturalmente, mas então que dizer quando Israel tentou invadir a Península de Sinai e envolveu-se em guerra com o Egipto sofrendo uma pesada derrota? A diferença é que aqui agrediu um país com força, o que não acontece com a Palestina que nem um sistema económico tem, quanto mais um exército organizado e financiado. Sugestão para a Jane, livre o mundo da sua existência.

Ah e antes há este tipo a dizer que o que os palestinianos querem é eliminar todos os israelitas. É engraçado que sempre que há tréguas Israel é o primeiro a quebrá-las, mas pronto, pormenores. Falam ainda do Hamas e que eles matariam o máximo de israelitas, quando o Hamas não é um grupo armado e é um grupo político dos mais moderados e que mais concessões está disposto a fazer para que a paz seja alcançada, mas mais uma vez, pormenores.

-Israel tem a oportunidade de matar muitos mais palestinianos e não matam. Seguido de, "quando os EUA invadiram o Iraque em 1990/91 mataram muitos mais iraquianos do que os iraquianos mataram americanos, significa que estávamos errados e deveríamos ter retirado em vez de expulsar os iraquianos do Kuwait?"

Mais uma vez, há aqui tanta coisa errada.
Israel na última grande tirada de violência matou mais de 2000 palestinianos, quebrando o cessar-fogo que estava a decorrer há uns meses largos sem qualquer problema. Razão? Três israelitas foram mortos e Israel sem provas acusaram o Hamas de o ter feito. Mais tarde seria dito que não havia provas e que as suspeitas recaiam sobre um grupo palestiniano dissidente do Hamas. Mas Israel não quis saber e matou 2000 pessoas, porque sim. Ainda bem que eles poderiam matar mais e não matam!
Depois a parte do Iraque e do Kuwait é hilariante e não vou entrar por aí, apenas quero dizer que esse senhor está muito equivocado e confuso. Este senhor nem sequer percebe a política externa do seu próprio país.

- Depois passamos à masturbação de Israel e a questão é a seguinte. Porque é que Israel ganha todas as guerras? Eu acho que tem a ver com o facto de eles acreditarem na ciência. E os judeus têm mais prémios Nobel do que os Árabes.

Sei lá, os EUA vendem armas a Israel...
http://blog.amnestyusa.org/uncategorized/the-united-states-is-not-just-a-bystander-in-israel-gaza-violence/

A venda de armas dos EUA a Israel é um grande desequilibrador na questão.
Os prémios Nobel ainda têm credibilidade? Pensava que já não havia dúvidas quanto à credibilidade quando deram o prémio da paz ao Obama.

- Depois há acusações infundadas de túneis para lançar rockets contra Israel?! Devem andar a disparar aos esgotos ou qualquer coisa do género.
- Israel não vai desaparecer e os palestinianos têm que seguir em frente-

Sobre este segundo ponto tenho a dizer que os palestinianos estavam dispostos a chegar a um acordo para a paz em que se previa aquilo que se chama The Two State Solution. http://peacenow.org.il/eng/OsloSummary
Esta solução foi rejeitada por Israel e pelos EUA à última das horas em Oslo. Os palestinianos, bem ou mal, têm direito a ter o seu território. Até que Israel, ou melhor, até que os EUA mandem Israel aceitar certos termos, os palestinianos vão continuar a viver sem governo, sem economia, sem educação, sem segurança... sem nada!
Os EUA precisam de Israel para manter o controlo daquela área. Quando se falar muito do Irão e da possibilidade de haver armas nucleares no Irão, poderiam também falar que o Irão aceitou um acordo, proposto na Finlândia, em que se previa uma zona livre de armas nucleares naquela região, que englobaria Irão, mas também ...*tan tan tan* Israel. E assim os EUA nem sequer deram opinião e limitaram-se a cancelar o acordo dizendo que era uma boa ideia, mas agora não.

Portanto, há muito mais nesta história do que este saco de lixo Bill Maher quer fazer parecer. E é natural que os americanos sejam os lavados cerebrais que não vêem nada. É pena é que o resto do mundo não faça nada.

A veneração das crianças e das mamãs

A seguinte notícia relata como uma mulher se sentiu "humilhada" porque num hotel lhe pediram para pôr um pano por cima do seu bebé enquanto estava a amamentar o dito cujo.

http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=4275230

Não volta mais ao hotel e depois, sei lá porquê, diz que já teve mais duas cabaças e que não as pôde amamentar e que agora estava a conseguir amamentar a terceira e tinha de lhe acontecer isto.

Isto irrita-me muito. Porque eu sempre detestei e sempre me senti imensamente constrangido com a situação de entrar em algum sítio e de repente estar ali uma mulher com a mama de fora a dar o leite ao filho.
Há imensas atitudes que são proibidas em espaços públicos e maior parte delas nem sequer está escrita, é apenas senso comum, e alguém que tem de dar de mamar devia ter senso comum para saber que outras pessoas também podem ficar incomodadas.

O empregado, certamente e expectavelmente, deve ter sido bem educado com a senhora. Pelo que não há necessidade de misturar alhos com bugalhos e transformar isto num "titgate" sem sentido. De repente o hotel passa por ser anti-amamentação, o que é absolutamente ridículo. E que é que tem a ver o facto de ter tido duas crianças antes e não as ter conseguido amamentar? É suposto agora nos hotéis saber os traumas anteriores das pessoas para podermos passar qualquer tipo de mensagem?
Até parece que o empregado chegou lá e disse

"Põe as mamas para dentro da blusa ó porca!"

"No final estava mais calma mas não deixei de me sentir humilhada. Fui muito discreta. Hoje em dia ninguém deve fazer alguém a sentir-se desta maneira, principalmente quando uma mãe se sente pressionada a amamentar". 

Pois, mas eu já posso ser confrangido com a amamentação dos outros quando eu não quero ver. As sensibilidades só funcionam para um lado.

Mas isto é comum. Tudo o que tem a ver com crianças tem desculpa. Este ano fui acampar. Estava a mudar de roupa e, portanto, estava semi-nu, quando duas crianças decidem que é uma boa ideia começar aos murros à tenda. De dentro da tenda pedi para pararem, por favor. Depois disse para estarem quietos. E por fim saí, olhei para um deles e perguntei-lhe se estava a achar piada e se está a gozar comigo. A criança olha desafiadora e dá mais dois estrondos na janela da tenda. Saio, enfurecido, devo dizer, e digo à mãe das crianças para tomar conta das crianças porque andam a bater na minha tenda, não sei porquê, ao que a mãe responde:

"Não sabe porquê? São crianças." (com aquele ar enternecido que me mete nojo)

Ao que respondi que se são crianças devem ter mãe para cuidar deles. Essa mesma mãe procedeu de forma correcta e disse para as crianças não tocarem na nossa tenda porque tinha veneno (good parenting). 

Mas voltemos atrás, não sabe porquê, são crianças?!! Que raio de pensamento é esse?! 

Olhe, o seu filho matou a minha mulher! Não sei porquê?!

"Não sabe porquê? São crianças."

É desculpa para tudo. E temos todos que ser tolerantes e adorar as crianças que são as papoilas que embelezam o nosso planeta e o nosso espaço nunca é respeitado (aliás, raramente há pais que sabem educar as crianças). Está-se no comboio lá vem a criança e nós temos de apaparicar a criança como se quiséssemos saber, sei lá porquê.

"Não sabe porquê? São crianças."

Enfim. As crianças valem mais que tudo. Mas parafraseando Bill Hicks " No smoking on British Air. Now let me get this straight, no smoking, right, but they allow children. Little fairness, huh? "Well smoking bothers me." Well guess what?"

Mas as pessoas confundem o direito que eu penso ter ao meu espaço com "Uh odeias crianças, devias morrer". Eu não odeio crianças, simplesmente não me sinto à vontade perto delas. Não tenho direito a isso e a não ter que lidar com esse desconforto sem ser um anti-cristo?
 

No More McDonalds

A morte de Tugce Albayrak está a causar a consternação na Alemanha e onde quer que alguém tome conhecimento da história.

Não é muito comum comentar este tipo de episódios tão em cima da hora. As emoções estão em alta e por vezes é fácil deixar que a nossa opinião seja muito influenciada por essas emoções que muitas vezes nos toldam a razão.

