Ao longo da minha vida ouvi muitas pessoas a dizer o mesmo. Ricos, pobres, famosos e desconhecidos. A inocência é algo de muito bonito.
"We all lose our innocence, it's impossible to hold,
I didn't know it then, I had a pocket full of gold"
É algo que nunca podemos recuperar. Os tempos em que acreditávamos que tudo seria bom e tudo parecia estático e sem risco de mudar. Tinha os amiguinhos, a família, a escola, a tv, a consola, a bicicleta etc. Tudo o que era meu de direito.
Com o crescimento e o conhecimento as coisas mudam ligeiramente. Os amiguinhos deixam de ser amigos, a consola já não nos preenche, a bicicleta deixou de ter piada porque descobrimos que fingir que somos o Lance Armstrong e que comigo vai um pelotão numa corrida que eu ganho sempre, já não tem assim tanta piada e afinal de contas com 12 ou 13 anos quem é que me quer ouvir? Pareceria ridículo certamente.
Descobri também que andar pelo quarto aos saltos a cantar ou segurar qualquer coisa na mão esquerda e fingir que tocava guitarra não era assim tão espectacular. Com os meus 16 anos ainda o devia de fazer, lembro-me que até gravava cds com um alinhamento ao qual cada vez se tornava mais difícil chegar ao fim. Cada vez era mais difícil fazer de conta e cada vez mais imaginava-me visto de fora e acabava por ir dormir triste porque tudo aquilo não passava de fantasia. Felizmente tive a possibilidade de aprender a tocar guitarra. Sempre sozinho e ainda hoje admito que me imagino muitas vezes num concerto ou qualquer coisa do género, mas quem nunca o fez estando a tocar um instrumento? Emulamos os nossos heróis.
O fim da escola é um momento precioso. É o momento em que tudo passa a contar. Quando se anda na escola poucos se preocupam com o futuro. Sabemos que vamos trabalhar e que outros vão para a universidade. No meu caso o trabalho era meu destino.
O problema é que quando andámos na escola queremos trabalhar para sair daquele mundo de aparências vãs das miúdas emproadas e dos tipos armados em maus. Queremos entrar no mundo das mulheres onde seremos reconhecidos pelo que fazemos e não pelo que aparentamos fazer.
Ainda que possam haver casos distintos, o facto é que no trabalho existe apenas uma acentuação desse mundo de aparências. "À mulher de César não basta ser, é preciso parecer".
Quando andei na escola tive alguma matéria na área das relações humanas e até eu, um ilustre desconhecido, percebi as teorias motivacionais. Num mundo em que muitos heróis de hoje em dia são heróis da psicologia, José Mourinho, Steve Jobs etc. Neste mesmo mundo é-me impossível perceber como é que alguém, com educação superior, não tem a mais pequena noção de como motivar as pessoas e como mantê-las satisfeitas. Nem um gesto pequeno como dar as condolências a alguém que perdeu um familiar, sabem dar. Se nem isso conseguem fazer, como é que é possível fazerem o resto? Não é.
Da mesma forma que quando as avaliações são superficiais caímos num grande erro. Quando há pessoas que nos momentos difíceis mantêm, quase sozinhos um "barco" em andamento e depois são ultrapassadas por alguém que nada faz mas que aparenta fazer, como é que é possível as pessoas que se sacrificaram sentirem-se motivadas? Não é. Principalmente quando quem aparenta facilmente se espalha em qualquer pequeno pormenor seja pelo que diz ou pelo que faz.
Saber de certas coisas que ocorrem longe da nossa vista é muitas vezes mau. É mau porque eu sou obrigado a sentir a injustiça. Embora mais tarde redescubra o caminho correcto é-me difícil ignorar estupidez e injustiça.
Quando vejo aquele anúncio da Optimus "All Together Now" é um pouco impossível não sentir repulsa por esta sociedade. Quando vejo a grande flash mob em que está toda a gente a divertir-se e todos juntos, sei que essas mesmas pessoas são as que gozam comigo e com a minha namorada quando vamos no comboio porque temos coisas fora do comum, embora nem eu sei bem quais são, mas pelos vistos temos pelas reacções. Essas pessoas "All Together Now" são as mesmas que têm blogs e facebooks extremamente livres de preconceito, mas sempre que são contrariadas convocam uma flash mob para insultar o opositor. Distorcendo ao invés de rebaterem as opiniões contrárias com argumentos lógicos.
O que eu não consigo compreender no meio disto tudo é porque é que as pessoas são más? Porque é que as pessoas não são sinceras? Porque é que as pessoas não vencem por serem quem são mas sim por aparentarem ser alguém diferente? Porque é que as pessoas não são justas quando olham para os outros?
Há uma pergunta recorrente na minha cabeça. As portas foram feitas para as fecharmos ou para as abrirmos? E tenho a mesma pergunta em relação ao saber. Devemos querer saber mais ou não querer saber nada?
Há pouco tempo alguém me disse que é preciso conhecer o que é mau para valorizar o que é bom. Saber o que é feio para valorizar o que é bonito. Tirando a morte e certas lesões físicas, nada é permanente. Tudo muda num piscar de olhos. Contudo o que se faz não se pode desfazer. Tal como a inocência de outros dias se perde e não volta.
E eu sinceramente não acho que isto seja um defeito de pessoas rancorosas. Até porque rancor é um ódio secreto e profundo e não se trata disso. Trata-se apenas que algumas pessoas têm acções com as quais eu nem sempre consigo compactuar e isso muda toda a perspectiva que se tem de alguém. Por muito que por vezes as acções não tenham a ver com o trabalho dessa pessoa. Tudo fica em perspectiva a partir de certo momento. Ainda há pouco tempo andei viciado num comediante do YouTube porque achava piada sim, mas porque ele me parecia ser uma pessoa igual a qualquer outra. Podia ser eu, podia ser o vizinho. Um tipo que só fazia vídeos porque gostava de fazer vídeos. Mas que agora faz vídeos porque é um negócio, não mantém a mesma linha de qualidade nos seus conteúdos e age como se fosse uma superestrela deslocando-se em limusines com tipas com ar de prostitutas lá dentro. Por muito que o seu trabalho até aí tenha sido bom, tudo muda, porque a minha perspectiva muda. Eu sei que ninguém é perfeito. Mas há coisas com as quais não consigo compactuar.
Enfim. Eu sinceramente gosto quando saio com pessoas que são divertidas, sinceras e verdadeiras. Mas as pessoas são cada vez menos assim.
Fica o amor pelas coisas belas que no fim deste texto me voltam a parecer meritórias do meu esforço.
"We all lose our innocence, it's impossible to hold,
I didn't know it then, I had a pocket full of gold"
É algo que nunca podemos recuperar. Os tempos em que acreditávamos que tudo seria bom e tudo parecia estático e sem risco de mudar. Tinha os amiguinhos, a família, a escola, a tv, a consola, a bicicleta etc. Tudo o que era meu de direito.
Com o crescimento e o conhecimento as coisas mudam ligeiramente. Os amiguinhos deixam de ser amigos, a consola já não nos preenche, a bicicleta deixou de ter piada porque descobrimos que fingir que somos o Lance Armstrong e que comigo vai um pelotão numa corrida que eu ganho sempre, já não tem assim tanta piada e afinal de contas com 12 ou 13 anos quem é que me quer ouvir? Pareceria ridículo certamente.
Descobri também que andar pelo quarto aos saltos a cantar ou segurar qualquer coisa na mão esquerda e fingir que tocava guitarra não era assim tão espectacular. Com os meus 16 anos ainda o devia de fazer, lembro-me que até gravava cds com um alinhamento ao qual cada vez se tornava mais difícil chegar ao fim. Cada vez era mais difícil fazer de conta e cada vez mais imaginava-me visto de fora e acabava por ir dormir triste porque tudo aquilo não passava de fantasia. Felizmente tive a possibilidade de aprender a tocar guitarra. Sempre sozinho e ainda hoje admito que me imagino muitas vezes num concerto ou qualquer coisa do género, mas quem nunca o fez estando a tocar um instrumento? Emulamos os nossos heróis.
O fim da escola é um momento precioso. É o momento em que tudo passa a contar. Quando se anda na escola poucos se preocupam com o futuro. Sabemos que vamos trabalhar e que outros vão para a universidade. No meu caso o trabalho era meu destino.
O problema é que quando andámos na escola queremos trabalhar para sair daquele mundo de aparências vãs das miúdas emproadas e dos tipos armados em maus. Queremos entrar no mundo das mulheres onde seremos reconhecidos pelo que fazemos e não pelo que aparentamos fazer.