Posto isto, é claro que é uma morte muito trágica. Albayrak tentou e conseguiu ajudar duas jovens e na sequência disso o mundo e todas as suas engrenagens deram-lhe a morte como consequência. É um trágico acontecimento do destino.
Contudo, a morte é também um pouco acidental. Creio que, apesar da atitude extremamente condenável, o agressor não teria em mente assassinar Albayrak, não com uma chapada ou soco ou empurrão. A atitude é, no entanto, de uma crueldade e insensibilidade incomensurável e digna da maior das punições.

O que me está a chocar mais no meio disto tudo é a forma relativamente intocada com que o McDonalds está a sair desta situação.

http://www.dw.de/germany-mourns-death-of-courageous-tugce/a-18101069

De acordo com as notícias, o incidente começou quando se ouviram gritos oriundos de uma casa de banho onde duas jovens estavam a ser assediadas. Os empregados do McDonalds não interviram e Tugce Albayrak interviu pondo cobro à situação.

Na sequência dos eventos trágicos que se seguiram, o McDonalds, criticado pela não intervenção dos funcionários na situação, veio a público DEFENDER a não intervenção dos seus funcionários.

Isto para mim, que trabalho em hotelaria, é absurdo e impensável. O McDonalds defende que se alguém está a ser violado na casa de banho de um dos seus restaurantes, os empregados deverão deixar a situação correr normalmente sem intervir nem incomodar, descendo a um nível cavernoso de preservação da dignidade humana.

O McDonalds, após semelhante tragédia, não vê nada de mal com o facto dos seus funcionários serem uns robots automatizados que não têm qualquer preocupação com o bem estar de quem sofre ou deixa de sofrer. Desde que o dinheiro entre na caixa e os hamburgers continuem merdosos, não há problema.

Assim sendo, a minha atitude perante esta situação é nunca mais pôr os pés num restaurante do McDonalds e farei questão de o mencionar sempre que alguém lá vá, já que o meu blog não tem expressão suficiente para conseguir que se crie um boicote universal a esta cadeia.

McDonalds, nunca mais!

O Cante e o (en)Fado

Estas duas formas de expressão foram reconhecidas como Património Imaterial da Humanidade. Nada contra.

O que eu tenho contra, e muito, é de repente a importância nacional que estas expressões adquirem. Subitamente, são motivo de orgulho para os portugueses. Não só aqueles que são do Alentejo, ou de Lisboa/Coimbra, mas sim de todo o país. De todos os habitantes de Portugal. E contra isso tenho tudo.

Em muitos, aliás, na maior parte de Portugal, o fado (já nem vou falar do cante), não é ouvido com regularidade e muito menos reproduzido com qualquer tipo de frequência. Aqui e ali há um programa de rádio, numa hora muito concreta, que transmite fado, mas não mais do que isso. Sou então, agora, obrigado a confrontar-me com algo que não faz, nem nunca fez, parte da minha educação cultural, só porque é Património Imaterial da Humanidade? Ou será porque o Carlos do Carmo ganhou um Grammy Latino?

Poderiam dizer-me que é apenas uma questão de levar o fado a todas as pessoas que o querem ouvir. Só que não é apenas isso. Se fosse isso para mim era igual, porque basta-me não ir. Agora ver festivais de fado em locais onde raramente se ouvia falar de fado, pretensas casas de fado a abrir aqui e ali onde não faz sentido nenhum que as mesmas existam, já para não falar da falsidade das mesmas. Afinal, estas expressões têm na genuinidade um bem fundamental (a meu ver) para a sua existência e valorização. Há necessidade de disseminá-las e plantar na cabeça da população que fado é Portugal? Há necessidade de generalizar uma expressão cultural a todo o país? Especialmente quando há outras formas de expressão igualmente válidas.

Não seria melhor conservar o fado, onde ele é intrínseco?

Mas não, vamos obrigar toda a gente a ouvir falar do fado aqui e do fado ali e que o fado é Portugal e vamos generalizar ainda mais a população. Somos todos portugueses e gostamos todos de fado e temos todos o fado em nós. E quando estamos a tomar o pequeno almoço optamos antes pelo cante alentejano com torradas.

E tudo é desculpa. Tudo serve a para insuflar as percepções.

"Oh o Carlos do Carmo ganhou um Grammy, Laticno, mas é sempre um Grammy."
Pois, mas a verdade é que nunca ninguém ligou patavina aos Grammys Latinos. Alguém sabe quem foram os vencedores anteriores do prémio? Não, e muito normalmente, porque ninguém-quer-saber! Mas, afinal é importante. Convenientemente importante.

Em reflexão, e notem que critico essencialmente as questões que têm a ver com o fado, o que eu penso é que tudo isto é um produto da centralização de poder e opinião na capital. Tudo o que vem de Lisboa, é ouro.

Um pouco off-topic, mas que serve de perfeito exemplo, onde vivo já tive cheias que me obrigaram a andar em gôndolas improvisadas para tentar ajudar a evacuar uma garagem, mas nunca foi notícia, mas quando é em Lisboa, são quinze, vinte, vinte e cinco minutos de notícias a mostrar todas as avenidas, descritas de forma quase familiar, como se fosse suposto todos os portugueses conhecerem aquelas avenidas em que nunca passamos e que possivelmente nunca vimos. É quase revoltante. No mesmo dia, houve cheias em muitos sítios, mas Lisboa (ou lesboa, como muitos jornalistas pronunciam), porque todos os lisboetas disseram que nunca viram nada assim, não saiu das notícias. E o fado é igual. Vem de Lisboa (essencialmente) então é de todo o país.

Está errado e é mais um exemplo da mediocridade intelectual da nossa sociedade.

Bill Hicks



Hoje quero falar de Bill Hicks. Já havia postado aqui duas citações dele anteriormente, mas hoje gostaria de falar mais em profunidade sobre esta pessoa.

Bill Hicks, resumidamente, era um comediante norte americano de stand up. Fez parte dos Outlaw Comics em Houston nos anos 80 e destacou-se por si só após isso, sendo considerado uma das maiores promessas da comédia americana, tendo algum sucesso nos EUA. Em Inglaterra teve muito sucesso, contudo, após o grande sucesso que experienciou nunca teve oportunidade de voltar pois viria a morrer em 1994 aos 32 anos.

Os temas de Bill Hicks, inicialmente eram os coloquiais temas de stand up. Situações diárias com a família, com os amigos, com os seus animais. O típico stand up comum de se ver em qualquer lado.
Contudo, Bill Hicks, sendo uma pessoa extremamente inteligente, não demorou a tornar a sua comédia mais "séria". Temas como a guerra do Vietname, a Guerra do Golfo, consumismo, controlo político da informação, mediocridade artística, marketing, drogas, fanatismo patriótico e religioso, entre outros, tornar-se-iam os temas fulcrais das suas actuações.

O que é que para mim separa Hicks de todos os outros. Hicks conseguia fazer com que temas sérios fossem tratados de forma intelectualmente acutilante, sem perder a graça, mas sem entrar em devaneios irrealistas. Com isto não quero dizer que tudo o que Hicks dizia era 100% verdade, mas eram dramatizações perfeitamente possíveis.

É incrível como a comédia de Hicks é intemporal. Tomemos os seus comentários sobre a Guerra do Golfo e, não soubéssemos nós a data, poderíamos pensar que ele estaria a falar da Guerra no Iraque em 2003.

"Remember how it started, they kept talking about ‘the Elite Republican Guard’ in these hushed tones like these guys were the bogeymen or something. Yeah, we’re doing well now, but we have yet to face-THE ELITE REPUBLICAN GUARD. Like these guys were twelve feet tall, desert warriors. KRRASH. NEVER LOST A BATTLE! KRRASH. WE SHIT BULLETS! Yeah, well, after two months of continuous carpet bombings and not one reaction at all from them, they became simply, ‘the Republican Guard.’ Not nearly as elite as we may have led you to believe."

Substituam Reagan, Bush e Clinton, por W. Bush e Obama, e tudo funcionaria na mesma.