Ainda que possam haver casos distintos, o facto é que no trabalho existe apenas uma acentuação desse mundo de aparências. "À mulher de César não basta ser, é preciso parecer".
Quando andei na escola tive alguma matéria na área das relações humanas e até eu, um ilustre desconhecido, percebi as teorias motivacionais. Num mundo em que muitos heróis de hoje em dia são heróis da psicologia, José Mourinho, Steve Jobs etc. Neste mesmo mundo é-me impossível perceber como é que alguém, com educação superior, não tem a mais pequena noção de como motivar as pessoas e como mantê-las satisfeitas. Nem um gesto pequeno como dar as condolências a alguém que perdeu um familiar, sabem dar. Se nem isso conseguem fazer, como é que é possível fazerem o resto? Não é.
Da mesma forma que quando as avaliações são superficiais caímos num grande erro. Quando há pessoas que nos momentos difíceis mantêm, quase sozinhos um "barco" em andamento e depois são ultrapassadas por alguém que nada faz mas que aparenta fazer, como é que é possível as pessoas que se sacrificaram sentirem-se motivadas? Não é. Principalmente quando quem aparenta facilmente se espalha em qualquer pequeno pormenor seja pelo que diz ou pelo que faz.
Saber de certas coisas que ocorrem longe da nossa vista é muitas vezes mau. É mau porque eu sou obrigado a sentir a injustiça. Embora mais tarde redescubra o caminho correcto é-me difícil ignorar estupidez e injustiça.
Quando vejo aquele anúncio da Optimus "All Together Now" é um pouco impossível não sentir repulsa por esta sociedade. Quando vejo a grande flash mob em que está toda a gente a divertir-se e todos juntos, sei que essas mesmas pessoas são as que gozam comigo e com a minha namorada quando vamos no comboio porque temos coisas fora do comum, embora nem eu sei bem quais são, mas pelos vistos temos pelas reacções. Essas pessoas "All Together Now" são as mesmas que têm blogs e facebooks extremamente livres de preconceito, mas sempre que são contrariadas convocam uma flash mob para insultar o opositor. Distorcendo ao invés de rebaterem as opiniões contrárias com argumentos lógicos.
O que eu não consigo compreender no meio disto tudo é porque é que as pessoas são más? Porque é que as pessoas não são sinceras? Porque é que as pessoas não vencem por serem quem são mas sim por aparentarem ser alguém diferente? Porque é que as pessoas não são justas quando olham para os outros?
Há uma pergunta recorrente na minha cabeça. As portas foram feitas para as fecharmos ou para as abrirmos? E tenho a mesma pergunta em relação ao saber. Devemos querer saber mais ou não querer saber nada?
Há pouco tempo alguém me disse que é preciso conhecer o que é mau para valorizar o que é bom. Saber o que é feio para valorizar o que é bonito. Tirando a morte e certas lesões físicas, nada é permanente. Tudo muda num piscar de olhos. Contudo o que se faz não se pode desfazer. Tal como a inocência de outros dias se perde e não volta.
E eu sinceramente não acho que isto seja um defeito de pessoas rancorosas. Até porque rancor é um ódio secreto e profundo e não se trata disso. Trata-se apenas que algumas pessoas têm acções com as quais eu nem sempre consigo compactuar e isso muda toda a perspectiva que se tem de alguém. Por muito que por vezes as acções não tenham a ver com o trabalho dessa pessoa. Tudo fica em perspectiva a partir de certo momento. Ainda há pouco tempo andei viciado num comediante do YouTube porque achava piada sim, mas porque ele me parecia ser uma pessoa igual a qualquer outra. Podia ser eu, podia ser o vizinho. Um tipo que só fazia vídeos porque gostava de fazer vídeos. Mas que agora faz vídeos porque é um negócio, não mantém a mesma linha de qualidade nos seus conteúdos e age como se fosse uma superestrela deslocando-se em limusines com tipas com ar de prostitutas lá dentro. Por muito que o seu trabalho até aí tenha sido bom, tudo muda, porque a minha perspectiva muda. Eu sei que ninguém é perfeito. Mas há coisas com as quais não consigo compactuar.
Enfim. Eu sinceramente gosto quando saio com pessoas que são divertidas, sinceras e verdadeiras. Mas as pessoas são cada vez menos assim.
Fica o amor pelas coisas belas que no fim deste texto me voltam a parecer meritórias do meu esforço.
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