Na área não política, possivelmente estaremos a falar de coisas mais subjectivas, mas as diatribes de Hicks contra a mediocridade na música e a contaminação do mundo artístico pela publicidade, acertam em cheio. Substituir New Kids On The Block, Michael Bolton e Marky Mark por Bieber, Beyoncé etc e continua tudo a ser actual. A mediocridade, o marketing e as estrelas construidas, com as mesmas ideias e imagens semelhates.
"Ball-less, soul-less, spiritless corporate little bitches! Suckers of Satan's cock, each and every one of them"

Hicks nunca abdicou da sua coerência em favor de nada. Apesar de ter olhado sempre para Jay Leno como um exemplo, não hesitou em ridicularizar Leno após o mesmo ter feito um anúncio de Doritos.
 "Do a commercial and you are off of the artistic roll call, every word you say is suspect, you’re a corporate whore and uh, end of story"

Bill Hicks em linha com a visão que tinha da arte, tinha a mesma opinião sobre o marketing para as massas.
"By the way, if anyone here is in marketing or advertising...kill yourself. Thank you. Just planting seeds, planting seeds is all I'm doing. No joke here, really. Seriously, kill yourself, you have no rationalisation for what you do, you are Satan's little helpers. Kill yourself, kill yourself, kill yourself now. Now, back to the show. Seriously, I know the marketing people: 'There's gonna be a joke comin' up.' There's no fuckin' joke. Suck a tail pipe, hang yourself...borrow a pistol from an NRA buddy, do something...rid the world of your evil fuckin' presence."

A comédia  e a filosofia de Hicks residem apenas na vontade própria de cada um, com a certeza de ver o mundo com mais clareza do que os outros. Bill Hicks conseguia dar um passo atrás e observar o mundo à distância, com lucidez, não se deixando enganar pela propaganda, não deixando de questionar tudo o que não fazia sentido com sua forma de viver, não se deixando levar por aquilo que a maioria diz que é certo.
"But you know, I saw this movie last year called Basic … Instinct. Okay. Now, Bill's quick capsule review: Piece of shit. Okay, now … yeah, yeah. End of story, by the way. Don't get caught up in that fevered hype phoney fucking debate about that piece of shit movie. "Is it too sexist? And what about the movies, are they becoming too …" You're just confused, you've forgotten how to judge correctly. Take a deep breath … look at it again. "Oh, it's a piece of shit!" Exactly, that's all it is. Satan squatted, let out a loaf, they put a fucking title on it, put it on a marquee – Satan's shit, piece of shit, walk away. "But is it too … and what about the lesbian content, they …" You're getting really baffled here. Piece of shit! Now walk away. That's all it is, it's nothing more! Free yourself, folks. If you see it: "Piece of shit!" Say it and walk away. You're right! You're right, not those fuckers who want to tell you how to think! You're fucking right!"

Para mim, a honestidade intelectual é o que mais me fascina neste comediante. Não concordo com tudo. Algumas opiniões acerca de drogas, tabagismo entre outros assuntos não são de todos coisas que defenderia, mas podemos sempre contar com ressalvas e, mesmo sem elas, o material continua a ser engraçado desde que entendamos que no fundo está uma mensagem de liberdade.

Nos seus anos finais, sofrendo de cancro do pâncreas, continuou a dar espectáculos, com segurança suficiente para em cada um deles afirmar que cada um seria o seu último espectáculo, sem que o público soubesse que ele estava doente. Apenas a família sabia da doença e sabia que a mesma era terminal.
Apesar de saber que a morte se aproximava rapidamente, continuou a trabalhar atá não poder mais. O último espectáculo que deu foi em Janeiro de 94, quando já se encontrava visivelmente debilitado. Passados dias perdeu a fala e viria a morrer em Fevereiro.

A morte não o propulsionou para a fama. As pessoas que gostam e que descobrem hoje, descobrem porque tropeçam neste comediante quando ouvem alguém falar. No meu caso só tomei conhecimento através do "John Cleese's Heroes of Comedy"

Muitas citações poderia deixar aqui, mas vou deixar aquela que eventualmente se tornou a mais famosa e uma das que mais vale a pena ouvir e pensar e as últimas palavras que ele desejou que fossem lidas no seu funeral

The World is like a ride in an amusement park, and when you choose to go on it you think it's real, because that's how powerful our minds are. And the ride goes up and down and round and round, and it has thrills and chills and is very brightly colored, and it's very loud. And it's fun, for a while.

Some people have been on the ride for a long time, and they've begun to question, 'Is this real, or is this just a ride?', and other people have remembered, and they've come back to us and they say 'Hey, don't worry. Don't be afraid, ever, because this is just a ride.' and we KILL THOSE PEOPLE.

"Shut him up! We have alot invested in this ride! SHUT HIM UP! Look at my furrows of worry. Look at my big bank account, and my family. This just has to be real."

It's just a ride.

But we always kill those good guys who try and tell us that. You ever noticed that? And let the demons run amok. But it doesn't matter, because ... It's just a ride.

And we can change it anytime we want. It's only a choice. No effort, no work, no job, no savings of money. A choice, right now, between fear and love. The eyes of fear wants you to put bigger locks on your door, buy guns, close yourself off. The eyes of love, instead see all of us as one.

Here's what we can do to change the world right now, to a better ride:

Take all that money we spent on weapons and defense each year and instead spend it feeding, clothing, and educating the poor of the world, which it would many times over, not one human being excluded, and we can explore space, together, both inner and outer, forever ... in peace.

Bill Hicks (1961 - 1994)
(últimas palavras)
"I left in love, in laughter, and in truth, and wherever truth, love and laughter abide, I am there in spirit."

Coisas

A Suécia reconheceu ontem o Estado Palestiniano. Israel, apressou-se a dizer que conseguir a paz no médio-oriente não é tão fácil como montar um móvel do IKEA.

È pena mais nenhum país da UE se chegar à frente e reconhecer aquilo que é óbvio. A Palestina é um estado que não tem armas para se defender e está fraccionada pelas acções hostis  de Israel.
Como se pode perceber pela resposta de Israel à notícia, Israel está inchado de arrogância para com a comunidade internacional que não alinha pelo discurso pró Israel. É curioso como 135 países já reconheceram oficialmente o Estado Palestiniano e no mundo só há 196 países.
Reconhecer o Estado Palestiniano não é a solução para o problema, ma sé umk passo para pressionar o maior alidade de Israel, EUA, a mudarem de ideias e deixarem de apoiar as acções bárbaras e contínua violação dos direitos dos palestinianos.
--
O CEO da Apple assumiu a sua homossexualidade. Tudo bem. O que não está bem é a frase "Tenho orgulho de ser gay".

E não está bem porquê. Não quero aqui dizer que ele não deva estar feliz ou não deva ser respeitado pela sua escolha. Para mim, gay, hetero, trans, bi, é tudo água do mesmo balde. Não sou homofóbico e que fique bem claro isto, para não ter de ouvir choro.
O meu problema com esta frase é que se eu saísse à rua e dissesse "Tenho orgulho em ser heterossexual" como é que isso seria interpretado? Seria interpretado como um comentário homofóbico que nada mais visaria do que elevar a virtude de ser heterossexual. E para mim o comentário do CEO da Apple, entra na categoria do querer mais do que aquilo que se deve.
É gay? Óptimo, podemos continuar com as nossas vidas? Porque a mim não me interessa se ele tem orgulho ou não. E acho que é daqueles "double standards" que existe. As minorias (e muitas feministas que não são uma minoria), em vez de lutarem pela igualdade, lutam pela superiorização. E isso é perfeita estupidez. Eu sou gay, sou melhor. Sou mulher, sou melhor. Sou preto, sou melhor. Não não sou. Eu sou branco, sou homem e sou hetero. Também posso dizer que sou melhor? Não. Eu sou um ser que anda nesta terra e mais nada. E é assim que todos nos devíamos ver. Apenas alguém que tem o privilégio de estar vivo e poder viver uma vida única respeitando sempre os outros.
 --
 Marco Chagas, antigo ciclista português, deu uma entrevista em que falou de Lance Armstrong como sendo um bode expiatório de todo o escândalo de doping, que culminou com a sua irradiação do desporto e perda de todos os títulos.

Pois bem. Há muita coisa que Marco Chagas diz nesta entrevista acerca deste tema que não fazem sentido. Primeiro diz que o escândalo Festina foi em 93 quando foi em 98. Estranho de um comentador tão requisitado enganar-se num pormenor tão histórico como esse escândalo de doping, que curiosamente, é exactamente antes da subida ao destaque de Armstrong.
Depois diz que no tempo dele já havia EPO e que ele não sabia, mas que estranhava como outros corredores eram tão mais rápidos que ele. Atribui isso à abertura do ciclismo ao leste (WTF!x2000), quando maior parte dos estudos para utilização de EPO vem de Itália, nomeadamente, dos estudos efectuados por Conconi e consequentemente pela profissionalização da utilização desta (e de outras) substâncias e técnicas por Michele Ferrari. Estranho, mais uma vez, um comentador tão requisitado como Marco Chagas não saber isto.
Afirma que como não havia teste para a EPO os ciclistas pediram que a UCI estabelecesse um limite de densidade sanguínea. Primeiro, os ciclistas não pediram coisa nenhuma Bjarne Riis venceu o Tour com um hematócrito de 64. Segundo, não se trata de densidade sanguínea mas sim de nível de glóbulos vermelhos no sangue (que, consequentemente, tem impacto na espessura do sangue). Este nível, referido como hematócrito, tem uma importância grande, porque é o nivel físico que determina a nossa capacidade de esforço. Uma pessoa com um hematócrito baixo, tem um rendimento menor, devido à incapacidade do seu sangue de transportar oxigénio. EPO aumenta a produção de glóbulos vermelhos, tornando o hematócrito mais alto e fazendo do mais amador e inútil corredor um vencedor das montanhas.
O pior é que o excesso de glóbulos vermelhos aumenta a espessura do sangue potencialmente provocando coágulos que podem causar sério danos, incluido mortes.
Este nível (que era hematócrito 50) foi estabelecido porque não havia teste para a EPO, mas apenas para prevenir perigo, porque em condições naturais, um bom ciclista teria à volta de 48 de hematócrito no início e cerca de 38 no final do Tour, pois o corpo não consegue regenerar-se em períodos tão pequenos de tempo entre grandes esforços. Assim sendo, é estranho que os níveis dos ciclistas fossem sempre 46, 48, 49, 47, 48, durante toda a volta. Mas a UCI nada fez. Mas enfim, mais uma vez, o mair comentador de ciclismo em Portugal está mal informado.
Depois saiu-se com a velha frase "todos estavam a fazer doping". Bem, não, não estavam (ver Christophe Bassons). E desde quando é que isto é desculpa? Matou a mãe mas é ok porque todos matam? Que demência é esta?
Entrou em campos falaciosos de dizer que Lance Armstrong era um grande atleta e depois do cancro, por causa da sua luta, passou a ser ainda melhor e por isso é que ganhou o Tour sete vezes. Vamos olhar para os triunfos de Armstrong antes de ganhar o Tour em '99.
Uma das primeiras vitórias de Armstrong foi o Thrift Drug Triple Crown. Era tão bom atleta que subornou a equipa adversária para o deixar ganhar. WOW, que atleta!
Foi campeão do mundo. Ok. Primeiro, todos os indícios indicam que essa vitória já terá EPO misturada, mas não há provas, por isso enfim. Segundo. O Rui Costa também foi campeão do mundo. Ganhar esse título não atesta em nada da qualidade de um ciclista para poder ganhar um Tour. Porque o Campeonato do Mundo decide-se numa só etapa e o Tour em três semanas de continuo esforço. Provas diferentes. Basta ver que de 93, ano em que Armstrong foi Campeão do Mundo, nenhum dos vencedores venceu uma das grandes voltas.
E depois ganhou clássicas (provas de curta duração) aqui e ali. No Tour participou quatro vezes e só chegou ao fim numa das edições em 36º.
Isto é um registo de um bom atleta. Um atleta que se consegue aguentar e num dia consegue superar-se, mas não a imagem de alguém que, do dia para a noite, vence Tours, não só vencendo mas varrendo a concorrência.
Mas Marco Chagas acha que Armstrong ganhou porque era melhor atleta num mundo em que todos faziam o mesmo. E eu digo. Armstrong ganhou porque dopou-se melhor que os outros. Dopou-se de uma forma organizada, profissional e dedicada com um médico que trabalhava para poucos ciclistas. E tratava também de se certificar que os seus colegas de equipa também estavam à altura, com os devidos tratamentos e passos tomados no sentido de usarem o doping da melhor forma.

Marco Chagas não é digno sequer de comentar o ciclismo. Porque por causa de pessoas como ele, é que muitos outros andam com os olhos tapados em vez de verem a verdade de um assunto, neste caso, tão vergonhoso como este que envolveu Lance Armstrong.

Well...

'Young man on acid, thought he could fly, jumped out of a building. What a tragedy.' What a dick! Fuck him, he’s an idiot. If he thought he could fly, why didn’t he take off on the ground first? Check it out. You don’t see ducks lined up to catch elevators to fly south—they fly from the ground, ya moron, quit ruining it for everybody. He’s a moron, he’s dead—good, we lost a moron, fuckin’ celebrate. Wow, I just felt the world get lighter. We lost a moron! I don’t mean to sound cold, or cruel, or vicious, but I am, so that’s the way it comes out. Professional help is being sought. 

“Let’s see: two kids, big fans of Judas Priest commit suicide—wow—two less gas station attendants in the world. We didn’t lose a cancer cure here, folks. We saved those kids a long, troublesome job search.”

Bill Hicks


Ódios de estimação

Pessoa que faz casamentos com grande pompa e circunstância e que, basicamente, encharcam-se de alegria (e outras coisas) num dia, desenhado para ser o dia mais bonito da vida deles e em que todo o extase reprimido, de uma vida inútil e inconsequente, sai à rua.
Depois vão de lua-de-mel ao passo que o extase começa a diminuir até que a lua-de-mel acaba e depois encontram satisfação na mobília da casa e em compra tretinhas, mas a satisfação desaparece e o que lhes fica nas cabeças é o extase que viveram brevemente e em como nada é tão bom como esse dia e nada corresponde às expectativas, porque, meu deus, nunca pensámos nisso antes e avida afinal não se resume à cerimónia de casamento e o casamento em si não é passaporte para a felicidade.
Por serem deficientes mentais deste género é que depois se encontram a procurar explicações a culpar outros pelos seus fracassos. Porque simplesmente nunca pensaram. Pensavam, antes, que o casamento era um botão mágico em que se carregava e tudo ficava bem. Tudo seriam rosas. Pois bem, assim não é!

Am I right?

Muitas vezes, sou acusado de não ser muito sociável e não me esforçar para manter amizades vivas.

Venho então contar uma história, muito recente, para elucidar a minha posição em relação à acusação.

Em tempos tive um colega de trabalho com quem me dei bastante, bem. Falávamos bastante nas nossas trocas de turno e até nos encontrámos uma vez fora do trabalho para tomar um café, coisa que raramente faço porque, normalmente, não gosto de grandes intimidades com colegas de trabalho.

Mas bem, com este colega senti que me dava bem e que poderia ser honesto em muitas das minhas opiniões controversas. Por exemplo, a minha teoria segundo a qual as pessoas só gostam de leite por pressão social.

De qualquer das maneira, a primeira coisa que me incomodou um pouco, foi este colega ter deixado o trabalho de forma extremamente repentina e sem aviso, deixando os colegas de secção em posição delicada. Pessoalmente, tive de adiar as minhas férias para fazer face à saída repentina. Mas o que me incomodou mais ainda foi o facto de não ter tido a simples atitude de mandar um sms ou falar pessoalmente e deixar-me a par da situação, em vez de me deixar ser surpreendido com a saída e consequentes consequências (por assim dizer).

Eu tinha emprestado um livro a este colega (vejam lá a confiança que eu não tinha). Um livro, que como todos os que são do Júlio Verne, é-me muito querido.

Após algum tempo da sua saída do meu trabalho contactei-o para marcarmos um café. Não vou dizer que não tinha interesse em reaver o livro, mas a verdade é que também gostaria de falar com ele e saber o que ele andava a fazer etc. Marcou-se um dia que foi desmarcado em cima da hora.

Após mais umas semanas largas, voltei a contactar, mas desta vez não havia possibilidade. Entre estas vezes não recebi nenhum contacto de volta.

Após mais umas semanas, contactei novamente, e desta vez ficou marcado novamente mas com um ponto de interrogação porque não sei o quê e ele poderia não ter tempo de ir ter comigo embora viesse até à minha cidade. Disse ok, e que se ele não pudesse vir ter comigo e quisesse entregar o livro que o deixasse no trabalho do meu pai que era fácil de chegar. Assim foi, o encontro foi cancelado e o livro entregue no meu pai.

Deixei passar mais de um ano e até hoje nem uma mensagem me chegou. Portanto ainda bem que pelo menos o livro voltou às minhas mãos.

E voltando à acusação inicial, eu não me esforço para manter amigos. Mas a verdade é que neste caso, por duas vezes tentei marcar algo e o problema para mim não é que tenha havido impossibilidade, mas sim que não tenha havido vontade. Porque se houvesse vontade tinham havido outros contactos e poderíamos ter arranjado uma situação qualquer em que fosse possível encontrar-nos e conversar e etc, aquilo que amigos fazem.

Posto isto, eu é que me devo esforçar, ou os outros não têm de se esforçar também? Que mais deveria fazer. Ir de joelhos até casa dele para que ele viesse tomar um café comigo. Nem pensar.

Para mim, amizade é recíproca e, neste caso, não fosse pelo livro ao fim da segunda tentativa deixava de tentar, porque obviamente para mim não funciona de todo ser só eu a ligar e tentar marcar coisas. Se me derem a entenderem que não estão interessados, eu não interessado estou, porque, francamente, algo melhor do que ficar em casa com a cara metade a ver os gatinhos fazerem parvoíces?

MH17

Não era para escrever nada acerca disto, mas vou escrever porque já irrita e vai continuar a irritar.

O voo MH17 que foi abatido/despenhou-se (sim, porque aparte das conclusões super rápidas dos EUA em assuntos que lhes convem, ainda não há assim tantas provas, daquelas em que se possa acreditar a 100%. Só gostava que os EUA fossem rápidos a esclarecer outras coisas, mas enfim) e desde então, como é perfeitamente natural, muitas mensagens de luto e lamentação apareceram.

Perfeitamente normal, volto a sublinhar.

O que não é perfeitamente normal é a exacerbação das mortes porque eram investigadores contra a Sida. Esta ideia de que as coisas são mais ou menos trágicas porque não sei quem ia no avião é ridícula e só serve, exactamente, para exacerbar o incidente através da sensibilidade da questão que é a Sida.

Curiosamente, muitas das pessoas que fazem este luto apalermado por investigadores que não conhecem, só porque eles eram investigadores, são muitas das mesmas pessoas que se queixam que a vida só vai mal para nós e os políticos é que estão bem, inferindo, e criticando, a ideia de que há cidadãos de primeira e cidadãos de segunda. Contudo, na hora de lamentar as mortes de um desastre aéreo, lamentam sempre mais intensamente as mortes de uns quantos que iam lá e que eram assim e assado. Aqui já é ok haver cidadãos de primeira e de segunda.

Quanto ao acidente, não devemos crer em interpretações imaturas e precipitadas, diria mais, propositadamente precipitadas, acerca de um incidente ocorrido num local onde a informação é confusa e difícil de obter. Portanto, é estranho que em menos de 24 horas um país tenha vindo a terreiro dizer que já sabia tudo o que se tinha passado com 100% de certezas.

Mas bem, cada um acredita no que quer. Apesar de este ser considerado, por algumas pessoas, o incidente mais trágico envolvendo acidentes de aviões, para mim continuo a achar o do AF447 muito mais trágico a nível humano, por todas as vertentes do acidente.

Outra vez

Todos os anos pelo 25 de Abril a história repete-se. Cravos, liberdade, os heróis etc. etc.

Uma história que se repete e que não devia de se repetir é a proeminência que os Capitães de Abril assumem nesta altura.

Antes de começarem a perder massa encefálica à toa, quero dizer que, obviamente, estou grato à liberdade proporcionada pelos Capitães de Abril através das suas nobres e heróicas acções no dia 25 de Abril de 1974, mas também em todos os dias anteriores em que delinearam secretamente toda a estratégia, de forma clandestina e também aí arriscando a sua pele.

Mas, este é o único louvor que se deve atribuir aos Capitães de Abril. Um louvor digno das maiores apreciações, principalmente por esta altura, digno de monumentos, nomes de ruas e mais alguns louvores públicos.

Contudo as acções heróicas são invalidadas, tanto pelos Capitães, como pelos cidadãos, sempre que por esta altura a opinião dos Capitães torna-se demasiado relevante e demasiado reivindicativa.

Nestes dias fala-se dos Capitães que só estariam presentes se pudessem discursar no parlamento.

Eu concordo plenamente com o impedimento do discurso. Parece-me óbvio, aliás, independentemente do discurso que quisessem fazer, fosse ele a favor do governo, contra o governo, a favor da troika, contra a troika, a favor da inspecção automóvel, contra a inspecção automóvel, a favor dos arruamentos do São João, contra a cor das placas de sinalização rodoviária, parece-me óbvio que os Capitães de Abril não têm lugar a discursar no parlamento.

Até porque, não era a Revolução de Abril uma iniciativa para dar o poder ao povo? Eu não votei nos Capitães de Abril, nem lhes reconheço qualquer direito a expressarem-se no local onde os interesses do povo devem ser defendidos.

"Mas," ouço vozes clamorosas a dizer "eles defendem os interesses do povo".

Pode até ser, mas eu não poderei discursar no parlamento sob qualquer tipo de circunstância. Os militares que lutaram no ultramar também não podem. E os interesses do povo são algo de relativo.

Por esse argumento qualquer um poderia lá ir com o pretexto de defender os interesses do povo.

Depois também há aquele argumento de que os Capitães deveriam discursar porque foram eles que criaram as condições para que existisse democracia. Há aqui algumas coisas a apontar. É que, por exemplo os Capitães de Abril proporcionaram uma democracia na qual erradicou-se o poder de pessoas que estavam no poder por defeito. Os lugares como o parlamento são para ser ocupadas por representantes legítimos, através de eleições, pelo povo. Não para ser ocupados por este ou por aquele que apenas porque teve uma acção louvável já tem direito a falar.

Vejamos por exemplo o caso de Otelo Saraiva de Carvalho que teve um papel mais que duvidoso nos eventos do 25 de Novembro de 1975, deve ele ter assim tanto direito a uma intervenção no coração da democracia?

E mesmo que fosse o mais virtuoso, não há absolutamente nenhum voto do povo para lhe dar esse direito.

Eu sei que dirão que os que estão lá no parlamento também são duvidosos, mas, apesar de eu concordar em parte com isso, foram eleitos para lá estar. Eleitos pelo povo e não por uma circunstância.

A questão dos Capitães de Abril serem heróis é meramente circunstancial. A Revolução poderia nunca se ter consumado e daí a dez anos existirem outros revolucionários. Por muito valor que as acções dos Capitães de Abril  tenham, elas são frutos da circunstância e da mesma maneira que foram a elas a desencadear a Revolução, poderiam ter sido outros.

Finalmente, fico boquiaberto quando vejo pessoas que dizem/escrevem que a Presidente da Assembleia da República desrespeitou os Capitães e que se esquece que se exerce o cargo que exerce é porque alguém o proporcionou. Fantástico de ouvir numa país em que metade da população votante abstém-se, e orgulha-se disso, esquecendo que houveram esses mesmos Capitães a arriscar a vida deles para nos proporcionar esse direito.

Coerência não é, definitivamente, o forte dos portugueses.

Resumindo, os Capitães de Abril devem ser homenageados e devemos sempre lembrar que a nossa democracia poderia ser dez ou vinte anos mais nova do que é ou poderia até nem ser. Contudo, é mais que altura dos Capitães entregarem os frutos da Revolução à mercê do tempo e dos acontecimentos. Fizeram a Revolução mas a Revolução é de todos e como tal devemos todos respeitar da mesma maneira os princípios da mesma. Se não discursam no parlamento, discursam noutro sítio qualquer, com o direito que lhes assiste e toda a gente verá e toda a gente entenderá a mensagem.

O outro lado da moeda

No outro dia escrevi um post acerca da desilusão que represente Lance Armstrong.

Enquanto mantenho a ideia de que não há heróis, a verdade é que há alguns heróis que não são, nem devem ser, cantados ou louvados. E são estes heróis que vale a pena valorizar. E muito.

A história de Lancer Armstrong revela-nos um desses heróis. David Walsh.

Walsh é, hoje, o editor chefe de desporto do jornal Sunday Times. Irlandês na época das vitórias de Armstrong era apenas jornalista do Sunday Times. Walsh, amante de ciclismo, nas primeiras férias que passou fora do país arranjou uma mota e foi para França para seguir o Tour de France como fan.
Passados uns tempos começou a cobrir a competição como jornalista e passou a cobrir outros eventos extra ciclismo.

Em 1998 dá-se o escândalo Festina no Tour. John Wilcockson, jornalista também do Sunday Times, deu pouca importância ao escândalo e continuou a escrever para Londres quase como se nada se tivesse passado. O jornal em 1999 decide que para além de Wilcockson iria enviar Walsh para certificar-se do que se passava e ter uma cobertura mais real e honesta da corrida.

O Tour of Renewal, como foi apelidado pelos organizadores da corrida, visava lavar a cara de uma competição que tinha sido gravemente afectada em termos de reputação no ano anterior. Os organizadores disseram que, como não iriam haver drogas na corrida a mesma iria ser mais lenta que as dos últimos anos.

Armstrong na etapa que termina em Sestriére, uma etapa de montanha com alto grau de dificuldade, faz um ataque, ganha a etapa e passa de ciclista irrelevante que em quatro edições apenas tinha chegado ao final da corrida uma vez e em 36º, a candidato à vitória com um ataque impressionante e do qual não seria capaz em condições normais. De acordo com Walsh, na sala de imprensa toda a gente riu sarcasticamente, numa clara demonstração de que era inacreditável que Armstrong estivesse limpo e a fazer aquele ataque. Armstrong ganhou e David Walsh na sua coluna escreveu

 “There are times when it is right to celebrate, but there are other occasions when it is equally correct to keep your hands by your sides and wonder… [and in this case] the need for inquiry is overwhelming.” 

Este Tour tinha sido o mais rápido de sempre e vencido por um ciclista improvável que era especialista em pequenas provas e nunca havia sido forte nem no contra-relógio nem nas montanhas.

David Walsh então prosseguiu na sua perseguição por provas que mostrassem que Armstrong havia dopado. Obteve testemunhos de várias pessoas que já tinham ouvido Armstrong admitir o uso de doping e a incentivar o mesmo, publicou artigos, publicou um livro, questionou Armstrong, foi ameaçado pelos agentes de Armstrong, sofreu discriminação por parte dos ciclistas que não falavam com ele por causa da sua activa posição anti doping, sofreu discriminação de jornalistas que se recusavam a comparecer publicamente com ele, com medo de serem associados com o jornalista com quem ninguém queria falar. No carro em que costumava seguir para acompanhar as provas os jornalistas a certo dia, sem aviso prévio, recusaram-se a levá-lo, deixando-o numa posição muito complicada, pois dadas as restrições só carros autorizados é que poderiam seguir até aos finais de etapa e para um jornalista é complicado não ter esse acesso.

A minha admiração por David Walsh, mais do que no final todos terem de lhe dar razão, é o facto de ele ter continuado a dizer, a escrever e a perseguir aquilo em que acreditava. Não cedeu aos contos de fadas. Não cedeu à necessidade de acesso aos ciclistas, que implicava que os jornalistas fossem favoráveis aos ciclistas nas suas peças para poder obter entrevistas com eles que, naturalmente, atraem sempre mais atenção do que artigos sobre doping.

Ao passo que Walsh escrevia aquilo em que acreditava outros, nomeadamente Wilcockson, escreviam livros acerca das grandes vitórias de Armstrong e exultavam este herói com pés de barro, apesar das provas apresentadas por Walsh. Porque era mais fácil acreditar no mito. Era o que toda a gente queria ler.

Vivemos a acreditar que os jornalistas nos trazem os factos mais verídicos das histórias. O relato mais preciso dos acontecimentos. Independente e conciso. Mas neste caso só um, das centenas de jornalistas que cobrem o Tour é que seguiu um caminho diferente. Os outros, todos escreveram que acreditavam, que era maravilhoso, fantástico. Digno de um conto de fadas. Porque era isso que toda a gente queria ler. No que me lembra de ver das transmissões da RTP do Tour, não me lembra de ouvir Marco Chagas ou o João Pedro Mendonça a referir estes casos. Não me lembro de ler em lado nenhum nada acerca do estranho que é um ciclista irrelevante, tornar-se um mítico vencedor do Tour, sete vezes consecutivas.

Afinal jornalismo é contar a verdade ou é um exercício de alimentação de sonhos de quem está no lado receptor das notícias?

Em relação a jornalistas desportivos David Walsh descreve na perfeição o que a maior parte deles são

"Fans with a typewriter"

É errado louvar Walsh só porque ele tinha razão. Afinal de contas, ele apenas fez o seu trabalho, que é para isso que lhe pagam. Ele próprio tem recusado aparências e pedido para que não estejam a tratá-lo como um herói, pois Armstrong também era um herói. E era um herói cada vez mais heróico na proporção em que as pessoas elevavam-no cada vez mais e quanto mais alto cada vez é menor a vontade e habilidade de questionarmos.

Mas nutro imenso respeito por David Walsh. Ele fez aquilo em que acreditava e não se desviou do seu caminho só porque seria mais fácil e mais bonito.

Aconselho quem tiver interesse em saber um pouco melhor a história de David Walsh a ver este vídeo que aqui deixo.


Não há heróis

Já foi há praticamente um ano que se provou que na vida não há heróis.

Cresci a gostar de ciclismo e a ver as várias voltas que eram transmitidas pela RTP. Naturalmente assisti a todas as vitórias de Lance Armstrong, agora comprovadamente e admitidamente conseguidas através do recurso a doping.

Na altura em que as alegações começaram, em 1999, eu nem sequer sabia que elas existiam. A primeira vez em que tive contacto com alegações de doping deve ter sido por volta de 2004 ou 2005, em que apareceram notícias que alegavam que amostras de urina de 1999 continham EPO.
Nesse momento, lembro-me perfeitamente de o dizer à minha mãe, pensei que já se tinha passado tanto tempo e que isto era basicamente uma caça e uma tentativa de desgraçar um campeão comprovado.

Todo o problema deste assunto não se pode resumir apenas a Lance Armstrong. Deve-se resumir também à imprensa. Mas primeiro, o vilão.

Ao longo da história o ciclismo tem sido recorrentemente manchado por escândalos de doping. É uma modalidade dura e o Tour de France é considerada por muitos a prova desportiva mais dura do mundo. Anfetaminas, testosterona, esteróides, entre outros, eram as drogas de escolha para melhorar a performance. Seria possível dizer que Eddie Merckx, Jacques Anquetil e outros campeões do passado, tenham tomado este tipo de medicamentos e suplementos no seu tempo. Eu não vou defender o uso destas drogas mas há uma distinção a fazer entre estas drogas e a EPO. Antes da EPO as drogas que existiam ajudavam os ciclistas a atingir os seus limites mais rapidamente e facilmente. A EPO tornava ciclistas medianos em ciclistas fenomenais. Lance Armstrong, nunca foi um ciclista de elite, até se comprometer com o doping sistemático e com a ideia de que se ele se dopasse melhor que os outros, ganharia. A EPO e as transfusões de sangue tornaram Lance Armstrong um ciclista de elite e quase extraterrestre.

Há muita gente que tem a opinião seguinte "Ah, o Armstrong dopava-se, mas toda a gente fazia o mesmo". Isto não é bem verdade, muitos ciclistas se recusaram a tomar drogas para melhorar a sua performance. O que aconteceu foi que simplesmente não tinham qualquer hipótese de competir num pelotão em que maioritariamente os ciclistas se dopavam e muito.
Christophe Bassons, um ciclista que em 1999 tinha 25 anos, escrevia uma coluna para o jornal Le Parisien durante o Tour de 99. Ele escreveu que era impossível competir no Tour sem recorrer a doping e que as coisas estavam iguais e que nada mudara em relação aos anos anteriores. (Convém assinalar que em 99o Tour foi nomeado o Tour of Renewal pois em 98 deu-se um escândalo Festina em que grandes quantidades de substâncias dopantes foram apreendidas nos carros das equipas que corriam o Tour. 1999 era supostamente um ano de renascimento e de mudança)
No dia seguinte a essa coluna ter saído Lance Armstrong dirigiu-se a Bassons e disse (tradução livre) "O que disseste não é verdade, o que disseste é mau para o ciclismo, não o devias ter dito e não mereces ser um ciclista profissional, devias desistir, abandonar a carreira" terminando com um "Fuck you".
Isto à frente de todo o pelotão que nos dias seguintes tratou de dar o mesmo tratamento a Bassons que mais tarde abandonaria o tour e dois anos depois abandonou a carreira de ciclista aos 27 anos. Bassons era considerado um promissor ciclista com capacidades físicas naturais acima da média. Bassons foi obrigado a desistir do seu sonho porque simplesmente se recusou a drogar-se.

Outra coisa que se diz é "Não interessa o que tomam, interessa é ver um bom espectáculo". Já morreram ciclistas em circunstâncias estranhas após tomarem EPO. Para explicar convém clarificar o que faz a EPO. A EPO quando injectada induz a multiplicação de glóbulos vermelhos.. Estes glóbulos são os que transportam oxigénio aos músculos e que permitem mais esforços físicos e mais capacidade de esforço por mais tempo. Contudo, o aumento dos glóbulos vermelhos pode ser demasiado tornando o sangue demasiado grosso forçando o coração a mais esforço para bombear o sangue e, consequentemente, provocar paragens cardíacas mortais. Histórias se contam de ciclistas a levantar-se a meio da noite para fazer exercício físico para reduzir o nível de glóbulos vermelhos no sangue e evitar que esse nível suba demasiado.
Portanto a essas pessoas que apenas se interessam com o espectáculo deveriam pensar que um dia poderá ser o filho deles a chegar a esse ponto e a ligar para casa a dizer "Pai, se eu quiser perseguir o meu sonho tenho de tomar drogas". É um pensamento bastante trágico e triste.

Em cima de tudo isto há que ter em conta a personalidade de Lance Armstrong. Não é só o doping. Toda a gente que acusava Armstrong era vítima de um homicídio de carácter.

Emma O'Reilly era uma massagista de US Postal que revelou que Armstrong falsificou uma receita médica para encobrir um teste positivo de cortisona. Em resposta basicamente insinuou que O'Reilly era uma mulher que tinha tido casos sexuais com ciclistas e que por essas razões havia sido dispensada e que agora estava ressabiada e decidiu inventar essa história. Toda a gente acreditou no campeão que recuperou de cancro.

Betsy Andreu mulher de Frankie Andreu, ex colega de Armstrong, revelou que quando visitou Armstrong no hospital quando ele estava a ser tratamente ao seu cancro, ouviu Armstrong dizer aos médicos que já tinha tomado hormonas de crescimento, cortisona, testosterona e EPO. Armstrong limitou-se a dizer que ela era louca, e estava ressabiada porque o marido tinha sido dispensado pela equipa. Acompanhado de intimidações verbais e por escrito a Betsy e Frankie Andreu. Toda a gente acreditou no campeão.

Floyd Landis, ex-ciclista que pertenceu a uma das equipas de Armstrong revelou muitos detalhes da cultura de doping no ciclismo e concretamente de Armstrong. Lance procedeu a dizer que Landis estava ressentido e que era um renegado que havia testado positivo para doping e negado e que agora afinal admitia apenas por vingança. Toda a gente acreditou em Armstrong, excepto alguns investigadores do FBI que começaram a investigar e acabariam por destapar o véu de todos os esquemas de Armstrong.

Estes episódios, e muitos outros que não vou descrever, mostram aquilo que é pior acerca de Lance Armstrong. A sociopatia deste homem é incrivelmente profunda e o controlo da narrativa era essencial para ele, não interessa quem é prejudicado. Para Lance não há lugar para escrúpulos. Tem de ser tudo consoante a sua vontade.

Estas são as razões pelas quais é impróprio continuar a considerar Armstrong um campeão. A desilusão que ele provocou em muitos fans, como eu, e em muitos que sofrem de cancro, para quem ele era um exemplo, é maior do que se possa imaginar. Durante sete anos da minha juventude eu tive um herói que me fazia todos os dias pegar numa bicicleta e ir pedalar com tudo o que tinha. Tudo isso é basicamente apagado. Muito pior será para as vítimas de cancro que perdem uma pessoa para quem olhavam para ter esperança num futuro melhor.

Mas a cada um se dá o direito de julgamento, mas para mim a queda de Lance Armstrong apenas mostra que os heróis não o são.

Parvoices

Estava a ler coisas na internet quando me deparei com alguns comentários que me fizeram rir genuinamente pela parvoíce associada aos mesmos.

Passo a citar!

"Sim é verdade!!! Espantem-se os bolcheviques e os nacionalistas do protocolo, que o traje académico tem como missão basilar igualar toda a classe estudantil, independentemente de raças, credos, contas bancárias, partidos políticos, associativismos, cursos e filiações.

E assim dá-se o milagre social de o menino que usa t-shirt da Tommy, e a menina de blusão "Gap" não serem distinguíveis, quando bem trajados, dos manos "Batista" que apenas podem usar a T-shirt com publicidade à “auto-reparadora” da família!

Como estive lá, voluntariamente, a participar como caloiro e posteriormente como trajado, num período superior a “um bom par de anos”, falo com legitimidade, conhecimento de causa e espantem-se os activistas do MPRTMP (Movimento a Praxe Razão de Todos os Males de Portugal) serei imparcial, como poderão constatar, se se derem ao trabalho de ler o texto até ao fim, pois apontarei defeitos e virtudes, bons agentes e parasitas desta actividade.

Importa saber então, quem pode falar sobre este assunto. A saber… Praxistas e praxados em actividade, “ex-praxistas”, actuais e ex-alunos anti praxe e é aqui que há uma condição eliminatória para a discussão, DESDE QUE ESTES tenham ido a uma praxe mais que uma vez e tenham sido praxados por mais que uma pessoa!!! Quem apenas lá foi uma hora para ver se gostava, quem apenas lá andou um dia enquanto” não arranjava casa”, quem nunca participou activamente numa actividade de praxe, quem possa ter tido o azar de ser mal praxado UMA ÚNICA VEZ, por algum troglodita (que os há e muitos a contaminar a praxe) e decidiu, em consciência, não participar, não tem absolutamente voto nesta matéria.

Posto isto mais ridículo é quem nunca frequentou o ensino superior vir questionar ou defender isto ou aquilo que ocorre no meio académico. Não seria sensato, “ desancar” toda a população de Arraiolos pelo seu método de confecção de tapetes, quando nunca lá se esteve nem se percebe patavina de métodos artesanais de tapeçaria !!!!"


Isto anda para aí em Facebooks etc, eu queria só apontar algumas coisas. O traje serve para igualar toda a classe estudantil. Essa é bastante interessante. Porque então eu só posso ser um igual se tiver 250€ para gastar no traje. Palmas.
Dado que não estamos no Séc. XIX é um bocado palerma defender com esta veemência um simples pedaço de pano e proclamar aos céus a virtude do traje. Tendo ainda mais em conta esta situação muito simples, muitos praxistas tentam impedir os que não são praxados de trajar, portanto, bela teoria de merda, essa do traje para "igualar".

Mais engraçado ainda esta afirmação de que só pode falar da praxe quem já foi praxado, mas atenção, têm que ter sido praxados mais do que uma vez e por pessoas diferentes.

Eu conheço apreciadores de restaurantes para o Guia Michelin que foram despedidos porque não conseguiram ir ao restaurante a a avaliar e comer o mesmo prato feito por pessoas diferentes. Está lá escrito nos estatutos.

Para uma pessoa que brada tanto à igualdade que existe na necessidade de trajar, está a mostrar também um lado diferenciador. Eu só posso falar se experimentei duas vezes e com duas pessoas diferentes. Não interessa se eu vi alguém a levar um tiro, não posso falar porque nunca fui praxado.
Enfim, um rigor digno de um ditador que deseja diminuir o espectro de opinião para obter conclusões mais previsíveis.
Fico então a aguardar essas sondagens em que as pessoas que dão a opinião têm que ter estado em cada um dos partidos, pelo menos duas vezes e com sercretários gerais/presidentes de partido diferentes. Ou então aquela opinião informada que as pessoas têm sobre economia e finanças e que certamente se baseia em não uma, mas duas profundas participações nesse mundo. P-A-T-É-T-I-C-O

Depois este pequeno doce que encontrei na internet e que tive de ler porque de imediato quis verificar estes assuntos com os quais tenho de me identificar porque eu deito-me sempre às 8h30 da manhã. Um post chamado: 10 coisas que só quem se deita tarde é que percebe.

1- Percebe como é acolhedor o silêncio da madrugada; - Quando muito percebo como é sinistro o silêncio e a escuridão da madrugada. 

2- Percebe o que é ter muita fome e conseguir deixar a preguiça de lado e ir até à cozinha; - Como antes de dormir e só me ponho a pé em casos de extrema necessidade. Fome não é uma dessas necessidades.
3- Gosta de ter a companhia de uma televisão ligada, mesmo que não esteja a ver o que lá está a dar; - Esta deve ser só para palermas que não conseguem viver a sua própria vida
4- Não fica surpreendido por de repente ter uma enorme vontade de colocar todos os objectivos e projectos em prática de uma só vez; - Piada do Século. Eu quando me deito tarde não me surpreendo é por adormecer tão depressa.
5- Fica irritado quando alguém lhe manda bocas por dormir demasiado, quando apenas dorme 6 a 8 horas por dia e por vezes menos; - Trata-se de uma questão mais simples. Se estiveres rodeado por parvalhões recebes essas bocas. Eu nunca recebi.
6- Percebe a alegria de saber que um estabelecimento está aberto 24 horas por dia; - Percebo a tristeza de saber que há pessoas que têm de estar a trabalhar a horas em que é normal estar a descansar e nas quais há maior exigência física e psicológica.
7- Fica orgulhoso quando lê pesquisas que provam que quem se deita tarde é mais inteligente; - Meu deus. Há pesquisas claramente enviasadas no objectivo e essencialmente focadas em comunidades estudantis. Também dizem que quem fuma drogas é mais inteligente. Bem, boa sorte com o cancro.
8- Não compreende como há pessoas que conseguem acordar às 7h da manhã com bom humor; - Eu compreendo, mas os que não compreendem devem ser os que recebem o tratamento do ponto 5.
9- Tem inveja de quem se deita e adormece logo; - Já não tenho unhas de tanta inveja.
10- Sabe, verdadeiramente, o quão doloroso é acordar antes do meio-dia. - "Whatever"

Afinal não me identifico.

Finalmente. 


"Aquele momento onde acabas de ler um livro do Nicolas Sparks e estás a chorar como uma desalmada... — a sentir-se emocionada."
Não tenho grande comentário. Mas devo confessar que cagalhões nunca me emocionaram.

Lição sobre sinónimos - Praxe=Merda

Eu não queria falar disto, pois, tudo isto, vem na sequência de um acontecimento que até em mim me deixa um peso, quanto mais aos envolvidos.

Contudo, não posso deixar de me surpreender com todas estas questões das praxes e com a feroz defesa que é montada à volta das mesmas, só porque há indícios que toda a tragédia possa ter sido causada por um ritual de praxe.

Há algumas coisas em particular que me incomodam muito na posição de defesa da praxe.

Uma delas é aquela velha balela de que a praxe serve para integrar os novos alunos. Vivendo no Séc. XXI, seria, talvez, fácil de entender que nem toda a gente reage da mesma maneira aos mesmos estímulos e, por sua vez, a realização de rituais em que a humilhação disfarçada é o mote não é propriamente a maneira mais consensual. Seria muito mais consensual promover actividades de um carácter mais lúdico onde cada aluno pudesse escolher qual a actividade mais apropriada para si e para os seus gostos e que lhe daria a melhor possibilidade de conhecer pessoas que se encaixem no seu "mundo" por assim dizer. Portanto num ambiente em que o essencial é ter e providenciar escolhas às pessoas, a ideia de integração daqueles que são a favor das praxes é, precisamente, não dar escolha.

Mas, ouço os clamores a articular, mas as pessoas têm escolha, se não quiserem ser praxadas não são. Isto é a maior falácia que se pode dizer e, do fundo do meu coração, desejo que quem diz isso seja decapitado pelo mais fulminante machado.

É uma falácia porque eu já assisti a um caso e vivi de perto com outro caso em que ambos não quiseram ser praxados.
No primeiro um colega, que viria a tornar-se um grande amigo, recusou-se a ser praxado no recinto comum da escola. Foi perseguido até à sala de aula por um grupo de galinhas que insistia que ele não podia recusar-se porque toda a gente tinha sido praxada e porque ele estava a ser "má onda", até a professora interviu em favor da praxe interpelando esse colega a deixar-se praxar. Uma aula de história interrompida durante 30 minutos (sim, 30) porque houve uma ovelha negra que exerceu o seu direito de se recusar a ser praxado. Eu nesse dia fui praxado e nesse dia decidi que tinha sido a última vez que a praxe se relacionou comigo.
No fim o colega não foi praxado mas foi olhado de lado. Pelos praxantes e pelos praxados que não aceitavam que alguém se recusasse a ser humilhado como eles tinham sido.

No segundo caso, a posição de não ser foi recebida e depois motivo de uma pequena conversa aparte onde mais uma vez se não aceitas a praxe és má onda, estás a desrespeitar os teus colegas, estás a desrespeita as tradições da tua universidade (nem sei se hei-de rir ou chorar), é isso mesmo que queres? À manutenção da posição tomada em não ser praxada foi então declarada como aluna antipraxe. Porque não podes ser indiferente. Se não queres és anti. E os olhares de lado prolongaram-se durante toda a licenciatura.

Paralela nestes dois momentos é a coacção. A pressão para que te encaixes, a rotulação se não te encaixares, etc, etc. E nem adianta vir com fábulas (sim, fábulas no sentido de só nas fábulas é que porcos e burros falam*) de pessoas que se recusaram mas que depois se vieram a dar bem com toda a gente. Pois bem, remetendo para o que disse acima, as pessoas não reagem da mesma maneira aos mesmos estímulos. Mais uma vez, trata-se de reduzir oportunidades e liberdade de escolha. É só a praxe, mas não é por isso que deixa de ser algo que pode afectar negativamente ou positivamente as pessoas.

Finalmente, a hipocrisia geral que são os seguintes factos.
-Quando há um livro que os professores revelam obrigatório de comprar, é imediata a aparência de carpideiras que, meu deus, não têm dinheiro. Mas têm traje que têm, quando comprados nas lojas, um valor pornográfico. Já para não falar dos jantares de curso ou, pelos vistos, de casas alugadas até, só para passar uns dias com vista a evoluir na vida.
-Têm o trabalho de justificar faltas para poder comparecer nas praxes, porque, obviamente, pagam as propinas para ir à praxe.
-Farto-me de ouvir rapazes a dizer "Eu?! Fato e gravata?! Nunca!". Mas quando se trata de envergar o traje, faça frio ou calor, aí andam eles. A escorrer suor pela focinheira abaixo.
-Farto-me de ouvir raparigas a dizer "Eu uso o que quiser, liberdade e não à objectificação das mulheres. Eu visto o que quiser independentemente da opinião dos meus pais ou do meu namorado, pensem o que quiser. Eu sou assim e não vou mudar". Chega à altura de andar de traje, em que são obrigadas a andar sem brincos, sem pulseiras, com sapatos simples em que até definem a altura do salto, e a resposta delas? Não há problema. São nestes momentos em que por um segundo a minha visão treme e apenas vejo um borratado da realidade, tal impulso de repugnância para com este mundo.

E a lista de coisas que eu poderia enumerar é extensa. Mas nem sequer vale a pena. Apenas fica aqui a minha opinião. E qualquer defesa destes factos é, desde logo, inexequível.

*Os porquinhos e os burrinhos que me perdoem, pois como animais não tenho defeito a apontar-lhes, bem pelo contrário.